sábado, 8 de abril de 2023

SÓ MUDAM AS MOSCAS

 

O escândalo da muamba fez picadinho da imagem "imaculada" que a ex-primeira dama tentou construir, e está cada vez mais difícil ouvir o ex-mandatário sociopata falar em Deus, pátria e família sem cair na gargalhada. Como bem disse o Fernando Haddad, "ninguém ganha presentes que valem mais de R$ 18 milhões".

Bolsonaro se envolveu em inúmeros escândalos ao longo de sua trajetória política. Na Presidência, recebeu 19.470 presentes, mas nenhum fedeu tanto a propina quanto a "muamba das arábias". A Comissão de Transparência e Fiscalização do Senado está apurando se a venda da refinaria Landulpho Alves aos Emirados Árabes teria relação com o caso. Segundo o senador Omar Aziz (vide CPI do Genocídio), existem indícios de uma "operação cruzada", já que o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis apontou que a refinaria foi vendida por cerca de metade do valor de mercado
 
A Lava-Jato (de saudosa memória) apreendeu centenas de joias, medalhas, objetos de arte e presentes de todo tipo que Lula levou consigo ao deixar o Planalto em 2010 
— além de despachar para "o sítio que nunca foi dele" mais de 200 caixas com parte de sua mudançaEm entrevista à Veja em 2016, o delegado federal Igor de Paula disse que não se encontrou no sítio um único item que não fosse de Lula e familiares, incluindo camisetas e canecas com o escudo do Corinthians, fotografias de parentes, charutos, chapéus e calçados de Lula e senhora, cartões de boas festas e até medicamentos manipulados em nome de Marisa Letícia

Leo Pinheiro prometeu detalhar o obscuro episódio do aluguel de 10 contêineres destinados a armazenar o acervo museológico do ex-presidente (consta que a OAS pagou R$ 1,3 milhão para guardar objetos retirados do Planalto, do Alvorada e da Granja do Torto e acondicionados num depósito climatizado da transportadora Granero (o restante foi armazenado em outro galpão, no bairro do Jaguaré (na capital paulista), e de lá transportado para o Sítio Santa Bárbara.

Entra governo, sai governo, mudam as moscas, mas a merda e a nescidade dos eleitores continuam rigorosamente as mesmas de quando Pelé disse que o brasileiro não sabia votar. Ficando apenas no âmbito das últimas eleições, a rejeição ao lulopetismo corrupto resultou no bolsonarismo boçal, e a decepção com o capetão ensejou a volta da petralhada (com as bênçãos do STF). 

Para a surpresa de quem acreditou na fada do dente e deparou com a conta do dentista debaixo do travesseiro, os primeiros 100 dias da terceira gestão do autoproclamado parteiro do Brasil Maravilha foram tão decepcionantes quanto os do governo anterior. Segundo a última pesquisa Datafolha, 51% dos entrevistados acham que Lula fez pelo país menos do que se esperava dele, e que ele não vai cumprir a maioria de suas promessas (21% disseram que ele não cumprirá nenhuma delas).

A campanha de marketing (que será lançada na semana que vem) com o bordão “O Brasil voltou” não só desperdiça dinheiro público como afronta a inteligência de quem tem alguma noção da conjuntura atual, seja pelo preço da picanha, seja pelo medo do desemprego. Em 2022, o então candidato petista disse: "Nós vamos voltar a reunir a família no domingo e nós vamos fazer um churrasquinho. E nós vamos comer uma fatia de picanha com uma gordurinha passada na farinha e tomar uma p… de uma cerveja gelada. O povo entra em delírio, porque é isso o que o povo quer". 

O preço da picanha baixou 2% desde o início do ano, porém o desemprego voltou a subir após onze meses de queda, e a inflação se mantém no mesmo patamar, a despeito da escorchante taxa de juros. E o tal "arcabouço fiscal" faz lembrar o abjeto "Plano Cruzado" com que Sarney empalou os brasileiros em 1986

Sem ter o que entregar, o Super-Macunaíma que escapou do Mensalão, tropeçou no Petrolão e passou de palanque ambulante a camelô de empreiteiro ataca inimigos reais e imaginários. Mas referir-se a seu antecessor como "coisa", "genocida", "irresponsável" e "miliciano" não melhora em nada sua própria avaliação. Segundo o colunista de Crusoé Augusto de Franco, "estamos vivendo uma prorrogação do processo eleitoral, mas o governo Bolsonaro já não existe mais". 

Na falta de projetos que causem impacto, o PT e seu xamã buscam manter vivo o embate contra o bolsonarismo, como se o "mito" dos apatetados ainda fosse o chefe do executivo e a petralhada, a oposição. Além de não trazerem benefícios, ataques contra Sergio MoroMichel Temer e Campos Neto afetam o desempenho no Congresso, onde a base parlamentar que apoia o governo é mambembe. O indigesto Zeca Dirceu, líder do PT na Câmara, fala em 350 deputados, esquecendo-se de que União BrasilPSDMDBPodemosRepublicanos são tão confiáveis quanto a previsão do tempo. 

Ao montar seu ministério, Lula fez um loteamento inconsequente com a cabeça de 20 anos atrás, como se a conjuntura atual não fosse outra, com deputados e senadores mais independentes em relação aos partidos. Para piorar, o mandatário perde tempo enaltecendo programas que já existiam (leia artigo de Leonardo Barreto), como se seu plano para o futuro fosse ressuscitar notícia velha e fazer promessas vãs — a exemplo do tal churrasco de picanha com uma gordurinha passada na farofa e a porra da cerveja gelada, em que quase ninguém mais acredita

Triste Brasil.