O julgamento da ação que pode tornar o ex-presidente Bolsonaro inelegível será retomado amanhã, com a leitura do voto do ministro Benedito Gonçalves, que apresentou na última quinta-feira um relatório de 43 páginas. A sessão foi suspensa depois que o MPE emitiu parecer favorável à inelegibilidade do ex-presidente, mas contrário à procedência da ação contra o general Braga Netto (candidato a vice na chapa do capitão em 2022).
Na última sexta-feira, discursando num evento de filiação do PL na Alrs, Bolsonaro afirmou que está pensando em "ser candidato a vereador no Rio de Janeiro" nas eleições do ano que vem, e que, "se estiver vivo até lá e também elegível" vai disputar novamente a Presidência em 2026. E ajuntou: "Em 2026 o presidente do TSE será o Kássio Nunes, que eu indiquei, e o vice-presidente será o terrivelmente evangélico André Mendonça, que eu indiquei. As coisas mudam."
Quando planejou o futuro de seus filhos, Bolsonaro não levou em conta que a insensatez também pode ser hereditária. Chamado pejorativamente de Xandão pelo bolsonarismo, o ministro Alexandre de Moraes se esforça para fazer jus ao apelido no exercício da presidência do TSE. Tenta adiantar o relógio para assegurar que, além do ex-capitão, sejam banidos das urnas até 2030 os rebentos Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro.
Conforme antecipa Carol Brígido em sua coluna no UOL, uma banda do TSE tenta julgar antes de novembro mais duas das 16 ações eleitorais estreladas por Bolsonaro. Prestes a ser declarado formalmente inelegível, o sócio majoritário da holding da rachadinha não teria sua situação alterada, mas a ação que trata da difusão de fake news traz no polo passivo os filhos do atraso bolsonaristas do porte de Bia Kicis, Carla Zambelli, Ricardo Salles e Mario Frias. Noutra ação, que trata do pacote de bondades eleitorais embrulhado em 2022, a inelegibilidade pode alcançar também o general Braga Netto.
Antes de apresentar a conta a Bolsonaro, diz Josias de Souza, Moraes negociou com Lula a nomeação de Floriano de Azevedo Neto e André Ramos Tavares para as vagas abertas no TSE, bem como articulou mudanças no regimento da Corte para desestimular pedidos de vista protelatórios de Nunes Marques e Raul Araújo, os dois bolsonaristas que restaram num plenário de sete ministros. Agora, o presidente da corte opera para adiantar julgamentos porque o corregedor Benedito Gonçalves, outro algoz do capitão, deixa o posto em novembro.
Bolsonaro ainda vai se arrepender de ter adicionado ao apelido de Xandão o xingamento de "canalha". E o arrependimento será maior quando o ofendido começar a levar ao plenário do STE as ações criminais estreladas pelo ofensor (por uma cilada da sorte, o ex-mandatário produziu, além de agressões, farto material para múltiplas condenações).
Quem semeia ventos...