Há pessoas com quem nos encantamos à primeira vista e nos decepcionamos mais adiante; pessoas com quem antipatizamos, mas passamos a apreciar quando as conhecemos melhor; e pessoas com quem "nosso santo não cruza nem com reza brava". Há ainda uma seleta confraria que reúne proselitistas, demagogos, demiurgos de fancaria, políticos, vigaristas e outros que tais. E a dupla que estrela a tragicomédia da sucessão presidencial faz parte desse grupo.
Depois que Doria, Leite, Mandetta, Moro, Pacheco e Vieira desistiram (ou foram forçados a desistir) de suas candidaturas, a tão sonhada "terceira via" se resumiu a Ciro e Simone. A possibilidade de Bivar, Eymael, D´Ávila, Janones, Manzano, Marçal, Péricles ou Vera Lucia sobreviverem ao primeiro turno é tão remota quanto a deste que vos escreve ser ungido papa. Se eles são candidatos, isso se deve a uma idiossincrasia que foi descrita, nos anos 1970, tanto por Pelé, o eterno rei do futebol, quanto pelo ex-presidente-general João Figueiredo.
Políticos que ascendem a cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se estão lá, é porque o povo os elegeu. A questão é que, por motivos que dispensam maiores explicações, nosso eleitorado é composto majoritariamente por pessoas incapazes de eleger um mero síndico de prédio (com o devido respeito aos síndicos, naturalmente), e a minoria esclarecida não tem em quem votar, já que as alternativas são de uma mediocridade a toda prova. Assim, supondo que Bolsonaro não mele as eleições, teremos outro pleito plebiscitário e seremos obrigados, mais uma vez, a tapar o nariz e apoiar quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda.
Do alto de sua imensa sabedoria, Bolsonaro qualificou as próximas eleições como "uma guerra do bem contra o mal" (escusado dizer qual lado o sociopata acha que representa). Em contrapartida, escândalos como o mensalão, o petrolão — entre outras atrocidades — desautorizam o ex-presidiário que lidera as pesquisas a assumir o papel do "bem" nessa tragicomédia — que será, isso sim, uma disputa entre o ruim e o pior.
Vale acrescentar que Lula — em quem eu jamais votei — me enganou pelo menos três vezes. A primeira foi quando eu achei que ele jamais seria eleito presidente; a segunda foi quando eu achei que ele jamais seria preso; e a terceira foi quando eu acreditei que ele passaria alguns anos no xilindró, esquecendo-me que 7 dos 11 ministros do STF ganharam dele ou de sua abjeta sucessora a toga que lhes recobre os ombros (e depois Moro é que era "parcial"!). Já Bolsonaro me enganou uma vez só, não com seu estelionato eleitoral, mas porque eu jamais imaginei que sua gestão seria tão nefasta.
Ciro e Simone são tudo que nos resta. Ambos tiveram a candidatura oficializada, mas nenhum deles ameaça o protagonismo de nhô-ruim e nhô-pior. A menos que ocorra uma formidável reviravolta, o sobralense de Pindamonhangaba amargará a quarta derrota e a senadora emedebista, a primeira, até porque ela não conta sequer com o apoio de seu partido. O fato de ela ser mulher pode ser um trunfo, pois o eleitorado feminino não é exatamente fã do capetão — e nem do capiroto, noves fora no nordeste e, mesmo assim, nas classes F e G. Por outro lado, a única mulher que ocupou a Presidência nos 132 anos de história republicana desta banânia não deixou saudades.
Ciro foi sabatinado por um pool de jornalistas da Globo News na última quarta-feira (recomendo assistir a entrevista de cabo a rabo). Como quem não tem cão caça com gato, ele me parece ser o melhor candidato, já que Bolsonaro precisa ser contido e, como o próprio Ciro reconheceu, "não há caminho para apoiar Lula no segundo turno"(isso se houver segundo turno). Ainda que eu tenha minhas ressalvas, ele foi o único candidato (até agora) a apresentar um projeto de governo como manda o figurino.
