quinta-feira, 6 de abril de 2023

O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ (CONTINUAÇÃO)

 

Num país onde quase metade da sociedade acha que a Terra é plana, que o Muro de Berlim não caiu e que vacinas transformam pessoas em jacarés, a grande assombração do século XXI é o aprisionamento da consciência coletiva pelas redes sociais. E consciência é como apendicite: só chama a atenção quando dói.
 
É provável que o TSE impeça o ex-presidente Bolsonaro de disputar eleições em 2024 e 2026, mas os "valores" do bolsonarismo continuarão infectando a conjuntura. Eventual êxito do governo Lula pode atenuar a infecção, mas a endemia ideológica só será combatida adequadamente quando e se a direita democrática construir uma liderança alternativa.
 
Apesar de torcer pelo sucesso da gestão em curso — como torci pela anterior até a vaca ir para o brejo —, não não acredito em Lula e jamais votei nele ou em Dilma. Teria votado em Simone (ainda que não fosse a candidata dos meus sonhos), em Ciro (menos ainda), e até em Temer (situações desesperadoras
 exigem medidas desesperadas), mas os dois primeiros não chegaram ao segundo turno e o vampiro do Jaburu sequer se candidatou.

Observação: A história da Nova República é a prova provada de que Pelé e Figueiredo estavam certos. A esmagadora maioria dos eleitores tupiniquins não tem discernimento sequer para ter vergonha na cara.
 
Lula passou de presidiário VIP a mandatário eleito pela terceira vez (caso único na história deste país). Não se conhece a data de validade do dito-cujo, ou seja, não se sabe se ele sobreviverá (politicamente) aos pedidos de impeachment que virão (que ele vem colecionando como as crianças de antigamente colecionavam figurinhas) ou se estará vivo (literalmente) em 2027. Mas sabe-se que a atual gestão não respeita a lei, nem a lógica, nem muito menos a decência. Senão vejamos.
 
Pelo que determinam a lei, a lógica e a decência comuns, é obrigação do governo administrar o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca — que custa uma fortuna para os pagadores de impostos — de forma a executar obras contra a seca. Pelas mesmas razões, compete-lhe dirigir a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba com o objetivo de atender as necessidades da população que vive em volta dos rios São Francisco e Parnaíba e, enfim, gerir o Banco do Nordeste para cuidar das carências e problemas do Nordeste. 

A questão é que Lula vem utilizando esses três órgãos para dar empregos e outras vantagens materiais a parlamentares em troca de votos contra a abertura de uma CPI para investigar os atos terroristas de 8 de janeiro, e com o mesmo objetivo manteve no cargo o absurdo ministro das Comunicações, pertencente a uma das gangues partidárias do Centrão que se alinhou ao PT e não aceita que o sujeito seja posto no olho da rua, como aconteceria em qualquer governo que exigisse um mínimo de integridade de seus ministros.
 
O episódio é mais um retrato perfeito do naufrágio moral dos primeiros três meses de governo. Não há escrúpulo nenhum para se fazer nada: o uso da máquina do Estado como propriedade privada do PT e seus cúmplices, tal qual está acontecendo com a CPI, tornou-se uma estratégia escancarada do governo, que, da mesma forma, abusa das atribuições que têm na área econômica para aumentar o preço dos combustíveis — na obsessão de ter mais dinheiro para gastar — e inventa impostos sobre a exportação — uma aberração típica de governos que não têm competência para cortar gastos aumentar a arrecadação através do crescimento econômico e da produção.
 
Observação: O caso da CPI é no mínimo curiosos. O próprio Lula exigiu aos berros a instalação da comissão. Junto com os militantes mais irados do PT e da situação, festejou as quase 1.000 prisões e exigiu "punição exemplar". Mas, à medida que foram sendo divulgadas mais informações sobre o episódio, os petistas foram ficando quietos, depois preocupados, e hoje são histericamente contrários à investigação. Querem que a punição fique restrita aos que estão na cadeia; fora disso, ninguém pode abrir a boca para perguntar nada. Por que será?
 
Dar emprego público e outras vantagens para esconder os fatos é exatamente o chefe do Executivo e seus apaniguados vêm fazendo. Diferentemente do brasileiro comum, o governo Lula tem outras prioridades, e é essa a regra que está valendo enquanto
 o imitador barato de Donald Trump foi brindado com a possibilidade de plagiar seu herói num enredo criminal.


A coisa vai feder se o TSE mantiver a conexão entre Bolsonaro e Trump. O capetão, que se autoproclama "perseguido" (absurdo que relembra o desaforo da alma mais honesta deste país) e se autoexilou na Flórida por 3 meses  terá de engolir uma porção de sapos nos próximos meses. É possível até que se afogue na água da lagoa.


Atualização: A despeito das evidências de ter usado a estrutura do governo para se apropriar da "muamba das arábias", Bolsonaro sempre tentou relativizar o caso. Ainda na Flórida, reclamou de ser acusado por um presente que "nem tinha chegado a ele", referindo-se às joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, que foram apreendidas pela alfândega no aeroporto de Guarulhos. Outras duas caixas estavam com o próprio ex-presidente, mas ele só admitiu o fato depois de o Estadão noticiar que a muamba havia sido guardada na fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. O TCU determinou a devolução de todas as joias, e a terceira caixa foi entregue na véspera do depoimento. Na tarde de ontem, ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten postou em suas redes sociais que o ex-mandatário respondeu a todas as perguntas feitas pela PF, mas não deu mais detalhes.