quinta-feira, 7 de abril de 2022

MAIS SOBRE O SALSEIRO DA TERCEIRA VIA E O GOVERNO IMPOLUTO DO CAPITÃO (PARTE II)



A filiação de Sergio Moro ao União Brasil não agradou à ala comandada pelo neto de "Toninho Malvadeza", que liderou um movimento por sua impugnação. ACM Neto afirmava que o ex-juiz combinou com o partido que concorreria a deputado estadual, federal e, "eventualmente", senador, mas nem bem assinou a ficha de filiação e já disse que não desistiu de nada e que não descartava disputar a Presidência. Descartou. Ou foi descartado, tanto faz. Se nada mudar, ele não concorrerá.

Eduardo Leite, mesmo derrotado nas prévias tucanas, continua tentando desbancar João Doria. O presidente nacional do PSDB deve se reunir esta semana com os presidentes do MDBUnião Brasil e Cidadania para dar início às negociações pelo nome da terceira via.

Na análise de Bolsonaro, o recuo de seu ex-ministro da Justiça não tem volta, e os novos correligionários de Moro reforçam essa percepção. O mandatário acha que herdará a maioria dos 8% de votos que o Datafolha ao ex-juiz, e que a possibilidade de surgir um candidato alternativo capaz de retirá-lo do segundo turno “é zero”. Compartilham dessa opinião o filho Flávio Rachadinha, coordenado da campanha do pai à reeleição, bem como Valdemar Costa Neto, dono do PL, e Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil. Tutti buona gente.

Melhor faria o capitão se olhasse para a própria cozinha. Ao confirmar em depoimento à PF que foi a pedido do presidente que as portas do MEC se abriram para pastores que trocavam verbas por propinas, o ex-ministro Milton Ribeiro reforçou uma obviedade: o único órgão que funciona em Brasília é o Departamento de Blindagem de Bolsonaro

O inquérito só daria frutos se os investigadores fizessem duas perguntas a si mesmos: 1) Por que Augusto Aras excluiu Bolsonaro do rol de suspeitos? 2) Para que serve a moralidade que o presidente da República e o ex-ministro da Educação dizem cultuar?

Na versão contada por Milton Ribeiro à polícia, Bolsonaro pediu que o pastor Gilmar Santos, parceiro de traficâncias do irmão Arilton Moura, fosse recebido, mas jamais perguntou sobre o resultado da visita. Os dois papa-dízimos estiveram quatro vezes com o próprio presidente e participaram de inúmeras reuniões do então ministro com prefeitos. Mas Ribeiro jura que os pastores não dispunham de "tratamento privilegiado" no MEC

Prefeitos relataram que os pastores pediam dinheiro e ouro em troca de acesso aos cofres do MEC, mas o então ministro — que também é pastor evangélico — disse que “não tinha conhecimento” do pastoreio dos irmãos, e que se considera um cristão honesto.

Bolsonaro não se cansa de dizer que preside um governo sem corrupção (pausa para as gargalhadas). Qualquer um pode prestar testemunho sobre o conceito extraordinário que faz de si mesmo. O diabo é que, abstraindo-se os autoelogios, o que sobra são os fatos. E os fatos transformam a moralidade presumida de pessoas como Ribeiro e Bolsonaro numa inutilidade que ajuda a entender como o Brasil virou uma cleptocracia comandada por almas presunçosas.

Ao determinar a abertura do inquérito sobre o MEC, a ministra Cármen Lúcia deu prazo para o PGR refletir sobre a inclusão de Bolsonaro na fogueira. Os fatos intimam Aras a procurar. O depoimento do ministro-pastor manteve as labaredas do escândalo na cara do presidente, mas o procurador-vassalo costuma colocar as conveniências do presidente-suserano acima dos fatos.

Com Josias de Souza.