A CIÊNCIA SOA FALSA QUANDO SE TEM A MENTE TOMADA PELA PAIXÃO.
Mesmo que o tempo não existisse, que os dias, horas e minutos fossem apenas convenções criadas para organizar nossas atividades, ainda restaria a causalidade — princípio segundo a qual toda ação gera uma reação de igual intensidade e em sentido contrário —, e seria ela, não o tempo, a característica essencial de um universo que a ciência vê como um imenso quadro onde perguntas geram respostas e novos enigmas surgem à medida que os anteriores são solucionados.
Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos onde o ontem impõe restrições ao hoje e o hoje determina como será o amanhã. Mas talvez não seja bem assim.
O físico teórico Carlo Rovelli sustenta que as leis fundamentais da física não incluem um tempo como o concebemos, e o físico de partículas Guido Tonelli explora uma realidade onde as leis da física clássica não se aplicam. Mas a ideia do tempo como mera construção mental não é nova.
Em meados do século XVII, as Leis de Newton descreviam um mundo onde pessoas andavam para trás, relógios retrocediam da tarde para a manhã e frutas subiam do chão para os galhos das árvores. Em 1908, no artigo The Unreality of Time, o matemático britânico J.M.E. McTaggart usou um baralho e o pensamento lógico para comprovar que o tempo não passa de uma ilusão e o que percebemos como passado e futuro é apenas uma questão de perspectiva.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Tudo indica que a ação penal resultante da denúncia contra Bolsonaro por liderança de organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado será julgada pela 1ª turma do STF, não com a intenção de prejudicar o "mito" (lembrando que os dois ministros nomeados por ele integram a 2ª turma e, portanto, não participarão do julgamento), mas porque, visando reduzir o numero e ações penais julgadas pelo plenário, o Supremo decidiu há alguns anos que esses processos devem ficar a cargo das turmas.
Uma vez que o Regimento Interno da corte prevê que um caso criminal tenha seu julgamento afetado para o plenário se o relator entender relevante a questão jurídica discutida ou houver divergência nos posicionamentos das turmas ou de alguma delas em relação ao próprio plenário, a defesa deve pedir que o ex-presidente seja julgado pelos 11 ministros — argumentando, inclusive, que ele era presidente à época dos fatos descritos pela acusação. Mas uma improvável mudança dificilmente evitaria a condenação, ainda que pudesse resultar num placar de 9 votos a 2 (na 1ª turma, a condenação por unanimidade são favas contadas).
Dada a dificuldade em defender o indefensável, os advogados do capetão cogitam de pedir a anulação da delação de Mauro Cid. Todavia, mesmo sem o depoimento do ajudante de ordens, há fartura de provas e abundância de indícios de crimes. Uma vez aceita a denúncia, Bolsonaro e seus 33 asseclas serão promovidos a réus, e o processo, instruído e julgado. Em caso de condenação, o encerramento só se dará depois do julgamento dos indefectíveis embargos infringentes e/ou embargos de declaração (espera-se que isso ocorra antes do final do ano, para evitar a "contaminação" do ano eleitoral de 2026).
A noção de que passado, presente e futuro são ilusões é ciência pura. Segundo o físico Julian Barbour, o Big Bang deu origem também a um antiuniverso onde tudo acontece ao contrário de como acontece no nosso Universo. O próprio Einstein — criador do conceito do espaço-tempo — achava que a distinção entre passado, presente e futuro era apenas uma ilusão teimosamente persistente.
O que chamamos de passado e futuro são duas direções diferentes que emergem de um ponto central. Do nosso lado, a entropia aumenta e estruturas complexas se formam; do lado espelho, estrelas se desagradam, galáxias se dissipam, matéria se desorganiza e o tempo retrocede (do nosso ponto de vista, já que para os hipotéticos habitantes desse universo espelho o tempo avança normalmente).
Ao tratar o tempo como uma dimensão que se soma ao espaço tridimensional e não transcorre de forma uniforme para todos os observadores, Einstein equacionou um universo eternalista. Para que cada indivíduo tenha seu próprio tempo, todos os pontos do tempo precisam coexistir para o que chamamos de passado e de futuro serem lugares diferentes ocupados por diferentes observadores, e o que chamamos de presente ocupar a posição temporal na qual cada relógio em particular se encontra.
Mesmo que o tempo não existisse, que os dias, horas e minutos fossem apenas convenções criadas para organizar nossas atividades, ainda restaria a causalidade — princípio segundo a qual toda ação gera uma reação de igual intensidade e em sentido contrário —, e seria ela, não o tempo, a característica essencial de um universo que a ciência vê como um imenso quadro onde perguntas geram respostas e novos enigmas surgem à medida que os anteriores são solucionados.
Isso não significa que memórias e eventos sejam apagados e pessoas "desnasçam"; a ideia é que ambos os lados funcionam com as mesmas regras físicas, mas espelhados em termos de direção do tempo e entropia. Ainda que esteja no campo da especulação, essa teoria ilustra como a física moderna pode oferecer explicações para a assimetria do tempo sem precisar assumir que ele é uma entidade fundamental do cosmos.
Continua...
