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A xepa do ministro do Meio Ambiente na COP 27 expos ideias murchas e programas fora do prazo de validade, valorizando a quitanda de Lula, que levou à conferência promessas frescas e o compromisso de desfazer tudo que o ainda presidente fez para estragar o ambiente inteiro. Joaquim Leite discursou para duas dezenas de gatos pingados num pavilhão oficial entregue às moscas. Antes mesmo de abrir a boca em público, o pajé do PT se reuniu separadamente com representantes dos Estados Unidos e da China.
O envio do ministro foi mais um desperdício de dinheiro público. Ninguém queria vê-lo expressando seu vazio com palavras. Na parte mais ruidosa do discurso, ele criticou quem foi defender a redução de emissão de gases no Egito a bordo de jatinhos poluentes. Poderia ter dado sua canelada em Lula por viajar num jato de empresário companheiro com um tuíte. Teria maior efeito e não custaria um centavo ao Erário.
O discurso daquele que conquistou o terceiro mandato e está prestes a ser canonizado em vida produziu aplausos no Egito e otimismo ao redor do mundo. A boa reação internacional serviu para realçar que parte da sociedade tupiniquim se habituou a conviver com o horror. Pior: 58 milhões de brasileiros queriam conceder ao mais quatro anos de mandato ao pior mandatário eleito desde a redemocratização deste banânia. Mas Lula precisa se conscientizar que os elementos que o levaram até o sucesso não são os mesmos que o manterão lá.
Virar a página do negacionismo de Bolsonaro é fácil e indispensável. Difícil será transformar a saliva derramada no Egito em pirâmides. Além de demonstrar na prática que a preservação ambiental não é conflitante com o combate à miséria e à fome, o presidente eleito terá de desmontar o crime organizado, que cresceu nos últimos quatro anos junto com o estado esculhambado da atual gestão. Suas falas vêm encantando o mundo — como são maravilhosas as pessoas que a gente não conhece bem —, mas preocupando o mercado financeiro.
"O que é o teto de gastos no país? Você tenta desmontar tudo aquilo que é do social, mas não mexe um centavo do sistema financeiro. Não mexe um centavo daqueles juros que os banqueiros têm de receber. Ah, mas se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência", disse Lula no Egito, no dia seguinte à entrega ao Senado da minuta da PEC da Transição.
Observação: Por alguma razão, essa fala me fez lembrar dos célebres "e dai?", "não sou coveiro", "quer que eu faça o quê?", que o ainda presidente declamou, num arroubo de empatia e sensibilidade, sobre as mortes causadas pela "gripezinha".
O discurso do presidente três vezes eleito fede a radicalização e sugere um governo mais próximo do que foi o de Dilma. Ao se arriscar a jogar o mercado, o reconhecido estrategista dotado de grande tirocínio e preocupado em pacificar o país e reinseri-lo no mundo contribui para a deterioração nos preços dos ativos e o aumento da taxa de juros, além de dar margem à interpretação de que guarda um lado oculto que ameaça tragá-lo para sua adolescência política.
A despeito da vitória apertada, Lula vive sua lua-de-mel com o Congresso. Mas sua fala não só é hipócrita como prejudica a credibilidade fiscal do país. Quem vai ser prejudicado com a alta do dólar e, por conseguinte, pela alta da inflação é justamente a população mais pobre — que Lula jura defender —, e não ele ou seus amigos bilionários.
Triste Brasil.