Os queridinhos do eleitorado não foram além das parlapatices de praxe, que só encantam os convertidos. Lula pretende recriar ministérios, mudar os preços da Petrobras e retomar o Bolsa Família — como bem definiu Geraldo Alckmin antes se se tornar seu mais novo amigo de infância, Lula é o criminoso que quer voltar à cena do crime (e Bolsonaro é o que nela quer permanecer por motivos torpes, mas isso o picolé de chuchu não falou). Tão revoltante quanto aturar o petralha posando de inocente é ver o "mito" da escumalha defender o que ele entende por "democracia" — algo que julgávamos página infeliz virada da nossa História, com a licença do poeta.
Diante da evidência de que Bolsonaro pretende melar as eleições ou, no mínimo, contestar o resultado em caso de derrota, figuras preeminentes de vários espectros da sociedade civil cunharam e subscreveram um manifesto em que palavras gastas de repúdio deram lugar a um aviso de que o desmonte do Estado Democrático de Direito não será tolerado. O ex-decano do STF, Celso de Mello, foi escolhido porta-voz do libelo contra o autoritarismo.
Diogo Mainardi escreveu no Antagonista que só uma quartelada bolsonarista pode mudar o quadro, e que, nesse caso, o dever de Ciro — e de todos nós — é enfiar imediatamente o aspirante a tiranete na cadeia. Resta saber como Ciro Nogueira, Arthur Lira e outros caciques do Centrão — antes equiparado a um bando de ladrões nas paródias musicais do general Augusto Heleno — farão para pular da canoa furada para o bote de Lula caso a desgraça se confirme e o petralha volte ao Planalto. Lira, o “dono da pauta” do Brasil, não hesitou em vestir a camisa de Bolsonaro quando deveria vestir a de presidente da Câmara e dizer um “não” republicano às ameaças de seu parceiro, de solapar o processo eleitoral.
Também integra esse execrável elenco de anões moralmente deformados um procurador-geral-vassalo, que sai de férias esperando que, durante sua ausência, seus subordinados mandem para o arquivo os pedidos de investigação contra o presidente-suserano. Como bem pontuou Vera Magalhães em sua coluna em O Globo, Bolsonaro deixou claro o que pretende fazer. Nogueira, Lira e Aras dobraram a aposta e ficaram no barco. Os democratas estão em terra, dizendo que resistirão aos corsários. O papel de cada um no registro do nosso tempo também já está consignado.
Triste Brasil!
Depois que Doria, Leite, Mandetta, Moro, Pacheco e Vieira desistiram (ou foram forçados a desistir) de suas candidaturas, a tão sonhada "terceira via" se resumiu a Ciro e Simone. A possibilidade de Bivar, Eymael, D´Ávila, Janones, Manzano, Marçal, Péricles ou Vera Lucia sobreviverem ao primeiro turno é tão remota quanto a deste que vos escreve ser ungido papa. Se eles são candidatos, isso se deve a uma idiossincrasia que foi descrita, nos anos 1970, tanto por Pelé, o eterno rei do futebol, quanto pelo ex-presidente-general João Figueiredo.
Políticos que ascendem a cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se estão lá, é porque o povo os elegeu. A questão é que, por motivos que dispensam maiores explicações, nosso eleitorado é composto majoritariamente por pessoas incapazes de eleger um mero síndico de prédio (com o devido respeito aos síndicos, naturalmente), e a minoria esclarecida não tem em quem votar, já que as alternativas são de uma mediocridade a toda prova. Assim, supondo que Bolsonaro não mele as eleições, teremos outro pleito plebiscitário e seremos obrigados, mais uma vez, a tapar o nariz e apoiar quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda.
Do alto de sua imensa sabedoria, Bolsonaro qualificou as próximas eleições como "uma guerra do bem contra o mal" (escusado dizer qual lado o sociopata acha que representa). Em contrapartida, escândalos como o mensalão, o petrolão — entre outras atrocidades — desautorizam o ex-presidiário que lidera as pesquisas a assumir o papel do "bem" nessa tragicomédia — que será, isso sim, uma disputa entre o ruim e o pior.
