TODA GRANDE CONQUISTA EXIGE TEMPO.
O Espaço Sideral não é um vácuo absoluto, mas um mar de partículas que surgem e desaparecem constantemente. Os buracos negros aumentam de tamanho à medida que devoram esse material, mas perdem mais massa do que ganham ao longo do tempo e tendem a evaporar, encolher, e finalmente desaparecer.
Como esse processo demora “uma
eternidade” (a propósito, a
idade do Universo é estimada em 14 bilhões de anos), se ainda não
usamos buracos de minhoca para reduzir a distância astronômica
(literalmente) entre dois pontos no espaço-tempo e viajar de um para o outro em
questão de minutos, não é por falta de tempo (sem trocadilho).
Para situar quem não leu os capítulos anteriores desta sequência, vale lembrar que buracos de minhoca, fendas no tempo e portais entre universos paralelos parecem ficção científica, mas são tidos e havidos como fenômenos reais por astrofísicos renomados.
Buracos de minhoca surgem no interior dos buracos negros porque matéria e a energia distorcem o "tecido" do espaço-tempo mais ou menos da mesma forma uma folha de papel é dobrada ao meio, e dois pontos distantes 30 cm um do outro com a folha aberta ficam “encostados” quando o papel é dobrado, podendo ser interligados por um simples grampo ou alfinete.
Astrônomos já registraram imagens de buracos negros no
Espaço. No mês passado, um buraco negro supermassivo oculto por trás de uma
nuvem de poeira cósmica na galáxia Messier 77, a 46,9 milhões de
anos-luz da Terra, foi
descoberto por pesquisadores com o auxílio do VLT (sigla para
“Telescópio Muito Grande”) no Observatório Europeu do Sul. Já os buracos de
minhoca não foram vistos nem fotografados, mas sua existência é tida como
ponto pacífico pelos astrofísicos. Em tese, eles podem encurtar a distância
entre dois pontos distantes milhões de anos luz um do outro, reduzindo o tempo
de viagem de um ponto a outro a alguns minutos (como no exemplo da folha de
papel).
A questão é que uma quantidade incomensurável de
energia é necessária para manter esses “atalhos” estáveis e, segundo a Conjectura
de Proteção Cronológica, proposta por Stephen Hawking, as
leis da Física “conspiram” para impedir viagens pelo espaço-tempo em escala
macroscópica. Assim, o que é possível em tese nem sempre é viável na prática.
Viajando à velocidade da luz, pode-se ir da Terra à Lua em pouco mais de 1
segundo, mas o problema é que a tecnologia de que dispomos não permite a construção de
um veículo capaz de viajar a 300 mil km/s.
Os tais “atalhos” no espaço-tempo foram batizados como wormholes (buracos de verme, numa tradução literal) porque a “cydia pomonella”, também chamada de “bicho de maçã”, chega mais depressa ao lado oposto da fruta cavando um buraco em linha reta do que contornando a superfície, talvez porque, como nós, ela aprendeu na escola que a distância mais curta entre dois pontos é um segmento de reta. Mas parece que não a avisaram (e nem a nós) que essa regra só vale para espaços planos.
Os “buracos de minhoca” se tornaram a
solução de um problema que havia muito afligia os cientistas, inclusive o
próprio Einstein (ele achava inicialmente que, se os buracos negros existissem realmente para além do âmbito das equações matemáticas, as probabilidades de encontrá-los
seria ínfima). Hoje, não só sabemos que eles existem como foram observados com o auxílio de telescópios poderosos, e até fotografados (mais detalhes na postagem anterior).
Einstein concebeu uma nova teoria segundo a qual
buracos negros se formam quando estrelas entram em colapso, e que no
centro do buraco negro está a “singularidade”
(termo que, no jargão da astrofísica designa o ponto no qual toda a matéria se
comprime a um tamanho zero, mas de densidade infinita). Mais
adiante, Roger Penrose (um dos ganhadores do Prêmio
Nobel da Física em 2020) concluiu que existem certos pontos — ou condições
do espaço-tempo — onde as leis da Física, supostamente universais, não se
aplicam.