O vereador carioca Carlos Bolsonaro ironizou a possibilidade de golpe de Estado evidenciada pela minuta do decreto que a PF encontrou na casa do ex-ministro Anderson Torres: "Acho que só no Brasil um golpe tem que ser aprovado por Conselho, publicado em DOU e votado pelo Congresso".
O documento previa a criação de um "Estado de Defesa" na sede do TSE para "garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022". Na prática, seria uma intervenção que mudaria o resultado das últimas eleições. Mas o grande mistério é: quem o redigiu?
Integrantes do Judiciário ouvidos pela coluna de Malu Gaspar disseram suspeitar de que militares do entorno do ex-presidente teriam participado da elaboração do documento. Além de dominar a comissão, eles poderiam facilmente impor sua vontade, já que contariam com um representante da AGU e outro da CGU, somando 10 votos totalmente alinhados com Bolsonaro. Na avaliação do ministro José Múcio, porém, o documento seria de responsabilidade exclusiva do ex-ministro da Justiça.
Após o ministro Benedito Gonçalves incluir a minuta golpista numa ação eleitoral que investiga a campanha do ex-presidente à reeleição e pode torná-lo inelegível até 2030, a defesa de Bolsonaro pediu que o documento seja retirado dos autos, pois é apócrifo, nunca foi publicado e nunca extravasou o plano da cogitação. Ainda não foi definido quando o TSE começará a julgar as 16 ações que investigam campanha do capitão, mas integrantes do PL e até mesmo membros da corte eleitoral ouvidos reservadamente avaliam que ele será condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
A expectativa dentro do PL é que Alexandre de Moraes (relator das 16 ações), Benedito Gonçalves e Cármen Lúcia votem pela inelegibilidade. Lewandowski tem se aliado ao trio nos principais casos analisados pelo plenário, mas vai se aposentar em maio — uma boa notícia para os bolsonaristas, pois quem entra no lugar de Lewandowski é Nunes Marques.
"Tenho 10% de mim dentro do STF", disse Bolsonaro ao indicar Nunes Marques para a vaga de Celso de Mello. Mesmo assim, nos cálculos do PL, Bolsonaro perde por 5 votos a 2 (supondo que as ações seja julgadas após a saída de Lewandowski).
Observação: Para aliados de Bolsonaro, há duas certezas: o STF vai colocar na lista nomes dispostos a punir o capitão e Lula vai bater o martelo pelo jurista mais inclinado a votar pela condenação. Nesse cenário, o ex-presidente contaria apenas com os votos de Nunes Marques e de Raul Araújo — autor de uma polêmica decisão que proibiu a manifestação política de artistas no Lollapalooza, no ano passado, e do único voto contra a multa de R$ 22,9 milhões imposta por Moraes ao PL, pelo pedido de anulação de parte dos votos no segundo turno.
Vale destacar que eventual derrota no TSE poderá ser questionada no STF, mas o sucesso é pouco provável, pois a corte suprema e seus membros foram alvo de incansáveis ataques de Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos.