quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

FRITO NA PRÓPRIA GORDURA (PARTE II)

 

Bolsonaro só foi eleito presidente porque era preciso evitar a volta da quadrilha petista ao poder, mas a emenda ficou pior do que o soneto. Durante seu mandato, não se passou um dia sequer sem que a democracia fosse alvo de suas intenções golpistas. 

No palanque de 7 de Setembro de 2021, em meio a ofensas ao STF e seus ministros, Bolsonaro bravateou: "Só saio preso, morto ou com a vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso." O eleitor sonegou-lhe a vitória e Deus prolongou-lhe e a vida, mas faltou presentear a pátria e a família brasileira com uma boa investigação. 
 
Com quatro anos de atraso, a PGR acordou para o truque de Bolsonaro, que sempre difundiu mentiras nas redes sociais para municiar a milícia digital que propaga sua realidade paralela como se rabiscasse desenhos rupestres nas paredes das cavernas eletrônicas do bolsonarismo. Com a água na altura do beiço, Augusto Aras se viu forçado a criar um Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos. Sonegando uma boia a sua parceira bolsonarista Lindôra Araújo, o eminente jurista soteropolitano entregou o comando do tal grupo subprocurador-geral Carlos Frederico Santos.
 
Passadas 48 horas da encenação tabajara do ataque ao Capitólio, um vídeo em que o procurador bolsonarista Felipe Gimenez afirma que Lula foi "escolhido pelo serviço eleitoral e pelos ministros do STF e do TSE" foi compartilhado nas redes sociais do ex-presidente. O post foi apagado na madrugada do último dia 11, mas já havia viralizado nas redes sociais. 

Respaldada numa representação assinada por 79 membros do MPF, a PGR peticionou ao STF para que Bolsonaro seja investigado, e o ministro Alexandre de Moraes não se fez de rogado.  No despacho em que determinou a inclusão do capitão no inquérito 4.921, o magistrado mencionou outros inquéritos que tramitam no Supremo, entre os quais os que investigam a atuação de milícias digitais, a disseminação de notícias falsas sobre vacinas contra a Covid e o vazamento de investigação de ataque aos computadores do TSE. 
 
A PGR incluiu em sua ação um pedido para que Bolsonaro seja intimado a prestar depoimento, mas o togado preferiu adiar a oitiva, já que o ex-presidente continua escondido na cueca do Pateta: "Diante das notícias de que o ex-presidente não se encontra no território brasileiro, o pedido de realização do interrogatório do representado Jair Messias Bolsonaro será apreciado posteriormente, no momento oportuno."
 
Bolsonaristas reputaram injusta a determinação de Moraes, já que Carlos Bolsonaro dispõe das senhas de todos os perfis mantidos pelo pai nas redes sociais e provavelmente foi o responsável pelo compartilhamento da postagem tóxica. Ouvido sobre a nova versão, um ministro do STF enxergou nas alegações uma "tentativa vã de construir um álibi" para Bolsonaro — nessa hipótese, Zero Dois seria "coautor do crime de incitação pública à prática de crime, previsto no artigo 286 do Código Penal".
 
Na prática, Bolsonaro já está preso. Alvo de cinco investigações no STF e incluído no inquérito 4.921, o ex-presidente virou uma baleia dentro de um micro-ondas. Com tanta gordura ao redor, os investigadores não precisam de pressa para deixar o investigado bem passado.
 
Com Josias de Souza