PRIMA DI ANDARE, PRIMA DI TORNARE.
A teoria do Big Bang sugere que o universo surgiu de uma singularidade incrivelmente densa. O modelo cosmológico atual, baseado nessa teoria e respaldado por inúmeras observações, é o que melhor explica a origem do cosmos, mas ainda deixa em aberto grandes mistérios, como a matéria escura, a energia escura e a inflação cósmica, entre outros enigmas que continuam a intrigar a comunidade científica.
Entre as muitas especulações derivadas dessa teoria está o conceito do multiverso. Algumas hipóteses sugerem a existência de um "universo-espelho" semelhante ao nosso, mas com simetria e fluxo temporal inversos. Nesse cenário, a matéria escura seria composta por partículas vindas do "antiverso". Essa ideia poderia explicar a assimetria observada entre matéria e antimatéria — segundo a Teoria das Partículas Elementares, cada partícula de matéria deveria vir acompanhada por uma correspondente partícula de antimatéria, com carga oposta, mas a realidade observada é bem diferente.
É importante destacar que interações físicas nem sempre seguem o teorema CPT, e qualquer violação da simetria em sistemas de partículas é sinal de problemas conceituais. Em 2014, por exemplo, pesquisadores do BICEP2 anunciaram que haviam detectado ondas gravitacionais primordiais, supostamente originadas nos primeiros momentos do Big Bang.
A exatidão dessa descoberta é questionada porque os sinais podem ser explicados pela presença de poeira galáctica. Por outro lado, caso fique comprovado que as ondas gravitacionais primordiais não existiram, a hipótese da existência do antiverso ganhará força, pois um universo perfeitamente simétrico não produziria tais ondas.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Quem acompanhou o debate do último sábado na TV Record esperando uma nova rodada de pancadaria perdeu 2h20min de sono. Afora as frases de efeito duvidoso e a carga religiosa, houve três destaques: 1) Marçal levou a incivilidade na coleira e tentou seduzir os não convertidos (32% segundo o Datafolha); 2) Tábata fustigou Boulos em relação a temas como descriminalização das drogas, aborto e ditadura na Venezuela; 3) Nunes, guiado por sua equipe de marketing, jogou pelo empate. Mas houve momentos em que alguns candidatos soaram como se a disputa não fosse pela prefeitura de São Paulo, mas por uma poltrona no céu.
Marçal — cujas propostas misturam pirlimpimpim com abracadabra — pegou um gancho na crítica de Datena ao descaso da prefeitura com as pessoas que passam fome e subiu no púlpito: "Estou só tomando água, desde segunda-feira, meio-dia. E vou entregar na próxima segunda-feira, sete dias, que é o número da plenitude." E esfregou na cara do prefeito a acusação de envolvimento na máfia das creches: "Existe pagamento em seu nome e de familiares". O rival devolveu: "Você é um mentiroso contumaz. Foi condenado em 22 processos na Justiça Eleitoral." Nas considerações finais, Nunes encostou sua retórica no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus".
Até Tábata, que se notabiliza pela exposição de propostas para a cidade, cavou uma oportunidade para injetar religiosidade na sua prosa: "Se estou aqui hoje é porque a igreja salvou nossas vidas e a educação transformou minha vida para sempre. Falo sim de igreja, apesar do preconceito que muita gente tem. Na periferia, quando falta comida na sua casa, é a igreja que lhe acode."
Não dispondo de conexões com o divino, Boulos tentou compensar sua debilidade junto ao eleitorado da periferia vinculando-se a Lula e Marta Suplicy. De resto, viu-se compelido a negar a tese dos adversários segundo a qual sua biografia estaria apinhada de pecados. Marina, por sua vez, jogou no ventilador o trecho do estatuto do PSOL que defenderia a "expropriação de propriedades."
O problema de debater vícios e virtudes sob atmosfera religiosa está na inconveniência da mistura. Juntando-se limão com cachaça e açúcar em dia de feijoada, tem-se uma caipirinha. Misturando-se religião e política num debate entre aspirantes à Prefeitura de São Paulo, tem-se apenas uma grande empulhação.
Na ficção científica, buracos negros são retratados como portais para outras dimensões, mas, na prática, alguém que se aventurasse em um seria "espaguetizado" pela singularidade. Já os buracos de minhoca são distorções no espaço-tempo causadas pela gravidade extrema dos horizontes de eventos dos buracos negros. A ideia foi sugerida pela primeira vez em 1916 pelo físico Ludwig Flamm e mais tarde por Albert Einstein e Nathan Rosen, daí o nome "pontes de Einstein-Rosen".
Supõe-se que esses "atalhos cósmicos" encurtem a distância entre dois pontos do espaço-tempo, permitindo que uma nave viaje em minutos por milhões de anos-luz, seja neste universo ou em outro, seja no presente ou em outro ponto da linha temporal. Embora ainda não tenham sido observados diretamente, Carl Sagan nos lembrou que "a ausência de evidência não é evidência de ausência". Se buracos de minhoca forem tão comuns quanto as estrelas e tiverem entradas com raios entre 100 e 10 milhões de quilômetros, detectá-los será apenas uma questão de tempo.
A criação de um buraco de minhoca exige uma quantidade imensa de energia escura para curvar o espaço-tempo. Além disso, eles "túneis cósmicos"são teorizados como pequenos, instáveis e praticamente intransponíveis. A conexão entre eles e a física quântica foi proposta pela primeira vez em 2013, apesar de a gravidade parecer incompatível com a mecânica quântica.
Experimentos de teletransporte quântico já estão em andamento, investigando como essas rupturas no espaço-tempo poderiam estar relacionadas a fenômenos quânticos. Parece coisa de ficção científica, mas, como dizia Richard Feynman, ninguém realmente entende a mecânica quântica. O impossível só é impossível até alguém duvidar e provar o contrário.
Se o antiverso realmente existir, uma visita a ele exigiria viajar no espaço-tempo até a singularidade do Big Bang e sair do outro lado — uma jornada de 13,8 bilhões de anos, a idade estimada do universo pelo modelo Lambda-CDM, embora essa idade possa chegar a 26,7 bilhões de anos, segundo a hipótese do físico Rajendra Gupta, que se baseia na observação de estrelas azuis retardatárias que parecem mais jovens que os sistemas estelares aos quais pertencem.
Vale lembrar que o termo "singularidade gravitacional" se refere a pontos onde as leis tradicionais da física não se aplicam. A singularidade no centro de um buraco negro, por exemplo, possui densidade infinita, distorcendo o espaço-tempo de tal forma que para escapar dela seria necessário ultrapassar a velocidade da luz — algo impossível, segundo a Teoria da Relatividade.
Uma imagem recente capturada pelo Telescópio Espacial James Webb, mostrando aglomerados globulares maciços, sugere que essas formações podem ter surgido antes mesmo do Big Bang, o que contradiz o princípio da causalidade — e também a sabedoria do conselheiro Acácio. Esse aparente paradoxo pode ser explicado de duas maneiras: ou a idade dessas estrelas foi superestimada, ou o universo é mais antigo do que prevê o modelo padrão.
Ambas as possibilidades deixam claro que uma revisão crítica do que sabemos sobre a dinâmica cósmica é cada vez mais necessária.