quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

NEGACIONISMO, ESTUPIDEZ E HORA DE VOLTAR PRA CASA

 

Faltando um mês para o despresidente ir com Deus para o diabo que o carregue, questionar a vitória do ex-presidiário não tem mais cabimento (se é que algum dia teve), como tampouco faz sentido (se é que algum dia fez) participar de manifestações golpistas em porta de quartel. Mas o fato de o deputado federal Eduardo Bolsonaro (eleito por São Paulo, embora seja carioca da gema) ter sido flagrado em Doha (Catar) durante a partida entre o Brasil e a Suíça mostra que este arremedo de republiqueta de bananas está diante de um vírus novo, que desafia a imunologia democrática. 
 
Enquanto bolsonaristas inconformados continuam protestando, às vezes debaixo de chuva, integrantes da cúpula do bolsonarismo — como o bananinha e o ministro da Casa Civil — seguem bastante empenhados na "comunicação internacional". Flagrado torcendo pelo escrete canarinho na Copa do Mundo, zero três sinalizou aos patriotas de porta de quartel que está na hora de voltar para casa. O golpe já aconteceu. Numa evidência de que Deus está mesmo acima de todos, o terceiro filho do capetão achou que seria uma boa ideia trocar o expediente inóspito da Câmara dos Deputados pela euforia de uma arquibancada remunerada, mas fez um papel ridículo ao afirmar que foi até o Qatar para levar pen drives que "explicam a situação do Brasil" para o mundo. 
 
A crença bolsonarista numa virada de mesa iminente é apenas um conto do vigário em que os devotos do mito caíram. Já os brasileiros de bem, com os pés de barro afundando lentamente na lama, renegaram a Copa. A hora seria de luta, não de festa. E de repente o terceiro príncipe e sua princesa foram filmados no Qatar em pleno Brasil X Suíça, como se o casal real tocasse os clarins do golpe sob um telhado de vidro das arábias. 
 
Se fossemos levar zero três a sério, seria necessário que uma autoridade judiciária expedisse um mandado para aguardar seu desembarque no Brasil e prendê-lo em flagrante, porque ele está patrocinando uma conspiração internacional contra a democracia brasileira. O sujeito é ridículo, mas leva o sobrenome do pai e está expondo o país ao ridículo ao difundir uma mensagem golpista. A cena vale como um choque de realidade. O bolsonarismo odeia a realidade, mas a realidade é o único lugar onde os golpistas podem conseguir um teto de verdade e uma cama bem quentinha. Quando nada, zero três ajudou os adoradores do mito a entender que é hora de voltar para casa.
 
Com Josias de Souza