sexta-feira, 29 de julho de 2022

A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE VIII)

TODA GRANDE CONQUISTA EXIGE TEMPO.

O Espaço Sideral não é um vácuo absoluto, mas um mar de partículas que surgem e desaparecem constantemente. Os buracos negros aumentam de tamanho à medida que devoram esse material, mas perdem mais massa do que ganham ao longo do tempo e tendem a evaporar, encolher, e finalmente desaparecer

Como esse processo demora “uma eternidade” (a propósito, a idade do Universo é estimada em 14 bilhões de anos), se ainda não usamos buracos de minhoca para reduzir a distância astronômica (literalmente) entre dois pontos no espaço-tempo e viajar de um para o outro em questão de minutos, não é por falta de tempo (sem trocadilho).

Para situar quem não leu os capítulos anteriores desta sequência, vale lembrar que buracos de minhoca, fendas no tempo e portais entre universos paralelos parecem ficção científica, mas são tidos e havidos como fenômenos reais por astrofísicos renomados. 

Buracos de minhoca surgem no interior dos buracos negros porque matéria e a energia distorcem o "tecido" do espaço-tempo mais ou menos da mesma forma uma folha de papel é dobrada ao meio, e dois pontos distantes 30 cm um do outro com a folha aberta ficam “encostados” quando o papel é dobrado, podendo ser interligados por um simples grampo ou alfinete.

Astrônomos já registraram imagens de buracos negros no Espaço. No mês passado, um buraco negro supermassivo oculto por trás de uma nuvem de poeira cósmica na galáxia Messier 77, a 46,9 milhões de anos-luz da Terra, foi descoberto por pesquisadores com o auxílio do VLT (sigla para “Telescópio Muito Grande”) no Observatório Europeu do Sul. Já os buracos de minhoca não foram vistos nem fotografados, mas sua existência é tida como ponto pacífico pelos astrofísicos. Em tese, eles podem encurtar a distância entre dois pontos distantes milhões de anos luz um do outro, reduzindo o tempo de viagem de um ponto a outro a alguns minutos (como no exemplo da folha de papel).

A questão é que uma quantidade incomensurável de energia é necessária para manter esses “atalhos” estáveis e, segundo a Conjectura de Proteção Cronológica, proposta por Stephen Hawking, as leis da Física “conspiram” para impedir viagens pelo espaço-tempo em escala macroscópica. Assim, o que é possível em tese nem sempre é viável na prática. Viajando à velocidade da luz, pode-se ir da Terra à Lua em pouco mais de 1 segundo, mas o problema é que a tecnologia de que dispomos não permite a construção de um veículo capaz de viajar a 300 mil km/s.

Os tais “atalhos” no espaço-tempo foram batizados como wormholes (buracos de verme, numa tradução literal) porque a cydia pomonella, também chamada de “bicho de maçã”, chega mais depressa ao lado oposto da fruta cavando um buraco em linha reta do que contornando a superfície, talvez porque, como nós, ela aprendeu na escola que a distância mais curta entre dois pontos é um segmento de reta. Mas parece que não a avisaram (e nem a nós) que essa regra só vale para espaços planos

Os “buracos de minhoca” se tornaram a solução de um problema que havia muito afligia os cientistas, inclusive o próprio Einstein (ele achava inicialmente que, se os buracos negros existissem realmente para além do âmbito das equações matemáticas, as probabilidades de encontrá-los seria ínfima). Hoje, não só sabemos que eles existem como foram observados com o auxílio de telescópios poderosos, e até fotografados (mais detalhes na postagem anterior).

Einstein concebeu uma nova teoria segundo a qual buracos negros se formam quando estrelas entram em colapso, e que no centro do buraco negro está a “singularidade” (termo que, no jargão da astrofísica designa o ponto no qual toda a matéria se comprime a um tamanho zero, mas de densidade infinita). Mais adiante, Roger Penrose (um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Física em 2020) concluiu que existem certos pontos — ou condições do espaço-tempo — onde as leis da Física, supostamente universais, não se aplicam.

As equações de Penrose ajudaram a confirmar a existência dos buracos negros previstos por Einstein no início do século passado, mas muitos físicos ainda relutam em aceitar a existência de singularidades, pois elas pressupõem massa, atração gravitacional, temperatura, pressão e outras quantidades físicas em níveis infinitos. E qualquer equação matemática com “infinitos” deixa de fazer sentido, o que contraria flagrantemente as teorias da Física.

Continua...