quinta-feira, 10 de novembro de 2022

COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR

 

"Eu caminhava pela Avenida Paulista quando passei por um homem com a camisa da Seleção, assobiando a melodia 'eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor'", escreveu Felipe Machado em sua coluna na revista IstoÉ. "Confesso que me causou mais calafrios do que se tivesse ouvido a marcha fúnebre", acrescentou o colunista. "Primeiro, porque hoje temos pouquíssimas razões para ter orgulho do Brasil. Segundo, porque qualquer cidadão de bom senso que analisar o resultado do primeiro turno do pleito presidencial veria que metade dos brasileiros têm uma noção bastante peculiar do que significa a palavra ‘amor’".

Diziam que a pandemia transformaria o mundo. Que sairíamos seres humanos melhores da tragédia que matou 18 milhões de pessoas em apenas dois anos (687 mil no Brasil), de todas as raças, credos e classe sociais. Que a tragédia faria o planeta olhar para o que é realmente importante: cuidar dos necessitados, ter mais empatia, valorizar as relações humanas.

No Brasil aconteceu o contrário. Metade do país votou em um líder que fez pouco caso dos mortos. Nem Adolf Hitler fez piada com a morte de alemães. Mas Bolsonaro zombou dos brasileiros que morreram, não apenas imitando pessoas com falta de ar, mas também fazendo tudo que estava ao seu alcance para que a população não tivesse acesso às vacinas. 

Os “eleitores de bem” também concordam com o aumento de armas na sociedade, embora não pareça racional imaginar que o Brasil, que já tem índices de assassinatos semelhantes aos países em guerra civil, deva liberar o acesso a fuzis.

A verdade é que essa eleição nunca foi sobre corrupção, como alguns achavam. Até porque há provas de que o presidente lidera um esquema que extorque funcionários públicos há décadas. O bolsonarismo é uma questão de caráter nacional. Basta lembrar que Ricardo Salles, investigado por contrabando de madeira ilegal, teve três vezes mais votos que a ambientalista Marina Silva, que dedica a vida a defender a Amazônia. 

Nessa lavagem cerebral coletiva em que nos afundamos, parece que temos cada vez mais orgulho do nosso ódio.

P.S. No último domingo, o ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno, disse a apoiadores que "esse negócio do Lula estar doente, não tá, infelizmente. Infelizmente é mentira". E completou: "Vamos torcer para que tenhamos um futuro melhor. Na mão do cachaceiro, não vai dar certo." Quanto amor!