terça-feira, 13 de maio de 2025

DE VOLTA À OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

SÓ AQUELES QUE SUPORTAM A LONGA NOITE VEEM O ALVORECER

Até não muito tempo atrás, as coisas eram feitas para durar. As pessoas "se casavam" com seus carros e usavam o mesmo fogão e a mesma geladeira por décadas a fio. Mas, como dizia o poeta, "não há nada como o tempo para passar". 

De uns tempos para cá, a obsolescência programada vem reduzindo significativamente a vida útil dos assim chamados "bens duráveis".


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A classe política é corporativista e fisiologista. Seus interesses vêm sempre antes dos interesses dos eleitores que eles deveriam representar. Assim, mesmo sendo repulsiva, a aprovação da aberração destinada a livrar Alexandre Ramagem do processo por tentativa de golpe de Estado não causa estranheza. Tampouco causa espécie o placar de 315 votos a 143 ter sido engrossado por deputados do Centrão — não para favorecer Bolsonaro, que tenta pegar carona no meio disso, mas de olho na impunidade que pode beneficiá-los no futuro. 

Num momento em que o STF trava uma batalha com o Congresso pela moralização das emendas parlamentares — e já avisou que será duro com quem for pego desviando recursos públicos por meio delas —, o recado foi claro: processos por roubalheira contra quem tem mandato não seguirão adiante.

Suas insolências até podem aprovar uma disposição inconstitucional, mas o Supremo pode — e deve — pôr ordem no galinheiro. Em conversas reservadas, os ministros afirmam que consideram o projeto inconstitucional, o que significa que dificilmente a iniciativa vai prosperar e travar a ação penal. 

Os inconformados poderão recorrer, mas, dá-se de barato que a 1ª Turma rejeitará o apelo por unanimidade: a Constituição assegura a deputados e senadores o direito de sustar processos penais contra seus pares, mas para crimes cometidos após a diplomação. Isso livraria Ramagem das acusações relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas não da tentativa de golpe, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa.

Bolsonaro continuará réu, mas verá turbinada a mentira de que é um injustiçado — o que pode soar bem em algum país governado pela extrema direita, para onde ele resolva fugir a fim de não ser preso ao final do processo.

 

Para manter o estímulo ao consumo, os fabricantes lançam novas versões de seus produtos em intervalos cada vez menores e recorrem ao marketing para convencer os consumidores de que as novidades — muitas vezes triviais ou manifestamente inúteis — justificam a troca pelo modelo mais recente, supostamente superior. As lâmpadas, por exemplo, tiveram sua vida útil reduzida de três mil para mil horas, e alguns aparelhos parecem sair da fábrica programados para "pifar" assim que a garantia expira — e o conserto pode custar quase tanto quanto um aparelho novo.
 
Em virtude da evolução da tecnologia, esse artifício usado pela indústria para induzir ao consumo repetido se manifesta de forma ainda mais incisiva nos eletroeletrônicos. No caso específico dos celulares, aparelhos com menos de 4 GB de RAM e 128 GB de espaço interno já são considerados ultrapassados. Muitos modelos são aposentados não por suas configurações, mas pela política de atualização de software dos fabricantes — que, em tese, deveriam garantir maior longevidade aos aparelhos mais antigos, e não o contrário.

 

Com mais de 2 bilhões de usuários no mundo — e quase 150 milhões só no Brasil —, o WhatsApp deixou de funcionar recentemente em smartphones Android com versões anteriores à Lollipop (5.0); nos iPhones, modelos como o iPhone 5s, 6 e 6 Plus, que estacionaram no iOS 12.5.7, já não são suportados pelo aplicativo. Segundo a Meta, essa restrição visa permitir a incorporação de recursos mais avançados, como funcionalidades baseadas em inteligência artificial, que exigem hardware mais moderno. Mas não deixa de ser obsolescência programada disfarçada, já que obriga os usuários a aposentar aparelhos em boas condições de uso.

 

O Google lança uma nova versão do Android anualmente, mas são os próprios fabricantes (Samsung, Motorola, Xiaomi etc.) que decidem por quanto tempo seus aparelhos receberão atualizações do sistema e patches de segurança. Dependendo da marca e do modelo, o smartphone pode ficar desatualizado antes mesmo de o infeliz consumidor pagar a última prestação. Mas, de novo, não há nada como o tempo para passar.


Recentemente, a Samsung, que é líder em vendas de smartphones no Basil, resolveu ampliar seu ciclo de atualizações da linha Galaxy para até sete versões em alguns modelos, e foi seguida pela vice-líder Motorola. O Google fez o mesmo com o Pixel 8 e o Pixel 8 Pro (que não são vendidos oficialmente no Brasil, mas podem ser comprados de importadores independentes). Já a Xiaomi argumenta que a maioria dos consumidores troca de aparelho a cada três anos, e não vê sentido em ampliar o tempo de suporte.

 

Pesquisas indicam que apenas 7% de todos os smartphones Android em uso no mundo rodam a versão mais recente do sistema (15). No entanto, de um tempo para cá as novas versões focam mais a estabilidade e eficiência do que a introdução de novos recursos, e principal novidade — a inteligência artificial — pode ser implementada sem alterar a versão do sistema. Assim, ter um aparelho com Android 14 ou 13 e estar em dia com os patches de segurança já está de bom tamanho.