domingo, 22 de janeiro de 2023

DEU NO QUE DEU...

 

A exemplo do que aconteceu na Itália dos anos 1920, a extrema direita fascista cresceu no Brasil com atos visíveis de ativistas e faces ocultas de financiadores. Apesar da dissonância cognitiva de parlamentares, juristas e jornalistas — que ainda tentam justificar o ataque contra a sede dos Poderes —, o último dia 8 entrará para a história como data do estupro institucional. 
 
Brasilidade pressupõe uma cultura solidificada, uma maneira de ser comum a quem nasce em nosso país. Mas o passado recente mostrou como o vínculo que nos unia era frágil. Mas como falar em cultura comum quando sua tia insiste em dizer que a eleição foi uma fraude? Como imaginar algum tipo de sintonia com um vizinho que invade a sede do governo e esfaqueia um Di Cavalcanti? Como admitir que pessoas de bem guardem alguma semelhança, mínima que seja, com a corja que depredou as sedes dos Três Poderes?
 
É difícil dizer quando tudo começou. Imagina-se que a barbárie remonte aos governos petistas, em algum ponto das revelações sobre o Mensalão. Ali nasceu o brasileiro que, submetido a uma dieta de desinformação ao longo da década seguinte, cresceu para se tornar criminoso. 
 
Em 2018, Bolsonaro foi eleito não pelo reacionismo, mas pela indignação com a corrupção. O que seria bom, não fosse o fato de as redes sociais produzirem bolhas de desinformação em escala industrial, que levaram à cizânia e desaguaram no atos terroristas impensáveis, mas que foram deflagrados na Praça dos Três Poderes há exatas duas semanas. Foi isso que aconteceu com sua tia terrorista e seu vizinho extremista. 
 
Tanto os mentores intelectuais dessa barbárie — notadamente o ex-presidente, que continua homiziado nos EUA — quanto seus financiadores e executores precisam ser identificados, processados e punidos. Nem em 1955, quando o Brasil teve três presidentes na mesma semana, viu-se tamanha insanidade. 
 
Resgatar nossa brasilidade não é uma missão para o governo Lula. As depredações no DF não são consequências, mas sintomas de uma doença recente para a qual sequer começamos a buscar uma cura, mas sem a qual nada vai mudar.