As virtudes de Teori Zavascki foram cantadas em verso e prosa por seus pares na Corte, políticos do alto escalão do governo, amigos e familiares. Mesmo fora desse círculo houve quem reagisse como se o finado fosse um amigo próximo — sinal do engajamento da população com questões relevantes da política; até não muito tempo atrás podia-se contar nos dedos quantos brasileiros eram capazes de citar de memória a composição do STF e o nome do Ministro da Justiça ou do Procurador Geral de República. Mas o simples fato de alguém morrer não faz desse alguém um santo nem anula seus eventuais malfeitos.
Certa vez, um padre recém-ordenado foi designado para pastorar almas num vilarejo cujo nome me foge à memória. No dia seguinte à sua chegada, o velho e impopular prefeito esticou as canelas. Durante o serviço fúnebre, o sacerdote convidou os presentes a exortar as virtudes do falecido. Como a resposta foi um silêncio constrangedor, ele insistiu:
— Então, irmãos? Ninguém se habilita?
Ninguém se habilitou.
— Como é, dona Maria — insistiu o batina, dirigindo-se diretamente à viúva.
Depois de alguma hesitação, a velha sentenciou:
— O pai dele era ainda pior.
Elogios merecidos à parte, causou estranhamento ninguém ter mencionado que Zavascki morreu a caminho da ilha do empresário Carlos Alberto Filgueiras — dono da Rede de Hotéis Emiliano e do malsinado Beechcraft C90GT em que eles viajavam. O simples fato de estar a bordo colocou o magistrado na mesma e incômoda posição de um Sérgio Cabral que voava nas asas de Cavendish, ou de um Lula aninhado nos ares com a Odebrecht. Tampouco foi lembrado que o ministro esteve presente no casamento do filho do advogado Eduardo Ferrão, em 2015, que reuniu boa parte da elite empresarial enrolada na Lava-Jato. Ou que foi dele o voto de desempate que absolveu Dirceu, Genoíno e Delúbio do crime de formação de quadrilha.
Observação: Vale destacar que o avião sinistrado era relativamente novo e estava em perfeitas condições de operação, que o piloto tinha experiência em pousos no campo de Paraty, inclusive sob condições meteorológicas adversas (chuva, ventos fortes, etc.), e que uma testemunha relatou que "o avião foi baixando cada vez mais e soltou um bolo de fumaça branca antes de bater a asa direita na água e capotar".
Somando-se a isso o fato de que Zavascki estava na bica de homologar a "Delação do Fim do Mundo" — na qual 77 ex-executivos da Odebrecht denunciaram e detalharam "práticas pouco republicanas" de mais de 100 políticos de diversos partidos (alguns do mais alto escalão do governo federal, além de Lula e Dilma) — sobram indícios de que a queda do avião foi mais que uma simples fatalidade.
Observação: Talvez tudo tenha sido uma lamentável coincidência, mas o que são coincidências senão Deus agindo nos bastidores? (No caso em tela, por motivos óbvios, seria mais provável que o Diabo tivesse culpa no cartório).
Fato é que a morte de Zavascki entrou para a lista de episódios em que autoridades brasileiras morreram em circunstâncias duvidosas — como o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1961), o deputado Ulysses Guimarães (1992), o prefeito de Santo André Celso Daniel (2002) e o ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência Eduardo Campos (2014), entre tantos outros.
Semanas antes do afastamento de Dilma, Zavascki foi hostilizado por manifestantes antipetistas por contestar uma decisão do então juiz Sergio Moro — na ocasião, o ministro decidiu que a investigação de escutas telefônicas que envolviam Dilma e Lula deveria ser enviada ao Supremo. Mais ou menos na mesma época, Francisco Zavascki, filho do togado, escreveu no Facebook:
Semanas antes do afastamento de Dilma, Zavascki foi hostilizado por manifestantes antipetistas por contestar uma decisão do então juiz Sergio Moro — na ocasião, o ministro decidiu que a investigação de escutas telefônicas que envolviam Dilma e Lula deveria ser enviada ao Supremo. Mais ou menos na mesma época, Francisco Zavascki, filho do togado, escreveu no Facebook:
"É obvio que há movimentos dos mais variados tipos para frear a Lava-Jato. Penso que é até infantil imaginar que não há, isto é, que criminosos do pior tipo (conforme o MPF afirma) simplesmente resolveram se submeter à lei! Acredito que a lei e as instituições vão vencer. Porém, alerto: se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar…! Fica o recado!".
O perfil reservado de Zavascki foi tema de conversa entre o então senador Romero Jucá e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Na gravação, feita em março e divulgada em maio de 2016, os interlocutores sugeriam que somente uma mudança no governo federal — um "pacto nacional com o Supremo, com tudo" — poderia "estancar a sangria" produzida pela Lava-Jato.
Machado disse que o ideal era buscar alguém que tem ligação com o Teori, "mas parece que não tem ninguém". E Jucá responde: "Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou [no STF]".
Continua...