Na transição do primeiro para o segundo turno da eleição presidencial, o petismo estendeu um tapete vermelho para Simone Tebet. Dizia-se nos bastidores que a candidata do MDB teria carta branca para escolher o ministério que desejasse numa futura gestão de Lula. Na transição de governo, o tapete foi puxado. Agora, o PT reivindica para um de seus filiados a pasta da predileção de Simone, o futuro Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família.
O PT queria acomodar na poltrona sua presidente nacional, mas Lula informou que prefere que Gleisi Hoffmann no comando do partido. Nos subterrâneos, os petistas alegam que o ministério seria trampolim para uma nova candidatura presidencial de Simone, e tenta empurrá-la para a pasta do Meio Ambiente. Ao mediar o conflito, Lula sinalizará até onde vai a generosidade insinuada na sua promessa de compor um governo que vá "além do PT".
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Valdemar Costa Neto entrou em processo de autocombustão ao se associar a Bolsonaro na contestação do resultado das urnas. A situação ficou ainda pior depois que o ministro Alexandre de Moraes multou a coligação bolsonarista em R$ 22,9 milhões, por litigância de má fé. PP e Republicanos argumentaram que o pajé do PL não tinha procuração para os meter nesse imbróglio, e o ministro Alexandre de Moraes acolheu seu recurso. Inflado pelos congressistas eleitos na aba de Bolsonaro, o PL se equipava para usufruir de um fundo partidário engordado pelas urnas, e agora terá de arcar sozinho com a multa milionária.
Sob os efeitos do torniquete financeiro imposto pelo presidente do TSE, o partido rachou: enquanto a banda bolsonarista ataca Moraes, o pedaço não alinhado com o capetão flerta com Lula e submete Valdemar a um intenso fogo amigo. O ex-presidiário do mensalão, que até semanas atrás era exaltado como um dos mais hábeis administradores dos negócios partidários, ora é tratado como um gestor temerário da caixa registradora que financia as atividades da legenda, e antigos parceiros se comportam como herdeiros da fúria canibal dos índios Caetés, que comeram o bispo Sardinha em 1556.
Em recurso protocolado no TSE, Valdemar tentou fazer uma pose de Chacrinha — eu não vim pra explicar, vim pra confundir —, mas não funcionou. Abelardo Barbosa criou o seu personagem para fazer graça. A imitação de Valdemar é um flerte antidemocrático com a desgraça. São dois os principais argumentos de Valdemar para tentar anular a mordida de R$ 22,9 milhões aplicada no fundo partidário do PL pelo ministro Alexandre de Moraes:
1) O pedido de anulação de 60% das urnas, exclusivamente, no segundo turno foi decorrência natural da "condição do partido de entidade fiscalizadora e contribuidora das eleições" — lorota; os partidos são livres para fazer tudo o que as leis permitem, mas golpismo e má-fé não estão no pacote.
2) O PL "jamais teve a intenção de causar qualquer tumulto ao processo eleitoral brasileiro" — faltou definir "tumulto": na véspera, ao sair de um jantar partidário estrelado por Bolsonaro, Valdemar foi abordado por um grupo de vivandeiras bolsonaristas, e um devoto do mito indagou: "Qual é a chance de nós ganhar [sic] essa aí lá no quartel?" E Valdemar: "Tem muita chance, lógico. O Bolsonaro não falou ainda, vai falar. Vamos ajudar vocês lá".
Ou seja: não basta manter a multa milionária aplicada pela Justiça Eleitoral à caixa registradora do PL. É preciso assegurar que a inclusão de Valdemar no processo sobre milícias digitais, que corre no STF, imponha a Valdemar consequências na esfera criminal.