Vale acrescentar que Lula — em quem eu jamais votei — me enganou pelo menos três vezes. A primeira foi quando eu achei que ele jamais seria eleito presidente; a segunda foi quando eu achei que ele jamais seria preso; e a terceira foi quando eu acreditei que ele passaria alguns anos no xilindró, esquecendo-me que 7 dos 11 ministros do STF ganharam dele ou de sua abjeta sucessora a toga que lhes recobre os ombros (e depois Moro é que era "parcial"!). Já Bolsonaro me enganou uma vez só, não com seu estelionato eleitoral, mas porque eu jamais imaginei que sua gestão seria tão nefasta.
Ciro e Simone são tudo que nos resta. Ambos tiveram a candidatura oficializada, mas nenhum deles ameaça o protagonismo de nhô-ruim e nhô-pior. A menos que ocorra uma formidável reviravolta, o sobralense de Pindamonhangaba amargará a quarta derrota e a senadora emedebista, a primeira, até porque ela não conta sequer com o apoio de seu partido. O fato de ela ser mulher pode ser um trunfo, pois o eleitorado feminino não é exatamente fã do capetão — e nem do capiroto, noves fora no nordeste e, mesmo assim, nas classes F e G. Por outro lado, a única mulher que ocupou a Presidência nos 132 anos de história republicana desta banânia não deixou saudades.
Ciro foi sabatinado por um pool de jornalistas da Globo News na última quarta-feira (recomendo assistir a entrevista de cabo a rabo). Como quem não tem cão caça com gato, ele me parece ser o melhor candidato, já que Bolsonaro precisa ser contido e, como o próprio Ciro reconheceu, "não há caminho para apoiar Lula no segundo turno"(isso se houver segundo turno). Ainda que eu tenha minhas ressalvas, ele foi o único candidato (até agora) a apresentar um projeto de governo como manda o figurino.
Os queridinhos do eleitorado não foram além das parlapatices de praxe, que só encantam os convertidos. Lula pretende recriar ministérios, mudar os preços da Petrobras e retomar o Bolsa Família — como bem definiu Geraldo Alckmin antes se se tornar seu mais novo amigo de infância, Lula é o criminoso que quer voltar à cena do crime (e Bolsonaro é o que nela quer permanecer por motivos torpes, mas isso o picolé de chuchu não falou). Tão revoltante quanto aturar o petralha posando de inocente é ver o "mito" da escumalha defender o que ele entende por "democracia" — algo que julgávamos página infeliz virada da nossa História, com a licença do poeta.
Diante da evidência de que Bolsonaro pretende melar as eleições ou, no mínimo, contestar o resultado em caso de derrota, figuras preeminentes de vários espectros da sociedade civil cunharam e subscreveram um manifesto em que palavras gastas de repúdio deram lugar a um aviso de que o desmonte do Estado Democrático de Direito não será tolerado. O ex-decano do STF, Celso de Mello, foi escolhido porta-voz do libelo contra o autoritarismo.
Diogo Mainardi escreveu no Antagonista que só uma quartelada bolsonarista pode mudar o quadro, e que, nesse caso, o dever de Ciro — e de todos nós — é enfiar imediatamente o aspirante a tiranete na cadeia. Resta saber como Ciro Nogueira, Arthur Lira e outros caciques do Centrão — antes equiparado a um bando de ladrões nas paródias musicais do general Augusto Heleno — farão para pular da canoa furada para o bote de Lula caso a desgraça se confirme e o petralha volte ao Planalto. Lira, o “dono da pauta” do Brasil, não hesitou em vestir a camisa de Bolsonaro quando deveria vestir a de presidente da Câmara e dizer um “não” republicano às ameaças de seu parceiro, de solapar o processo eleitoral.
Também integra esse execrável elenco de anões moralmente deformados um procurador-geral-vassalo, que sai de férias esperando que, durante sua ausência, seus subordinados mandem para o arquivo os pedidos de investigação contra o presidente-suserano. Como bem pontuou Vera Magalhães em sua coluna em O Globo, Bolsonaro deixou claro o que pretende fazer. Nogueira, Lira e Aras dobraram a aposta e ficaram no barco. Os democratas estão em terra, dizendo que resistirão aos corsários. O papel de cada um no registro do nosso tempo também já está consignado.
Triste Brasil!