Descontente com a impacto do aumento no preços dos combustíveis em seu projeto eleitoreiro, Bolsonaro, rápido como um coelho, trocou — mais uma vez — o presidente da Petrobras. Saiu José Coelho, que visitou o cargo por 40 dias, e entrou Caio Paes de Andrade, que nele permanecerá só Deus sabe até quando.
Se os preços vão cair (sem trocadilho) é outra história. Mas quatro trocas de comando em três anos e meio de governo passam uma indesejável sensação de insegurança, como evidenciou a cotação das ações da petrolífera depois que a substituição foi anunciada.
O ritual truculento adotado pelo Planalto para se livrar de dirigentes da Petrobras criou no comando da maior companhia do país uma atmosfera de churrasco na laje.
Depois de assar três presidentes da empresa, Bolsonaro dedica-se a carbonizar a própria empresa. Indica o quarto comandante no intervalo de um ano e três meses, com o objetivo nitidamente eleitoreiro de empurrar novos reajustes dos combustíveis para depois das eleições (qualquer semelhança com Dilma, a inolvidável, não é mera coincidência).
Nesse penúltimo lance, o rodízio do capetão tem Paulo Guedes no papel de auxiliar de churrasqueiro. Com a mão esquerda, o ministro maneja o espeto, e com a direita, joga no braseiro sua cartilha liberal.
De acordo com a Lei das Estatais, o presidente da Petrobras precisaria ter alguma afinidade com o setor energético. Formado em comunicação social, o mais novo indicado é o especialista em TI que, na equipe do “Posto Ipiranga”, chefiava a Secretaria de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Nada a ver, portanto, com petróleo e derivados.
Reformulado para evitar a repetição do controle de preços nos moldes do que foi adotado no apagar das luzes do ruinoso governo petista, o estatuto da Petrobras prevê que, se o governo decidir “fazer política social” com os combustíveis, terá de reembolsar eventuais prejuízos.
Após classificar o lucro da petrolífera como “estupro”, Bolsonaro, com a cumplicidade de Guedes, está a um passo de violar as regras de governança da empresa. E sem levar à vitrine um debate sério sobre a política de reajustes do preço dos combustíveis no mercado interno segundo a variação da cotação do petróleo no mercado internacional.
Bolsonaro prometeu acabar com a reeleição, mas é candidato desde 1º de janeiro de 2019. Embora tenha sido eleito para ser solução, tornou-se parte do problema. Diz que sua Presidência é uma missão divina e que só Deus pode tirá-lo do trono. Só não informa desde quando passou a acreditar em Deus. Estranhamente, as pesquisas indicam que 30% dos eleitores tencionam desafiar a existência de Deus reelegendo um mandrião que usa a máquina do Estado como se fosse sua.
Bolsonaro já não separa o presidente do candidato. O número da viagens que fez nos primeiros meses deste ano eleitoral de 2022 dobrou na comparação com o mesmo período do ano passado. Desde janeiro, foram mais de 40 dias transformando atos administrativos em comícios, ornamentando seu álbum de viagens com imagens de passeios a cavalo, no lombo de um jegue e em cima de motocicletas, quando não participando de cultos religiosos.
Certas atitudes do presidente não ornam com o espírito cristão, mas não se deve duvidar de sua conversão. Para quem já aceitou o Centrão, a metafísica não parece uma adesão tão radical, embora deixe Deus em má situação e sonegue aos contribuintes — que pagam os salários e as mordomias do chefe do Executivo — até a mais trivial das contrapartidas: quatro horas e meia por dia, em média, de expediente presidencial.
Com Josias de Souza