domingo, 17 de abril de 2022

UMA PRECE PELA TERCEIRA VIA


 

Segundo a última pesquisa Quaest, a desistência de Sérgio Moro implodiu a terceira via. Somados, os pré-candidatos "alternativos" tinham 12% dos votos; agora, têm 5%. Ciro Gomes tinha 7%; agora tem 6%. Em contrapartida, Bolsonaro pulou de 26% para 31%, e Lula passou de 44% para 45%. Palmas para o eleitorado tupiniquim. Com a implosão da terceira via, os defensores do capetão podem concentrar seus ataques nos sectários do ex-presidiário, e o Brasil deve sair das urnas ainda pior do que já está.


Ao longo dos últimos meses, os bolsonaristas promoveram ataques contra Moro e a Lava-Jato, talvez por terem percebido que o ex-juiz era o único candidato capaz de interceptar o eleitorado do “mito”. A arapuca montada por Luciano Bivar e ACM Neto para tirá-lo do páreo filiando-o à União Brasil acabou por liquidar o Centro Democrático que supostamente se propunha a criar. Com esses números, diz Diogo Mainardi, o tal Centro Democrático já pode se candidatar como o novo Centrão bolsonarista


Observação: O UB rejeita a candidatura de Moro porque seus membros querem aderir ao lulismo ou ao bolsonarismo. O líder do partido, Elmar Nascimento, disse a Merval Pereira: “Moro não serve para a gente; não tem estado nenhum que o queira, dos 51 deputados, só três o apoiam. Sendo assim, é melhor a gente ter uma candidatura raiz. Se o Moro fosse um fenômeno eleitoral, fosse o favorito, está bem, vamos lá. Mas não é isso. A turma está querendo a sobrevivência política”. A terceira via não foi minada por Lula nem por Bolsonaro, mas por seus próprios integrantes.


Até o momento, a senadora Simone Tebet é a favorita para liderar o Centro Democrático. Depois de sacrificar Moro, que tinha 9% dos votos na penúltima pesquisa do Ipespe, o bloco centrista cogita apresentar o nome da senadora, que teve 2% na pesquisa divulgada na última quarta-feira (sem Moro). UB, MDB, PSDB e Cidadania prometem anunciar o nome do “candidato único” em 18 de maio, mas, a menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, Bolsolula já ganhou.


O maior adversário de Simone é o próprio MDB. Fugindo do "suicídio", os coronéis da legenda preparam a execução da candidatura da correligionária. Esperam que a parlamentar não sobreviva ao congestionamento das candidaturas de terceira via. Se ela sobreviver, tentarão eliminá-la na convenção do partido, se falharem, cuidarão da própria vida. Vão ignorar Tebet, acertando-se com Lula nos seus estados (a velha guarda nordestina do MDB calcula que pelo menos 14 dos 27 diretórios do partido desejam fechar com o petralha, entre eles pelo menos sete dos nove do Nordeste). 


Antes do jantar na casa de Eunício Oliveira, Lula visitou Sarney e ouviu do macróbio a previsão de que o MDB não aprovará a candidatura de Simone na convenção. Como há diretórios bolsonaristas na legenda, o abantesma maranhense estima que o partido deve optar por liberar os estados. A prioridade dos coronéis é eleger grandes bancadas na Câmara e no Senado, equipando-se para disputar poder com o Centrão.


Moro avalia a possibilidade de disputar uma vaga na Câmara como uma derrota para quem mirava o Palácio do Planalto, mas a filiação ao Podemos não deu os frutos esperados e a mudança de partido foi a pá de cal. Na política, ensina Claudio Dantas, não se pode ter ilusões; afinal, como ser candidato antissistema quando se precisa do sistema para ser candidato?