Discursando para estudantes e militantes do MST em Foz do Iguaçu (PR), Lula chamou Bolsonaro de "titica". Compreende-se a dificuldade do petista em descer do palanque, mas não o motivo pelo qual ele continua levando Bolsonaro aos lábios depois que o TSE o baniu das urnas até 2030. Feito durante a campanha, esse tipo de discurso pode até funcionar, mas soa esquisito quando é proferido por um presidente em início de mandato — e sobretudo quando ele se esquece de mencionar que, na origem da antipolítica que Bolsonaro surfou, está justamente o antipetismo.
Lula exorta os jovens a abraçar a política, mas não contribui para melhorar o ambiente. Tratado como calouro, o político iniciante aprende com os caciques e as raposas que deveria tratar como inimigos toda sorte de espertezas — que logo passa a ver como sagacidade. Ao confundir meios e fins, o agente público transforma a política em "titica de galinha". Melhor faria o petista se desmontasse o circo e retirasse a "titica" dos lábios.
Costuma-se achar que o problema estaria resolvido com o fim da reeleição. Mas não é tão simples assim. Os males do sistema político/partidário tupiniquim vêm de longe, não só por defeito da norma, mas também por causa dos malfeitos das pessoas, combinados com a leniência da Justiça por décadas. Por outro lado, mesmo que acabar com a reeleição não seja uma panaceia, seria, no mínimo, um bom começo.
Com Dora Kramer e Josias de Souza