O ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de inquérito para investigar Torres, Ibaneis, Fernando de Sousa Oliveira — ex-secretário de Segurança do DF, que atuava como interino na data das invasões — e Fábio Vieira — ex-comandante da Polícia Militar de Brasília.
Torres é delegado federal desde 2003, tendo comandado investigações e operações de combate ao crime organizado, tráfico internacional e lavagem de dinheiro. Especialista em Ciência Policial e Investigação Criminal em Segurança Pública e formado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra, lecionou na Academia de Polícia Civil em Roraima, na Academia da Polícia Militar do DF e na Academia Nacional de Polícia. Foi diretor de assuntos legislativos da Associação dos Delegados da PF, coordenou comissões sobre segurança pública e combate ao crime organizado na Câmara dos Deputados e foi chefe de gabinete do deputado bolsonarista Fernando Francischini — que teve o mandato cassado por divulgar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas na eleição de 2018. Foi nomeado ministro da Justiça depois do desembarque de Sérgio Moro e de André Mendonça reassumir a AGU,, e questionou sem provas a segurança das urnas eletrônicas.
Torres classificou os ataques terroristas do último dia 8 como uma "inconcebível desordem" e "inaceitável o desrespeito às instituições", mas o destino foi implacável com ele. Até o dia 31 de dezembro de 2022, o ex-ministro da Justiça mandava e, sobretudo, desmandava na PF. Decorridos 19 dias, descobriu que pedestal não tem elevador ao comparecer à presença de um delegado federal na condição de investigado.
Torres é assediado por duas suspeitas. Numa, é acusado de sabotar a operação policial que deveria ter evitado o quebra-quebra de 8 de janeiro. Noutra, é acossado pela minuta de decreto apreendida em sua casa, prevendo a intervenção federal no TSE e anulação da eleição de Lula. Imaginou-se ele teria pressa para se livrar das culpas que lhe foram atribuídas, mas ele preferiu exercer o direito constitucional ao silêncio. Atua em sua defesa Rodrigo Roca — que socorreu Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha. O nobre advogado cumpriu seu papel ao evitar que o cliente se autoincriminasse, mas lhe assegurou a aparência de cúmplice num golpe que Bolsonaro só não executou por falta de apoio.
Um novo depoimento foi marcado para a próxima segunda-feira. Até lá, Roca espera descobrir o que a PF já sabe sobre o que seu cliente fez no verão passado. Talvez consiga estruturar um plano de redução de danos, mas Torres já não cultiva a ilusão de que merece o respeito da força policial que comandou. Desde que voltou dos Estados Unidos — desacompanhado do seu celular — ele se deu conta de que merece interrogatório, não respeito.
Roca avisou que, quando falar, o ex-ministro não fará delação premiada. Assim, Bolsonaro respira mais aliviado. Momentaneamente.