terça-feira, 17 de setembro de 2024

MITOS, MICOS E TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

ALGUMAS PESSOAS SÃO COMO PÁSSAROS: VOCÊ AS AJUDA A VOAR E, ASSIM QUE CONSEGUEM, ELAS GAGAM EM VOCÊ.

Mitos são fatos históricos "não verdadeiros" e teorias da conspiração, narrativas que carecem de provas e/ou embasamento científico. Um exemplo de mito é a lenda segundo a qual Prometeu roubou o fogo de Héstia e o deu aos mortais, e um exemplo de teoria da conspiração é a alegada forjadura da alunissagem da Apollo 11.

A despeito de Pitágoras ter refutado o terraplanismo 500 anos antes do início da era cristã e de mais de 4 milhões de fotos tiradas do espaço comprovarem que a Terra é um globo, 10% dos brasileiros se declaram terraplanistas (e o pior é que essa gente vota!)  

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A população da capital paulista está vivendo a eleição municipal com mais baixo nível desde a redemocratização. Mas cada povo tem o governo que merece, e povo que não sabe votar elege candidatos como o que chama o oponente de "arregão" e diz que ele "não é homem nem para agredi-lo". Não foi a primeira vez que Datena e Marçal se estranharam. Os dois viviam às turras. Era mera questão de tempo para irem às vias de fato.
Os debates andam tão violentos que a cadeirada pareceu mais uma cena de mutilação democrática destinada a descansar o espectador para coisas mais fortes que estão por vir. O diabo é que o descanso tem a duração de um intervalo comercial. Datena foi expulso do programa e Marçal transferiu seu espetáculo, de ambulância, para as redes sociais, onde, exagerando na pose de vítima, igualou a cadeirada às tentativas de homicídio contra Bolsonaro (em setembro de 2022) e contra Trump (em julho passado). Como cadeira não é faca nem rifle, o marketing serviu para expor a debilidade de uma onda eleitoral que tem dificuldades para realizar o sonho de virar tsunami. 
Mais próximos do segundo turno, Nunes e Boulos cuidaram de manter o debate na sarjeta. O afilhado do capetão chegou a perguntar ao apadrinhado de Lula: "Você cheirou?" A baixaria deu a Marina Helena uma aparência de Irmã Dulce e permitiu a Tábata lamentar a "postura dos homens".
Na ribalta da internet, os recortes compartilhados na velocidade da luz ganharam as redes caretas de Marçal com trilha sonora de sirene, "M" (de merda?) feito com ar compungido no leito do hospital e a palavra do médico sobre uma "linhazinha de fratura" no sexto arco costal. Não se sabe o
 quanto esse sujeito conseguirá capitalizar eleitoralmente a agressão. Se tiver sucesso, terá sido o grande vencedor do debate, mas ter provocado o episódio (e ele provocou) pode aumentar sua rejeição.
Datena reconheceu que deveria ter se retirado do debate e ido embora pra casa, mas diz que continua candidato. Talvez venha a ganhar votos por "representar o sentimento" de uma parcela da população indignada com o comportamento de um sujeito desprezível, que implementa campanhas de ódio contra seus adversários e posa de vítima porque estaria lutando contra o sistema. 
Por enquanto, a cadeira venceu o debate — pelo menos do ponto de vista da superexposição, pois ela rodou o mundo, ganhou as manchetes de todos os veículos de comunicação no Brasil e já é o assunto mais falado desta eleição.
Antes que seja necessário impor focinheira aos debatedores, o eleitor talvez perceba que que, numa democracia, as únicas cadeiradas que importam são aquelas desferidas por ele, nas urnas. Faltam 3 semanas para o primeiro turno. É tempo suficiente para deixar de confundir certos candidatos com candidatos certos.

Quando afirmou que o Universo e a estupidez humana são infinitos, Einstein ressaltou que, quanto ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Em Ensaio sobre a cegueira, o Nobel de Literatura José Saramago borrifou frases que descrevem com perfeição a conjuntura surreal que vivenciamos, entre as quais "a pior cegueira é a mental, pois faz com que não reconheçamos o que temos pela frente".

Inúmeros mitos ensejaram teorias que ainda movimentam o moinho dos conspiracionistas, mesmo depois de terem sido desbancados pelos fatos. Na visão míope dos desprovidos de neurônios, Paul McCartney morreu num acidente de carro em 1966, Michael Jackson forjou a própria morte, a princesa Diana foi assassinada a mando da Família Real Britânica, o tsunami do Oceano Índico foi causado por testes nucleares dos EUA e de Israel, e por aí vai.
 
Entre diversos mitos desmitificados que continuam posando de verdades absolutas figura o do Cavalo de Troia (a cidade existiu e a guerra contra os gregos aconteceu, mas o mesmo não se aplica ao cavalo de madeira). Também não há evidências de que a rainha-consorte Maria Antonieta seja a autora da célebre frase "se não têm pão, que comam brioches" (até que ela tinha 9 anos e vivia na Áustria quando o epigrama foi registrado pela primeira vez).
 
Reza a lenda que, quando partiam em suas cruzadas, os cavaleiros medievais trancafiavam as partes íntimas das esposas em cintos de castidade, mas isso não passa de uma narrativa criada pelos renascentistas para exemplificar o obscurantismo da Idade Média (quando mais não seja porque alguém que usasse o tal acessório por períodos tão prolongados fatalmente morreria de septicemia).  
 
Em A Conquista de Marte de Edison, o astrônomo americano Garret P. Serviss anotou que "alguém de fora da Terra" teria visitado o Egito e construído as Pirâmides e a Esfinge; 70 anos depois, Erich von Däniken publicou Eram os Deuses Astronautas? O livro de Serviss é pura ficção científica, e o de Däniken foi tachado de pseudociência. Mas isso não muda o fato de que a obra do pesquisador suíço foi traduzida para mais de 30 idiomas, vendeu dezenas de milhões de cópias e inspirou a bem-sucedida série Alienígenas do Passado, produzida pelo History Channel. 

Pseudociência ou não, causa espécie que os antigos egípcios tivessem conhecimentos avançados de matemática e geometria, usassem um sistema decimal, dominassem a escrita e dispusessem de um calendário baseado na estrela Sirius — que só era avistada durante o inicio da enchente do Nilo, que não acontecia todos os anos e, quando acontecia, não começava sempre no mesmo dia (não seria mais fácil e lógico fazer as projeções a partir do Sol e da Lua?)
 
A teoria segundo a qual soldados de Napoleão destruíram a tiros o nariz da célebre Esfinge de Gizé não se sustenta diante dos indícios robustos de que escultura foi mutilada pelo sufi Muhammad Sa’im al-Dahr, que viveu no Egito no século XIV, por considerar que o culto àquele monumento afrontava os preceitos muçulmanos. Aliás, a destruição de artefatos históricos por fanáticos religiosos foi uma prática recorrente ao longo de toda a história, haja vista o que fez o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. 

As perguntas estão aí. Responda quem souber.