quarta-feira, 12 de julho de 2023

UM BOM COMEÇO...


A Justiça Eleitoral costuma ser generosa para com governantes, sejam eles vencedores ou perdedores. Abusos de poder são frequentes e punições, raríssimas. Na esfera do Executivo, elas só ocorreram quando o prefeito ou o governador estavam fora dos cargos; com presidentes da República, nada parecido havia ocorrido até semanas atrás, quando o TSE tornou Bolsonaro inelegível cinco meses depois do término de seu nefasto mandato. A decisão, inédita, pode ser didática caso o rigor se configure como regra. 

Veremos daqui em diante se os críticos da sentença poderão ou não acusar a corte eleitoral de ter feito juízo de exceção. Não restam dúvidas de que os ilícitos de Bolsonaro foram além das fronteiras eleitorais e enveredaram pelo campo da agressão ao Estado de Direito (a isso o imbrochável incomível e insuportável ainda responderá na esfera criminal). Mas é na questão dos excessos dos poderosos na caça a votos que reside a lição a ser aprendida e seguida. Mesmo que não com a estridência e a contundência do agora inelegível ex-verdugo do Planalto, governantes claramente extrapolam limites, sobretudo quando buscam a reeleição.


Discursando para  estudantes e militantes do MST em Foz do Iguaçu (PR), Lula chamou Bolsonaro de "titica". Compreende-se a dificuldade do petista em descer do palanque, mas não o motivo pelo qual ele continua levando Bolsonaro aos lábios depois que o TSE o baniu das urnas até 2030. Feito durante a campanha, esse tipo de discurso pode até funcionar, mas soa esquisito quando é proferido por um presidente em início de mandato — e sobretudo quando ele se esquece de mencionar que, na origem da antipolítica que Bolsonaro surfou, está justamente o antipetismo. 


Lula exorta os jovens a abraçar a política, mas não contribui para melhorar o ambiente. Tratado como calouro, o político iniciante aprende com os caciques e as raposas que deveria tratar como inimigos toda sorte de espertezas — que logo passa a ver como sagacidade. Ao confundir meios e fins, o agente público transforma a política em "titica de galinha". Melhor faria o petista se desmontasse o circo e retirasse a "titica" dos lábios.

 

Costuma-se achar que o problema estaria resolvido com o fim da reeleição. Mas não é tão simples assim. Os males do sistema político/partidário tupiniquim vêm de longe, não só por defeito da norma, mas também por causa dos malfeitos das pessoas, combinados com a leniência da Justiça por décadas. Por outro lado, mesmo que acabar com a reeleição não seja uma panaceia, seria, no mínimo, um bom começo.


Com Dora Kramer e Josias de Souza