DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS.
A exemplo dos vaga-lumes, que precisam de escuridão para brilhar, as religiões reluzem em meio à ignorância. Elas prosperam onde faltam respostas, o que as torna úteis para os poderosos, que lhes dão ares de verdade para ludibriar os incautos — que deveriam questioná-las, pois é a partir da reflexão que se alcança uma espiritualidade mais ampla e profunda.
Toda religião é a verdade absoluta para aqueles que a professam e não passa de fantasia para os devotos das outras seitas. Em pleno século XXI, doutrinas as mais inverossímeis têm hostes de descerebrados que defendem seus rituais e liturgias como os fanáticos polarizados que, de um lado, defendem um ex-presidente golpista, e de outro, um "ex-corrupto descondenado por conveniência".
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Em seu pronunciamento inaugural na Casa Branca, Franklin D. Roosevelt ensinou que "a única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo". John Kennedy declarou, também num discurso de estreia: "Nunca negociemos por medo, mas nunca tenhamos medo de negociar". Lula declarou ao Times que "todo mundo sabe" que ele tentou entrar em contato com Trump e que o interesse não foi recíproco. Não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual o despresidente brasileiro não se esforçou para desfazer o mal-estar que ele próprio criou ao expor sua preferência por Kamala Harris durante a sucessão americana.
Em meio ao faroeste tarifário, importa mais a qualidade da resposta do que a rapidez no gatilho. Ao abrir o paiol da Casa Branca, Trump atenuou a sanção econômica e potencializou o caráter político do ataque, impondo ao ministro Alexandre de Moraes uma asfixia financeira em resposta ao drama criminal de Bolsonaro, tratado pela calopsita do penacho alaranjado como vítima de uma ficcional "caça às bruxas".
Ao abrir 694 exceções à lista de produtos sujeitos à tarifa de 50%, Trump sinalizou que não rasga dinheiro, proporcionando ao governo e à Bolsa de Valores um suspiro de alívio. Na política, o ataque grudou em Jair e Eduardo Bolsonaro a pecha de traidores da pátria e estilhaçou os planos da direita brasileira ao converter Bobi Pai e Bibo Filho em cabos eleitorais de Lula.
De resto, o aspirante a golpista conta os dias que faltam para seu julgamento e provável condenação. Não será uma decisão de Xandão, Trump tenta fazer crer, mas da Primeira Turma do STF.
Ainda que a existência de um ente superior seja admissível, como conciliá-la com a figura burlesca de um "criador" que concede livre-arbítrio às criaturas para depois recompensar as "boas" com a vida eterna no paraíso e punir as "más" com o fogo do inferno?
Aristóteles ensinou que "o sábio duvida e o sensato reflete", e Platão, no Mito da Caverna, que a sabedoria e o conhecimento estão além das aparências superficiais. Mas argumentar com quem renunciou à lógica é como dar remédio a defunto.
A verdadeira beleza da ciência não está nas respostas, mas nas novas perguntas que cada resposta suscita. Nos meus tempos de escola, o Sistema Solar era formado por 9 planetas e somente Saturno tinha anéis. Em 2006, Plutão foi rebaixado a "objeto transnetuniano". Hoje , sabe-se que Júpiter, Urano e Netuno também são circundados por anéis, embora menos proeminentes do que os de Saturno.
Em outras palavras, muito do que valia ontem pode não valer hoje, e muito do que vale hoje pode não valer amanhã.
Curiosamente, algo semelhante vem acontecendo com a matéria escura, que nunca foi observada diretamente, mas cuja existência é aceita porque sem ela as equações de Einstein perderiam o sentido. Isso nos leva à seguinte pergunta: será que os físicos a estão tratando - e a outros temas controversos - como dogmas científicos, furtando-se a questionar conceitos "não-pacíficos" simplesmente porque "eles já foram estabelecidos"?
A matéria escura e energia escura compõem 95% do cosmos; a primeira mantém as galáxias coesas e a segunda atua como uma força repulsiva, afastando as galáxias umas das outras e acelerando a expansão do Universo. No entanto, um estudo publicado recentemente por pesquisadores do Observatório Leiden, na Holanda, contesta a existência da matéria escura e questiona se não se está justificando um modelo que já não se sustenta.
Newton revolucionou o conceito de gravidade ao perceber que a mesma força que derruba uma maçã rege os movimentos celestes. Einstein expandiu essa ideia ao demonstrar que a gravidade deforma o espaço-tempo como uma cama elástica é curvada pelo peso de um corpo. E agora temos uma nova revolução.
A teoria do físico alemão tem aplicações práticas — foguetes, GPS, satélites, etc. —, mas falha ao tentar explicar o mundo subatômico. Para lidar com isso, a existência da matéria escura foi pela primeira vez em 1930 pelo físico Fritz Zwicky reforçada pelos estudos da astrônoma Vera Rubin.
Assim, a exemplo do que fez o ministro Edson Fachin ao anular as condenações de Lula escorado numa incompetência territorial que ele próprio já havia rejeitado em pelo menos dez julgamentos, os cientistas teriam "fabricado" um conceito sob medida para dar sentido à teoria de Einstein e obter uma explicação quase perfeita para o Universo (quase, porque faltou explicar o mundo subatômico).
Recentemente, um artigo publicado pelo físico Erik Verlinde — especialista em Teoria das Cordas da Universidade de Amsterdam e autor da teoria da gravidade alternativa que foi testada com sucesso pelos pesquisadores do Leiden — sugere que a gravidade não é uma força fundamental da natureza, e sim um efeito emergente da tendência do universo ao caos (entropia).
Segundo ele, os físicos não acreditam na existência da matéria escura com base em observações, mas por não haver evidência teórica ou argumento conceitual capaz de explicar as leis de Newton e Einstein à luz de novos fenômenos que vêm sendo observados.
Se a gravidade não funciona no mundo subatômico, por que recorrer a conceitos artificiais para dar sentido a ela ao invés de pensá-la de modo diferente, unindo a Teoria das Cordas com a Termodinâmica? Para testar essa ideia, os pesquisadores analisaram a densidade de 33.613 galáxias, compararam os dados com os cálculos de Verlinde e conseguiram explicar as anomalias gravitacionais sem precisar da matéria escura, algo que Einstein nunca conseguiu.
Como qualquer teoria emergente, ainda há questões em aberto, e enquanto elas não forem respondidas, Newton e Einstein poderão dormir tranquilos seu sono eterno.
Resumo da ópera: O avanço do conhecimento sempre encontra resistência. Assim como dogmas religiosos se impõem sobre a razão, certas ideias científicas se tornam intocáveis, mesmo quando novas evidências sugiram caminhos diferentes.
Se a história da ciência nos ensina algo, é que nenhuma "verdade" é eterna. Afinal, a luz do conhecimento não brilha onde há certezas absolutas, mas onde há perguntas que ainda precisam ser feitas e respondidas.