Em 1996, um meteorito marciano recolhido na Antártida parecia conter pequenos vestígios mineralizados em formato de minhoca — sugerindo que formas de vida teriam rastejado pela superfície do planeta há cerca de 4 bilhões de anos.
Em 2012, o pouso da sonda Curiosity deu início a um novo capítulo da exploração de Marte, com a busca sinais de habitabilidade passada, como água, compostos orgânicos e uma fonte de energia — ingredientes necessários à vida como a conhecemos. Encontrar evidências de água foi fácil; a sonda identificou quase imediatamente uma faixa de rochas que só poderia ser formada com a presença de água. Mas o restante não foi tão simples.
Ao longo dos anos, a Curiosity encontrou moléculas de elementos químicos essenciais a formas de vida à base de carbono, detectou sinais de atividade hidrotérmica antiga — em que o calor e compostos químicos misturados com água corrente poderiam ter criado possíveis fontes de energia — e identificou picos elevadíssimos e ocasionais de metano, confirmando observações inexplicáveis feitas na Terra havia mais de uma década. No entanto, nenhuma dessas observações foi associada até o momento a atividades biológicas, e existe a possibilidade de processos ainda pouco compreendidos serem confundidos com sinais de vida.
A observação mais incomum — e promissora — só foi divulgada recentemente. Em diversas amostras rochosas coletadas, foram encontrados compostos orgânicos com proporções incomuns de isótopos de carbono — ou átomos do mesmo elemento que contêm diferentes números de nêutrons em seus núcleos. Na Terra, os organismos preferem utilizar a forma mais leve de carbono em reações metabólicas ou fotossintéticas, resultando numa proporção em que a forma mais leve é muito mais abundante do que a mais pesada. Em cinco pontos da Cratera Gale foi encontrada exatamente a mesma proporção — semelhante à coletadas na formação Tumbiana, na Austrália — um afloramento de 2,7 bilhões de anos que contém sinais de carbono de antigos micróbios metabolizadores de metano.
Os resultados de isótopos de carbono esgotados são bastante intrigantes. Na Terra, esse processo só pode ser obtido por meio de atividade biológica, mas a hipótese de vida em Marte ainda está longe de ser confirmada. Para além da hipótese de que o sinal seja proveniente de micróbios antigos, existe a possibilidade de o Sistema Solar ter atravessado em algum momento uma nuvem de poeira interestelar com uma proporção atípica de isótopos de carbono, o que teria deixado vestígios em Marte. Outra explicação é que a interação da luz ultravioleta com o dióxido de carbono na atmosfera marciana tenha produzido essas características incomuns.
No ano passado, a sonda Perseverance encontrou rochas com uma camada roxa rica em ferro na Cratera Jezero. Trata-se de algo inusitado à luz do que já foi observado pelas sondas em Marte, ainda que rochas com diferentes camadas já haviam sido observadas em outras regiões do planeta. Na Terra, essas camadas geralmente são encontradas em desertos, onde se desenvolvem conglomerados de micróbios que se alimentam de rochas. Assim, os pesquisadores precisam avaliar rigorosamente se tal material foi produzido por formas de vida ou por outro processo, e essa pergunta é difícil de responder à distância.
Por mais inteligentes que sejam os instrumentos da sonda, é improvável que permitam conclusões definitivas. Mesmo por aqui, onde a vida microbiana existe há bilhões de anos, a evidência de suas primeiras formas fossilizadas é de difícil interpretação. Será preciso fazer um análise detalhada com instrumentes que somente os maiores laboratórios estão equipados para realizar. O projeto Mars Sample Return permitirá que os cientistas estudem o ambiente passado e presente de Marte em nível de detalhes, de modo a confirmar se o planeta realmente abrigou vida em algum momento.
Observação: Trazer amostras de rochas marcianas para a Terra é um sonho que remonta aos anos 1960, com o programa Mariner. A Perseverance está armazenando em tubos de metal uma porção de amostras geológicas. A ideia é enviar uma segunda missão para transportar esse material até a órbita marciana e, em seguida, uma terceira para trazê-lo para a Terra.