quinta-feira, 31 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 39ª PARTE

AS PESSOAS QUE SÃO LOUCAS O BASTANTE PARA ACHAR QUE PODEM MUDAR O MUNDO SÃO AQUELAS QUE O MUDAM.

Ao lado de A Máquina do Tempo e da trilogia De Volta para o Futuro, a série britânica Doctor Who é uma das histórias mais famosas sobre viagens no tempo. Nela, o protagonista viaja numa nave sofisticada, capaz de ir a qualquer lugar no espaço-tempo. Mas, devido a uma falha em seu sistema de camuflagem ("camaleão"), ela assumiu a forma de uma antiga cabine telefônica policial britânica e não conseguiu mais mudar de aspecto.

 

Licenças poéticas e artísticas à parte, viajar no tempo como na ficção científica é matematicamente e relativisticamente possível, embora seja inviável com a tecnologia atual (à luz do que foi dito nos capítulos anteriores desta sequência, detalhar os entraves seria pura redundância). Mas isso não muda o fato de que o tempo é relativo — ou seja, ele passa mais devagar conforme a velocidade do observador aumenta.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Governadores "presidenciáveis" criticaram Lula por sua abordagem à crise tarifária. Tarcísio apontou divisão no país, Ratinho sugeriu diálogo com os EUA e Caiado acusou o petista de não querer resolver a situação. 

Na carta em que disparou o tarifaço, Trump expôs seu objetivo já no primeiro parágrafo: "A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro é uma vergonha internacional. (...) É uma Caça às Bruxas que deve acabar imediatamente!". Ao justificar a sanção política, a calopsita alaranjada alegou que a tarifa servirá para compensar políticas comerciais do Brasil que causaram "déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos." No mundo real, porém, os EUA colecionam superávits comerciais com o Brasil desde 2009.

A hipocrisia dos governadores  faz parte do jogo político, mas a percepção de que eles não estão sendo cínicos causa espécie. O contrário do antiamericanismo primário que o trio enxerga na política externa de Lula inclui concordar que o imperador da Casa Branca pode sequestrar as exportações brasileiras e exigir como resgate a impunidade de Bolsonaro. 

Se querem realmente chegar ao Planalto, os governadores precisam esclarecer o que têm a oferecer além da promessa de premiar Bolsonaro com um indulto. Detestar Lula e repudiar a utilização marqueteira que ele faz da crise pode ser um desabafo, mas está longe de ser uma solução.

 

Seria preciso atingir uma velocidade próxima à da luz (cerca de 1,08 bilhão de km/h) para que os efeitos da dilatação temporal fossem significativos, mas os relógios atômicos dos satélites — que orbitam a Terra a 28 mil km/h, a 20 mil km de altitude — atrasam 7 microssegundos por dia em função da velocidade e adiantam 45 microssegundos por dia devido à gravidade, que diminui conforme o observador se afasta da superfície do planeta.

 

Observação: Costuma-se imaginar que a gravidade no espaço é "zero", mas, a exemplo do "vácuo absoluto", isso não se verifica em nenhuma região do cosmos, que não só é um "mar" de partículas que surgem e desaparecem constantemente, como também está apinhado de campos gravitacionais.

 

Um engenheiro da NASA vem desenvolvendo um motor que utiliza íons e eletroímãs para acelerar partículas em um loop helicoidal, gerando empuxo suficiente para levar uma nave espacial a 99% da velocidade da luz. Outras possibilidades promissoras incluem "dobrar" o espaço-tempo de modo a atingir essa velocidade sem violar a relatividade, utilizar antimatéria como combustível, ou recorrer a reatores como o ITER e o SPARC para gerar energia limpa e praticamente ilimitada.

 

Esses projetos esbarram invariavelmente nos limites da física conhecida. A construção de uma Esfera de Dyson exigiria materiais de planetas inteiros, e os motores de dobra precisariam de energia negativa e/ou de matéria exótica, cuja existência carece de confirmação experimental direta. Mas Einstein nos ensinou que o impossível só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário, e Arthur C. Clarke, que desafiar limites é a única maneira de superá-los. 

 

Observação: A energia negativa pode ser um tipo de matéria exótica (qualquer substância capaz de gerar repulsão gravitacional), mas nem toda matéria exótica se baseia exclusivamente em energia negativa — que, por sua vez, é produzida em pequena escala por efeitos quânticos como o Efeito Casimir e o Princípio da Incerteza de Heisenberg).  

 

No final da 10ª temporada de Dr. Who, mais exatamente no episódio "World Enough and Time", o doutor e seus amigos ficam presos em uma espaçonave perto de um buraco negro. Na frente da nave, mais próxima ao buraco negro, o tempo passa mais lentamente do que na parte de trás. Assim, um pequeno grupo de "cybermen" (raça fictícia de ciborgues) na parte traseira da nave consegue se transformar em um imenso exército em questão de minutos (do ponto de vista do doutor). Esse mesmo efeito da gravidade sobre o tempo também foi incluído no roteiro do filme Interestelar.

 

Considerando que o tempo "congela" no referencial de quem se move à velocidade da luz, uma nave capaz desse prodígio levaria cerca de 4 anos para percorrer os 40 trilhões de quilômetros que separam a Terra de Proxima Centauri b, mas a dilatação temporal tornaria a viagem praticamente instantânea para os tripulantes. Por outro lado, a sonda espacial mais veloz que a NASA lançou até agora atingiu "míseros" 692 mil km/h. 


A essa velocidade, é possível ir a Marte em 13 dias e aos confins do Sistema Solar (heliopausa) em pouco mais de um ano, mas uma viagem até Próxima Centauri b levaria mais de 6 mil anos. Sem o benefício da dilatação temporal, somente uma tripulação de esponjas-do-mar Monorhaphis chuni — cuja expectativa de vida é de 11 mil anos — sobreviveria à viagem. 


Fica, portanto, a dica para a NASA: esqueçam os humanos e comecem a recrutar esponjas.