quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O MIMIMI E A TRANSIÇÃO

 

Desde 30 de outubro que Brasil tem dois presidentes e nenhum governante. O núcleo de poder foi transferido para a transição, enquanto a apatia tomou conta daqueles que estão para entregar o bastão e deixar o Planalto Central. 

Recluso desde a derrota, Bolsonaro chorou durante sua terceira aparição pública em solenidades ligadas às FFAA nos últimos 10 dias. Como nos eventos anteriores, ele permaneceu calado. Se tivesse chorado pelos que morreram de Covid, talvez seu destino fosse outro. 


Aliados têm manifestado preocupação com a forma como o ainda presidente recebeu a derrota e com os sinais de depressão que demonstrou nas poucas reuniões realizadas com correligionários desde então. Mas ele tem razão de estar apreensivo. Processos abertos contra o "mito" e seus filhos poderão seguir adiante a partir do mês que vem, ainda que "eminentes juristas" cujos ombros o dito-cujo cobriu com a suprema toga já demostraram como podem manobrar em casos de rachadinha


É natural que Bolsonaro explore o lado emocional: despertar a piedade de um bando de imbecis travestidos de militantes comandados por um imbecil travestido de presidente renderá a este último cerca de R$ 80 mil mensais a partir de janeiro. Como se vê, nesta banânia a mamata tem direito a prorrogação e pênaltis. 


A aposentadoria do ex-deputado federal Jair Bolsonaro foi publicada na edição da última sexta-feira do DOU por Arthur Lira — o manda-chuva do Centrão que foi eleito presidente da Câmara graças ao orçamento secreto e, em troca, blindou o abantesma do Planalto contra cerca de 150 pedidos de impeachment. 

Em resumo: A partir do mês que vem, Bolsonaro trocará os R$ 42.880,19 que vinha recebendo mensalmente (salário de presidente da República mais a aposentadoria de capitão reformado R$ 11.945,49 mensais) por cerca de R$ 80 mil — considerando os R$ 39 mil que passará a embolsar como presidente de honra do PL, além de escritório, assessores, motoristas e carros à disposição, e isso sem falar na verba vitalícia paga aos ex-presidentes para custear seus oito servidores (seis de apoio pessoal e dois motoristas), dois veículos oficiais e despesas como diárias de hotel, passagens de avião, combustível e seguros, tudo a expensas do contribuinte. Como se vê, ele não tem motivos para chorar.


Observação: De janeiro a outubro deste ano, os vice-presidentes ainda vivos nos custaram: Sarney, R$ 76.432,00; Collor, R$ 118.810,20; FHC, R$ 55.705,07; Lula, R$ 129.704,80; Dilma, R$ 117.886,70, e Temer, R$ 97.363,42.

É durante a transição que se reconhece a envergadura dos verdadeiros líderes. FHC não fez seu sucessor, mas realizou uma transição republicana para o governo petista que chegava. Michel Temer também organizou um processo transparente e amplo para seu sucessor. Já o inquilino de turno do Planalto ameaça quebrar o protocolo: mesmo sob a coordenação de equipes de transição em cada uma das pastas, ele emite sinais dúbios sobre a lisura de um pleito já encerrado e mantém sua récua de apoiadores acampados pelo país, esperando por um sinal que jamais chegará. 
 
O poder abomina o vácuo. A negação só causará mais para a população que Bolsonaro jurou defender quando assumiu a Presidência. É preciso aceitar o resultado e seguir adiante. Recuar no momento certo faz parte da estratégia política. Ao insistir em
 ignorar a derrota e se encastelar no Planalto, Bolsonaro antecipa a posse de Lula, que transita por Brasília como presidente de fato. 

Em outras palavras, a birra do derrotado mimado fortalece o vencedor.