Nosso Universo é apenas um desses "retalhos", e se estende em todas as direções por 42 bilhões de anos-luz (cerca de 397 quatrilhões de quilômetros). A combinação de seus prótons, elétrons, nêutrons, fótons etc. dá origem a tudo o que existe, de um singelo grão de areia até estrelas e seres vivos.
Bolsonaro nunca escondeu sua admiração pela ditadura. Nem nos 15 anos de caserna, nem nos 28 de deputância. Na Presidência, sua vocação para o golpismo ficou evidente logo após a posse, mas nem os 144 pedidos de impeachment por crime de responsabilidade nem as dezenas de indícios de crimes comuns abreviaram sua abjeta passagem pelo Planalto.
Muita gente importante viu e fez de conta que não via. Caso de parlamentares da base governista, do comando do Congresso e de integrantes do staff palaciano, que não cometeram os crimes imputados aos 37 indiciados pela PF, mas foram espectadores engajados pela via da omissão em troca de livre acesso ao cofre da União.
Deputados e senadores farrearam à vontade no manejo abusivo das emendas enquanto o despresidente se equipava para manter o poder caso fosse derrotado nas urnas. Com seu ativismo de cercadinho, o aspirante a tirante pregava a sublevação. Na internet, no rádio e na televisão, seus adeptos reverberavam o discurso de desmoralização do sistema eleitoral e do STF, já então detectado como o inimigo a ser abatido.
Uma parte do complô está gravada e divulgada. A outra, mais ampla, revelou-se nas investigações. Pegos os comparsas ativos, os cúmplices passivos não podem dizer que a cigana os enganou. Mesmo longe do alcance da Justiça, terão de dormir com um barulho desse em suas consciências.
Isso, claro, se neles algum resquício de escrúpulo houver.
Como dito no post de abertura, uma espaçonave que viajasse pelo cosmos em linha reta por zilhões de anos acabaria numa galáxia semelhante à nossa, com um sistema solar igual ao nosso e um planeta idêntico à Terra, habitado por "clones" de cada um de nós. Também como foi dito, isso não se trata de uma simples possibilidade, mas de uma imposição matemática num Universo infinito com finitas combinações possíveis de partículas.
Um hipotético cosmonauta que deparasse com um planeta igual à Terra num universo paralelo encontraria um clone dele próprio morando numa casa igual à dele, cercado por clones de seus familiares, trabalhando com clones de seus colegas e bebendo com eles em happy hours — tudo isso a 10ˆ10ˆ115 de anos-luz daqui. Para dar uma ideia dessa distância, nosso planeta fica a 26.000 anos-luz (cerca de 244 quatrilhões de quilômetros) do centro da Via Láctea.
Matematicamente falando, haveria grandes chances grandes de nosso hipotético viajante topar com uma série de universos onde as partículas não geraram vida, ou geraram, mas nada remotamente parecido com a vida que existe na Terra. Talvez num desses universos os "terráqueos" tenham encontrado a cura do câncer ou Hitler tenha vencido a 2ª Guerra Mundial, dependendo das configurações possíveis das partículas que formam esse universo.
Num cosmos grande o suficiente, a existência infinitos clones de nós ou de versões distorcidas de tudo que conhecemos se torna uma certeza, mas nada com massa pode se mover à velocidade da luz, de modo que jamais encontraremos nossos clones ou versões alternativas da história, sem falar que a distância entre o "retalho" que habitamos e o próximo da colcha cósmica aumenta conforme o universo se expande.
Ironicamente, as leis que governam o cosmos são permissivas a ponto de suportar a tese dos "mundos paralelos" habitados por clones nossos, mas implacáveis a ponto de mantê-los fora de nosso alcance. E a suprema ironia é que, do ponto de vista do meu clone, que está escrevendo este texto, ou do seu, que o está lendo em outro "retalho" da colcha cósmica, quem está fora de alcance somos nós.