Tivemos apenas duas trocas de comando da oposição para a situação desde a redemocratização: de Fernando Henrique para Lula em 2003 e de Michel Temer para Bolsonaro em 2019. Na última segunda-feira, porém, assistimos ao prelúdio do que pode acontecer no dia 1º de janeiro: o que era para ser uma simples diplomação dos candidatos eleitos a presidente e vice acabou em tumulto: três carros e cinco ônibus foram queimados.
Os atos de vandalismo terminaram sem presos. Brasília amanheceu a terça-feira (13) com equipes da PMDF em frente ao prédio-sede da PF, para reforçar a segurança da região. Questionada a respeito de prisões, a corporação passou a bola para a Secretaria de Segurança Pública", mas o secretário Júlio Danilo disse que "ainda não tinha essa informação". A polícia dispersou cerca de 200 manifestantes usando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Vias próximas à sede da PF, na área central de Brasília, foram fechadas. Em nota, a PM do DF afirmou que os protestos começaram após a prisão temporária do líder indígena José Acácio Serere Xavante, que fez ataques às urnas eletrônicas e chamou o presente do TSE de "ladrão e bandido".
Durante a diplomação, o ministro Alexandre de Moraes ressaltou a vitória plena e incontestável da democracia e do Estado de Direito contra os ataques antidemocráticos e a desinformação, e garantiu que os grupos radicais serão "integralmente responsabilizados para que isso não retorne nas próximas eleições". Vale lembrar que o presidente de turno do TSE também é ministro do STF e relator de diversas investigações envolvendo esses grupos. Em seu discurso, Lula agradeceu os eleitores e criticou Bolsonaro.
Arthur Lira, o presidente da Câmara eleito graças a Bolsonaro e ao "orçamento secreto", disse que os protestos fazem parte da democracia, mas que "repudia veementemente" a desordem e a violência. Já o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, chamou os vândalos de "minoria raivosa". No final da noite, o Secretário de Segurança Júlio Danilo declarou que a ordem havia sido reestabelecida. O governador Ibaneis Rocha disse que “a ordem é para prender os vândalos”, e o ministro da Justiça, Anderson Torres, que manteve estreito contato com a SSP e o governo do DF a fim de conter a violência. Em razão do tumulto, a PM reforçou a segurança de Lula, Alckmin e de grande parte a equipe de transição.
Após protesto violento de bolsonaristas, as redes sociais foram tomadas por rumores de que Lula seria retirado do hotel em que está hospedado, mas a informação foi negada pela equipe de transição. Ainda na noite de segunda-feira, o governador do DF prometeu reforçar a segurança e prender os vândalos. O futuro Ministro da Justiça convocou uma coletiva de imprensa para garantir que o presidente eleito está em “absoluta segurança” e tomará posse em 1º de janeiro de 2023.
Na manhã de terça-feira, a PMDF informou que ainda havia pontos de bloqueio nas vias, com ônibus queimados, e que esses trechos estavam fechados para "desobstrução e limpeza”. O metrô não teve interferências e operava sem interrupções. Mas o centro de Brasília mais parecia um campo de guerra, com carros e ônibus incendiados, explosões, tiros, bombas e um rastro de destruição por onde passaram manifestantes bolsonaristas na noite anterior.
As duas semanas e meia que nos separam da posse de Lula e Alckmin serão as mais tensas desde o fim da ditadura militar. Derrotado aos olhos do mainstream político, Bolsonaro sugeriu aos apoiadores que montaram guarda em frente ao Alvorada que pode resistir ao fim de sua presidência dependendo do alcance do movimento golpista. "Nada está perdido", disse o presidente.