domingo, 11 de setembro de 2022

SILÊNCIO ENSURDECEDOR

 


Na política, como na vida, a primeira regra dos buracos é singela: quando o sujeito cai dentro de um, precisa parar de cavar. Mas a insistência com que Bolsonaro manuseia a picareta exaspera seus conselheiros políticos, que passaram a adotar no assessoramento ao candidato a lógica singela do enchimento dos balões de festa infantil. O segredo está em descobrir o ponto exato que antecede o momento da ruptura, o instante em que um sopro a mais fará o balão explodir na cara de quem sopra.


Bolsonaro se faz de mouco para as advertências dos poucos aliados que não se limitam a lhe puxar o saco e aplaudir seus rompantes abilolados. A despeito do esforço dos marqueteiros, ele concentra seus esforços em forçar o TSE a cassar sua candidatura (para depois posar de vítima, dizendo que não o deixaram concorrer, ou então chutar o pau da barraca e convocar "seus exércitos").


Convencidos de que a irritação do candidato não rende votos fora do cercadinho, estrategistas da campanha o monitoram como se vigiassem um bebê. O que o "mito" comeu ontem? Será que ele dormiu bem? A caca de está dura ou mole? O Brasil precisa ser controlado para não irritar o presidente. Tudo o aborrece ou abate. A imprensa o aborrece. As pesquisas o abatem. E Moraes... Ah, o Moraes!


Ao misturar o Bicentenário da Independência com a campanha à reeleição, Bolsonaro se meteu num típico momento-balão-de-festa-infantil. Ele foi aconselhado a atravessar o 7 de Setembro sem respirar, mas deu de ombros para os indícios de que um sopro a mais pudesse levar o balão a explodir e chamou o presidente do TSE de "vagabundo" e insinuou que, se for reeleito, reverterá na marra decisões como a do ministro Edson Fachin, que restringiu o acesso a armas e munições. 

O desfile de Brasília virou parada eleitoral. No palanque oficial, aberrações como o "Velho da Havan" (que se encontra sob investigação policial) mereceram mais atenção do presidente que o chefe de Estado de Portugal. A ausência de membros do Legislativo e do Judiciário causou espécie, mas o clímax foi o "mito" dos apatetados baixar (ainda mais) o nível do patético mafuá puxando o coro de 'imbrochável'.


Observação: Bolsonaro vive em estado crônico de criminalidade. As autoridades dizem que as instituições estão funcionando, mas, se estivessem, o mandatário de fancaria não cometeria crimes ao vivo, em rede nacional. A grande dúvida hoje é: o que deveria fazer o TSE

Como não consegue elevar própria estatura, o presidente rebaixa o pé direito do Brasil. Cenas como essas degradam a imagem do país, que já vinha sendo visto no exterior como um pária orgulhoso. Depois que o sultão do bananistão transformou o palanque oficial num puxadinho do seu grande comício e se pôs a chamar a primeira-dama de princesa e se autoproclamar "imbrochável", esta banânia virou uma espécie de sucupira hipertrofiada.

"Enquanto cinco milhões de crianças vão dormir hoje com fome, ele vai para o 7 de Setembro, uma data histórica, 200 anos de independência, e não fala de um Brasil que precisa se unir, de um Brasil que precisa de família, de um Brasil que precisa gerar empregos para garantir dignidade para os nossos trabalhadores. Lamentável o personalismo e o populismo do nosso presidente da República", declarou a presidenciável Simone TebetNa avaliação de Ciro Gomes, "Bolsonaro transformou o 7 de Setembro dos 200 anos da independência no mais desavergonhado comício eleitoral já feito neste País"

Quem assistiu ao deplorável mafuá de 7 de setembro ficou com a impressão de que o Brasil não tem presidente. O presidente é que tem o Brasil. Quem vê a programação do Congresso recupera a ilusão de que é normal a anormalidade que vigora no país.

Triste Brasil.