quinta-feira, 31 de agosto de 2023

SILÊNCIO REBAIXA O ALTO-COMANDO DAS FORÇAS ARMADAS


Certos silêncios merecem um minuto de barulho. Militares com um mínimo de respeito à farda já teriam levado a mão à consciência e os lábios ao trombone, mas parece que o aparato miliciano que o ex-presidente chamava de "minhas Forças Armadas" ainda não foi desmobilizado.

Sob o capitão, o general Paulo Sergio Nogueira, então ministro da Defesa, era loquaz. Hoje, anda sumido. Quatro meses antes de conceder audiência a Delgatti, enxergou "ofensa grave e irresponsável" numa declaração do ministro Barroso, que exaltou o óbvio: as FFAA estavam sendo induzidas a atacar o sistema eleitoral brasileiro e tentar desacreditá-lo. Na época bem orientado, o Nogueira foi rápido no gatilho. Agora, não diz meia dúzia de palavras sobre suas tratativas com o escroque de Araraquara.


José Múcio, o civil que Lula nomeou para chefiar a Defesa, disse que solicitou à PF os nomes dos militares que se reuniram com o desqualificado que o ex-presidente qualificou. Num mundo ideal, o ministério se apressaria em fornecer os nomes aos investigadores, não o contrário. O general Tomás Paiva, comandante do Exército, enviou ordem aos integrantes da Força pedindo “o fortalecimento da coesão interna”. 

 

Costuma-se dizer que o compromisso das FFAA com a Constituição é inquestionável. Prova disso é o golpe de Bolsonaro ter falhado. Em algum momento, esse desapreço presumido ao golpismo precisa ser traduzido em palavras e gestos explícitos, e o melhor momento para uma tomada de atitude é três décadas atrás, quando o general Ernesto Geisel qualificou de "mau militar" o ex-capitão abrigado na política. O segundo melhor momento é agora. De preferência, ontem. 

 

Pelo andar da carruagem, basta um fardado ficar agachado nas reuniões do alto comando para ser considerado um oficial de enorme altivez.

 

Com Josias de Souza