sexta-feira, 25 de agosto de 2023

LULA, JOANESBURGO E O AEROJANJA


Capitão Viajante é o nome do vírus antígeno que extermina 99,4% da população mundial no livro A Dança da Morte, de Stephen King. O epíteto serviria como uma luva em Bolsonaro, não fosse o fato de Lula, em apenas 7 meses, ter viajado mais vezes para o exterior do que ele em quatro anos. Foram mais de 30 pousos e decolagens tendo países estrangeiros como destino ou ponto de partida. No total, o petista passou 188 horas em voos internacionais, e esse "turismo" custou aos contribuintes mais de R$ 24 milhões (até o final de julho, sem contar o translado aéreo, bancado pela FAB, cujos valores estão sob sigilo).

Durante seu primeiro mandato, o redentor dos miseráveis aposentou o Boeing 707 usado por todos os presidentes desde 1986 e mandou comprar um Airbus A319CJ — que custou aos cofres públicos US$ 56,7 milhões mais US$ 13,5 milhões para a inclusão de uma suíte presidencial. Considerando a vida útil de 30 anos, o Aerolula poderia continuar operando até 2035, mas sua alteza deseja uma aeronave com maior autonomia de voo, que não exija muitas escalas para abastecimento.

A FAB estuda duas alternativas para o AeroJanja: uma é acrescentar a um dos Airbus A330-200 comprados durante o governo Bolsonaro uma suíte com chuveiro, escritório, sala de reuniões e 100 poltronas para acomodar a comitiva presidencial e jornalistas. A outra é comprar um novo avião, já com as configurações prontas. A FAB vai fazer a cotação, e o valor pode subir pelas exigências da primeira-dama, que tem presença garantida nas viagens presidenciais ao exterior e é exigente quando se trata de conforto, como ela deixou claro ao renovar a mobília do Alvorada.
 
Antes de voar para Joanesburgo, Lula conversou reservadamente com Arthur Lira e com os comandantes das FFAA. Dos militares e do chefe da Defesa, ele ouviu que não haverá "caça às bruxas" nem complacência com fardados que se associaram a seu antecessor em práticas criminosas. Do presidente da Câmara, obteve o compromisso de destravar nesta semana a votação da proposta sobre a nova regra fiscal. Em contrapartida, destinou quase R$ 53 bilhões às três forças, no âmbito do Novo PAC, e informou a Lira que concluirá na semana do seu retorno ao Brasil a mexida ministerial que dará mais dois cofres ao Centrão na Esplanada — um deles ao PP de Lira.
 
A conversa com Lira se deveu à contrariedade do chefão do Centrão com a insinuação de Fernando Haddad sobre o uso dos superpoderes da Câmara para "humilhar" o Executivo e o Senado, e o diálogo com os militares, à descoberta de perversões novas sobre o golpismo e o escândalo das joias. A informação de que Mauro Cid vai confessar que cumpriu ordens superiores ao vender o Rolex das Arábias levou os aliados do capitão a farejar o risco de prisão iminente na decisão do ministro Alexandre de Moraes, que o citou 93 vezes ao longo de 105 páginas. Se realmente acabar atrás das grades, ele não só verá seu capital político desmoronar como pode comprometer a ambiciosa meta do PL de conquistar mais de 1 milhão de prefeituras nas eleições de 2024. 
 
Como Bolsonaro ainda não foi indiciado, o que pode ocorrer de momento é sua prisão preventiva. Mas para isso é preciso haver evidências de que ele está obstruindo ou pode vir a obstruir as investigações. Segundo a PF, tais evidências até existem, mas não são públicas e nem fortes o bastante para sustentar um pedido de prisão. Sem mencionar que a subprocuradora-geral Lindôra Araújo, tida como aliada da Famiglia Bolsonaro e pessoa de confiança do antiprocurador Augusto Aras, foi contra a prisão de Silvinei Vasques e a favor da soltura de Anderson Torres

Prender um ex-presidente exige consenso entre os órgãos que participam da investigação, incluindo o Ministério Público, de modo que não se cogita pedir o indiciamento de Bolsonaro nem denunciá-lo ao STF antes que um novo procurador-geral assuma. Além disso, pode ser mais interessante deixá-lo sangrar até o julgamento pelo STF. Se depender do empenho da PF e de Moraes, o processo será concluído já nos primeiros meses de 2024.
 
Lula deve retornar da África nos próximos dias. Aviões caem com frequência — ou são derrubados, como diz quem é do ramo. Quando alguém embarca num tubo de metal e plástico cheio de oxigênio altamente inflamável e se senta sobre toneladas de combustível mais inflamável ainda, a única certeza é a de que vai descer, pois a gravidade assim o exige. Mas não sabe onde nem em quantos pedaços (sendo o aeroporto de destino e um único pedaço os resultados desejáveis). Se o reencontro com o solo se der em 1,5 km de concreto, tudo está bem. Do contrário, as chances de sobrevivência despencam rapidamente. Ademais, um viajante pode pousar mil vezes e jamais ver uma leoa faminta, mas, se descer uma única vez em uma selva, as chances de ser devorado serão consideráveis. 

A boa notícia é que a probabilidade de um avião sofrer um acidente é de 1 em 1,2 milhão, e que, quando isso acontece, 95,7% dos passageiros sobrevivem. Já nos acidentes de trânsito, o número de mortos ao redor do mundo é igual a sete aviões jumbo caindo todos os dias, sem sobreviventes. Em última análise, para o bem ou para o mal, as pessoas têm mais chances de ganhar na Mega-Sena do que de morrer num desastre aéreo.

A agência russa de aviação civil confirmou na quarta-feira, 23, que o líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, está entre os mortos na queda de um avião da Embraer na região russa de Tver. Além de Prigozhin e do comandante do Wagner, Dmitry Utkin, também estavam no voo outros cinco passageiros. Não houve sobreviventes. Uma conta de Telegram associada ao Grupo Wagner afirmou que a queda do avião teria resultado de um ataque das forças armadas da Rússia, mas nenhuma fonte oficial, russa ou de outro país, confirmou a informação. 


A morte de Prigozhin se soma a diversas outras de cidadãos russos que ocorreram de forma misteriosa, dentro e fora do país. Confira a lista.