A derrota de Bolsonaro foi um alívio. O mal que sua passagem pelo Planalto causou ao país foi inominável e o comportamento de seus acólitos extremistas, execrável. Mas nem tudo são flores.
Depois de ir ao Egito de carona com o fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde, o presidente eleito — que sequer tomou posse — viajou de São Paulo a Brasília num jatinho da empresa Millennium Locadora, que já figurou em confusões envolvendo os governadores do Amazonas Amazonino Mendes e Wilson Lima. É preocupante ver o futuro mandatário repetindo "erros" cometidos no passado e a cambada que apoiou sua volta, disputando a tapa uma boquinha na futura administração.
Em 2018, o "mito" dos atoleimados prometeu combater a corrupção e o toma-lá-dá-cá na política, mas não fez nem uma coisa nem outra. Seus apoiadores lobotomizados ecoam a falácia de que não houve uma única denúncia de corrupção durante a gestão de seu ídolo, mas são desmentidos pelos fatos.
A boa notícia é que falta menos de um mês par Bolsonaro ir com Deus paro diabo que o carregue. A má notícia é que Lula não terá os cem dias de tolerância que uma lei consuetudinária, mas respeitada na política, concede a toda nova gestão. Primeiro, porque o verdugo do Planalto se autoconverteu num caso raro de ex-presidente ainda no exercício da Presidência; segundo, porque, com o país acéfalo, o ex-presidiário descondenado e reconduzido ao Planalto teve de entrar em campo mais cedo e já preside sua primeira crise.
Do PL de Bolsonaro ao PT de Lula, todos se renderam ao charme de Arthur Lira. A dois meses da eleição interna, o presidente da Câmara já garantiu um segundo mandato com o apoio de ao menos 15 partidos e mais de 300 votos. Pelo menos, o pagador de impostos não será mais enganado. Essa é a verdadeira democracia brasileira, não a simulada durante a campanha eleitoral, quando os protagonistas do duelo nacional, com apoio de suas militâncias e das redes sociais, arrastaram o país para uma polarização teatral — polarização fabricada, mas que muitas vezes é levada a sério por parentes, amigos e colegas de trabalho, maconheiros ou patriotas.
Nosso guerreiro Alexandre de Moraes poderá, finalmente, descansar de sua épica batalha contra caminhoneiros, tias do zap e blogueiros golpistas. Lira é garantia de estabilidade institucional. Assim como engavetou mais de 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, prolongando a tragédia da pandemia, nosso Ulysses decaído garantiu um orçamento de guerra para amenizar a dor das famílias, e garantirá que o Brasil de Lula também não passe por turbulências, desde que o petista não mexa em seu butim. Nem ele nem ninguém, use toga ou não.
Para os fãs do futebol e da seleção canarinho, resta torcer pela vitória do escrete tupiniquim no jogo contra o time de Camarões. Afinal, o povo precisa de pão e circo. O pão está pela hora da morte, mas o circo vem sendo transmitido ao vivo pela rede Globo. Cerveja, picanha e salgadinhos são cobrados à parte.
Com Josias de Souza