Aliados têm manifestado preocupação com a forma como o ainda presidente recebeu a derrota e com os sinais de depressão que demonstrou nas poucas reuniões realizadas com correligionários desde então. Mas ele tem razão de estar apreensivo. Processos abertos contra o "mito" e seus filhos poderão seguir adiante a partir do mês que vem, ainda que "eminentes juristas" cujos ombros o dito-cujo cobriu com a suprema toga já demostraram como podem manobrar em casos de rachadinha.
É natural que Bolsonaro explore o lado emocional: despertar a piedade de um bando de imbecis travestidos de militantes comandados por um imbecil travestido de presidente renderá a este último cerca de R$ 80 mil mensais a partir de janeiro. Como se vê, nesta banânia a mamata tem direito a prorrogação e pênaltis.
A aposentadoria do ex-deputado federal Jair Bolsonaro foi publicada na edição da última sexta-feira do DOU por Arthur Lira — o manda-chuva do Centrão que foi eleito presidente da Câmara graças ao orçamento secreto e, em troca, blindou o abantesma do Planalto contra cerca de 150 pedidos de impeachment.
Em resumo: A partir do mês que vem, Bolsonaro trocará os R$ 42.880,19 que vinha recebendo mensalmente (salário de presidente da República mais a aposentadoria de capitão reformado R$ 11.945,49 mensais) por cerca de R$ 80 mil — considerando os R$ 39 mil que passará a embolsar como presidente de honra do PL, além de escritório, assessores, motoristas e carros à disposição, e isso sem falar na verba vitalícia paga aos ex-presidentes para custear seus oito servidores (seis de apoio pessoal e dois motoristas), dois veículos oficiais e despesas como diárias de hotel, passagens de avião, combustível e seguros, tudo a expensas do contribuinte. Como se vê, ele não tem motivos para chorar.
O poder abomina o vácuo. A negação só causará mais para a população que Bolsonaro jurou defender quando assumiu a Presidência. É preciso aceitar o resultado e seguir adiante. Recuar no momento certo faz parte da estratégia política. Ao insistir em ignorar a derrota e se encastelar no Planalto, Bolsonaro só antecipa a posse de Lula, que transita por Brasília como presidente de fato.