quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

PROTESTOS E VANDALISMO NO DF — O APERITIVO

 

Tivemos apenas duas trocas de comando da oposição para a situação desde a redemocratização: de Fernando Henrique para Lula em 2003 e de Michel Temer para Bolsonaro em 2019. Na última segunda-feira, porém, assistimos ao prelúdio do que pode acontecer no dia 1º de janeiro: o que era para ser uma simples diplomação dos candidatos eleitos a presidente e vice acabou em tumulto: três carros e cinco ônibus foram queimados. 


Os atos de vandalismo terminaram sem presos. Brasília amanheceu a terça-feira (13) com equipes da PMDF em frente ao prédio-sede da PF, para reforçar a segurança da região. Questionada a respeito de prisões, a corporação passou a bola para a Secretaria de Segurança Pública", mas o secretário Júlio Danilo disse que "ainda não tinha essa informação". A polícia dispersou cerca de 200 manifestantes usando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Vias próximas à sede da PF, na área central de Brasília, foram fechadas. Em nota, a PM do DF afirmou que os protestos começaram após a prisão temporária do líder indígena José Acácio Serere Xavante, que fez ataques às urnas eletrônicas e chamou o presente do TSE de "ladrão e bandido". 

 

Durante a diplomação, o ministro Alexandre de Moraes ressaltou a vitória plena e incontestável da democracia e do Estado de Direito contra os ataques antidemocráticos e a desinformação, e garantiu que os grupos radicais serão "integralmente responsabilizados para que isso não retorne nas próximas eleições". Vale lembrar que o presidente de turno do TSE também é ministro do STF e relator de diversas investigações envolvendo esses grupos. Em seu discursoLula agradeceu os eleitores e criticou Bolsonaro


Apoiadores do presidente, frustrados com o silêncio de seu "mito" falaram em "abandonar a causa" e em "fazer papel de bobo esperando uma revolução". Houve até quem atribuísse o vandalismo a “infiltrados”"Depois que surgem os efeitos práticos de todas as ações e pregações de um grupo político, esse grupo tenta se eximir de qualquer responsabilidade atribuindo as condutas mais perversas, mais vândalas, ao grupo político adversário. É lamentável que não tenha havido uma ação da polícia para prender aqueles que estavam depredando patrimônio público e privado. Não importa se é de direita ou se é de esquerda, quem faz isso é criminoso", comentou Felipe Moura Brasil em sua coluna no UOL.


Arthur Lira, o presidente da Câmara eleito graças a Bolsonaro e ao "orçamento secreto", disse que os protestos fazem parte da democracia, mas que "repudia veementemente" a desordem e a violência. Já o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, chamou os vândalos de "minoria raivosa"No final da noite, o Secretário de Segurança Júlio Danilo declarou que a ordem havia sido reestabelecida. O governador Ibaneis Rocha disse que “a ordem é para prender os vândalos”, e o ministro da Justiça, Anderson Torres, que manteve estreito contato com a SSP e o governo do DF a fim de conter a violência. Em razão do tumulto, a PM reforçou a segurança de Lula, Alckmin e de grande parte a equipe de transição.

 

Após  protesto violento de bolsonaristas, as redes sociais foram tomadas por rumores de que Lula seria retirado do hotel em que está hospedado, mas a informação foi negada pela equipe de transição. Ainda na noite de segunda-feira, o governador do DF prometeu reforçar a segurança e prender os vândalos.  O futuro Ministro da Justiça convocou uma coletiva de imprensa para garantir que o presidente eleito está em “absoluta segurança” e tomará posse em 1º de janeiro de 2023.

 

Na manhã de terça-feira, a PMDF informou que ainda havia pontos de bloqueio nas vias, com ônibus queimados, e que esses trechos estavam fechados para "desobstrução e limpeza”. O metrô não teve interferências e operava sem interrupções. Mas o centro de Brasília mais parecia um campo de guerra, com carros e ônibus incendiados, explosões, tiros, bombas e um rastro de destruição por onde passaram manifestantes bolsonaristas na noite anterior. 


As ações precisam ser punidas caso o Brasil não queira oficializar o status de simulacro de democracia, uma possibilidade cada vez mais real desde que o atual inquilino do Planalto chegou ao poder e almeja perpetuar-se nele. Nada mais adequado para um projeto de ditador que, às vésperas do prazo de deixar o poder, haja uma série de distúrbios civis para que uma operação de garantia da lei e da ordem seja decretada e, assim, as ruas da capital federal sejam tomadas por militares. Seria a antessala de um golpe tão desejado pela extrema direita. Houvesse forças militares leais à democracia, Bolsonaro já teria sido preso ou forçado a renunciar numa reedição do golpe da legalidade que assegurou a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart em 1956, como presidente e vice-presidente da República respectivamente. Mas Lula e Alckmin não dispõem de um general Lott disposto a debelar o golpismo. Sem divisões e armas, por quanto tempo o ministro Alexandre de Moraes conseguirá conter o avanço do terrorismo bolsonarista? 

As duas semanas e meia que nos separam da posse de Lula e Alckmin serão as mais tensas desde o fim da ditadura militar. Derrotado aos olhos do mainstream político, Bolsonaro sugeriu aos apoiadores que montaram guarda em frente ao Alvorada que pode resistir ao fim de sua presidência dependendo do alcance do movimento golpista. "Nada está perdido", disse o presidente.

O sangue de brasileiros que jorrar pelas mãos de outros compatriotas daqui por diante será não apenas responsabilidade de Jair Messias, mas daqueles que, contra todas as evidências de golpismo, nele votaram nos dois turnos da última eleição. Não há inocentes nessa história. Depois de quatro anos de desgoverno e bravatas autoritárias, o caráter golpista de Bolsonaro não deveria ser segredo para mais ninguém. Enquanto nada estiver perdido para o filhote da ditadura, todos os riscos estarão à mercê da democracia e, portanto, das nossas vidas. 

Ou o Brasil se livra do bolsonarismo ou seus terroristas acabam de vez com qualquer projeto viável de nação.


Com Vinícius Rodrigues Vieira