quinta-feira, 13 de julho de 2023

NOS TEMPOS DE ANTANHO...

ATAQUE O PONTO MAIS FRACO DO ADVERSÁRIO COM SUA MELHOR ARMA, E COM TODA A FORÇA. 

No alvorecer da computação pessoal era comum a gente  ouvir as pessoas dizerem que os PCs tinham vindo para solucionar os problemas que ninguém tinha quando  eles não existiam. 

Brincadeiras à parte, usar um microcomputador no final do século passado era "coisa pra micreiro". Para piorar, como quase ninguém tinha acesso à Internet, só se obtinha informações a partir de livros e revistas especializadas (daí meus artigos e livros terem ajudado a pôr comida na mesa até meados dos anos 2000). 
 
Naquele tempo, PCs  não tinham disco rígido, nem sistema operacional, nem dispositivo apontador. Operá-los exigia conhecimentos de programação, expertise e boa memória para decorar centenas de comandos de prompt e digitá-los corretamente — qualquer letra, cifra, espaço ou caractere a mais ou faltando resultava em mensagens de erro. 

Em 1980, a Microsoft lançou um mouse que custava o equivalente a US$ 500 atuais e era difícil de instalar e configurar. A primeira versão usava uma placa proprietária e a segunda vinha com conector serial, mas a maioria dos PCs contava com portas COM, que compartilhavam IRQs e endereços de I/O limitados. Em tese, você instalava um fax-modem numa porta COM livre e compartilhava a mesma IRQ com o mouse; na prática, um dos dispositivos deixava de funcionar sempre que o outro era acionado. 

Instalar drivers era um pesadelo. Não havia APIs  genéricas (cada aplicativo de DOS tinha controladores próprios para placas de som, vídeo, impressoras, etc.), e configurar os dispositivos, um a um, era complicado, até porque eles não vinham com os respectivos drivers. Sem falar que, como não havia acesso à Internet, os drivers não recebiam atualizações. Hoje em dia, basta espetar um módulo de RAM num slot da placa-mãe e deixar o sistema cuidar do resto.

A estrutura original da memória física do IBM PC era uma insanidade. Quando foi lançado, o XT vinha com 16 KB na versão de entrada e 256 KB na versão mais cara, que pouca gente tinha cacife para bancar. Talvez por isso que Bill Gates tenha dito, nos anos 198º, que ninguém precisaria de mais de 640 KB de RAM.
 
Observação: O processador 8086 16-bit endereçava 1.048,576 bytes, daí 640 KB serem suficientes para conter a memória de vídeo, o BIOS, as interrupções, os drivers e outros recursos do sistema até 1 MB. Abaixo disso, a memória era gerenciada pelo DOS com o command.com, e o que sobrava era usado pelos aplicativos. Mas quase nada sobrava quando se dispunha de míseros 128 KB, e ainda que fosse possível acessar os endereços acima de 640 KB do sistema, qualquer coisa entre eles e os 128 KB resultavam em erro.
 
Com o progressivo barateamento da RAM, os microcomputadores passaram a integrar cada vez mais memória, mas só foi possível romper a barreira do megabyte mapeando blocos de memória nos endereços altos. Em tese, configurar uma expansão para disponibilizar blocos de 64 KB permitia instalar até 32 MB de RAM, mas só era possível ler ou gravar mais de 64 KB de cada vez após o lançamento do PC 80286, que endereçava incríveis 16.777,215  bits (com isso, o DOS passou a entender a área acima de 1 MB como "memória estendida", que podia ser endereçada diretamente, sem gambiarras nem paginação). 
 
Observação: No modo real, o PC 286 emulava o 8086 e precisava de um gerenciador de memória (HIMEM.SYS) para acessar a memória alta (acima de 1 MB). Como uma porção de programas dependia da EMS, o lançamento do 80386 trouxe os emuladores de EMS — os populares EMM386 e QEMM386 —, que usavam parte da XMS para "enganar" o sistema.
 
Antes do Windows, uma tabela de caracteres específica para cada país, definida nos arquivos de inicialização do DOS com o comando KEYB, determinava qual o layout do teclado (mas quase nunca funcionava). A Codepage 860 prometia inserir os acentos usados no nosso idioma, mas era incompatível com o COUNTRY 55. A solução era usar softwares que transformavam sequências "acento+letra" em caracteres acentuados, que também funcionavam com as impressoras, que quase nunca tinham acentos (uma cedilha era um C seguido de um retorno de carro e uma vírgula).
 
Observação: Falando em impressoras, os drivers, quando existiam, eram capengas. O pape "atolava", o arquivo enviado para impressão desaparecia, a informação sobre a quantidade de tinta restante era meramente aleatória e os discos de instalação incluíam uma porção de programas inúteis. Além disso, nada funcionava de primeira, sobretudo quando o usuário estava com pressa.
 
Nos tempos de antanho, todo software era pirata. Atualização, só quando alguém conseguia uma cópia mais recente. Q
uando o mundo se tornou online, ficou evidente que o Windows precisava de um utilitário de atualização. A Microsoft criou o Windows Update para atualizar o sistema e seus componentes, mas não estendeu essa facilidade aos softwares de terceiros. O Microsoft Store, que prometia agregar softwares do Windows 11, deixou a desejar — como os apps do sistema são diferentes dos componentes nativos, a maioria dos desenvolvedores não aderiu.
 
Resumo da ópera: Em pleno século XXI, usuários do Windows dependem de ferramentas como o Patch My PC para atualizar aplicativos defasados (ou a maioria deles, porque alguns não são identificados). No Linux, todavia... Enfim, veja você mesmo.