terça-feira, 2 de setembro de 2025

SOBRE CHATBOTS DE IA

ARMAS NÃO MATAM PESSOAS. PESSOAS MATAM PESSOAS.

Nelson Rodrigues dizia que "toda unanimidade é burra", mas tudo que é demais enche, e a dicotomia não é exceção. A exemplo da polarização na política, opiniões antagônicas sobre IA pululam como baratas no esgoto — e quem mais fala é justamente quem menos deveria falar.

 

O termo "inteligência artificial" foi cunhado em 1956 por John McCarthy, que o usou pela primeira vez nos convites para um evento no Dartmouth College, sobre a capacidade das máquinas de realizar tarefas humanas. Já a IA propriamente dita tem como um de seus pais Alan Turing — tido também como pai da computação —, e hoje está presente nos mais diversos setores, embora ainda enfrente inúmeros desafios, da interpretabilidade e do viés algorítmico às questões éticas.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Começa hoje o julgamento mais emblemático dos últimos tempos, em que os cinco ministros que compõem a Primeira Turma do STF decidirão a sorte de Jair Bolsonaro e de sete comparsas do chamado "núcleo crítico do golpe". Na definição de Tocqueville, a história é uma galeria de quadros onde há poucos originais e muitas cópias. O golpe falhado de Bolsonaro foi uma tentativa canhestra de reviver o Brasil pós-64. O que será pendurado na historiografia nacional como um quadro original é o julgamento dos golpistas pelo Supremo Tribunal Federal.

A história da tentativa de golpe é, na verdade, o registro dos crimes e das loucuras que levaram um capitão destrambelhado e sua tropa de degenerados — as "minhas Forças Armadas" — a tramar a desgraça da democracia. Registra-se também a maneira qualificada como a democracia lida com gente que tão desqualificada-

Na Presidência e fora dela, os maiores excessos a que o “mito” foi submetido sempre foram os de moderação, mas a condescendência diminuiu na proporção direta da aproximação do julgamento — que pode lhe render mais de 40 anos de prisão. 

Enquanto a Justiça aperta o cerco em torno do réu mais famoso desde Lula, outro espetáculo se desenrola na conjuntura política desta banânia. Como nos circos de antigamente, em que palhaços entretinham o público enquanto os verdadeiros artistas se preparavam para o picadeiro, uma disputa eleitoreira conseguiu ofuscar o que deveria ser celebrado: o cerco histórico às finanças do PCC. 

A queda de braço entre Tarcísio de Freitas, os ministros Lewandowski e Haddad, e o chefe da PF, Andrei Passos, é tão constrangedora quanto previsível: "É a maior operação da história", proclamou Lewandowski. Atingiu "o andar de cima" do PCC, ecoou Haddad. Tarcísio, incomodado com o esforço federal para capitalizar os dividendos políticos, postou um vídeo eleitoreiro reivindicando o protagonismo da inteligência paulista, enquanto Passos envenenou a atmosfera sugerindo vazamentos de informações sigilosas e lamentando que apenas seis das 14 ordens de prisão foram cumpridas.

A disputa é ironicamente contradita por uma frase em que Haddad quase acerta: "Espero que nossa coordenação com os estados se intensifique. Que deixemos as disputas menores para combater o crime em uníssono, como política de Estado." 

Faltou definir "uníssono", pois o que se vê é uma algaravia eleitoreira que ameaça desperdiçar o excelente trabalho conjunto de servidores federais e estaduais dos dez estados envolvidos na megaoperação.

 

Novidades sempre geraram incertezas, e incertezas sempre geraram insegurança. No tempo das cavernas, tempestades, terremotos, eclipses e outros fenômenos naturais eram atribuídos a forças sobrenaturais. Isso levou ao misticismo e, deste, às religiões. Na Idade Média, a Igreja receava que a prensa de Gutemberg propiciasse a proliferação de ideias "heréticas e subversivas", ameaçando seu controle sobre a ordem social, política e religiosa.

 

No século XVIII, a Revolução Industrial deu azo ao "Ludismo", que se caracterizou pela destruição de teares mecanizados; no século passado, a energia atômica gerou preocupações quanto a seu potencial uso para fins destrutivos; e neste, a IA se tornou a bola da vez. Mas receio e preocupação são uma coisa; fobia e pavor (medos patológicos), outra bem diferente. E, parafraseando Martin Luther King, "nada no mundo é mais perigoso do que a ignorância"

 

Num primeiro momento, os teares mecanizados geraram desemprego, mas o aumento da produtividade criou novos empregos e melhorou a qualidade de vida da população. Assim, além de se adaptarem às novas tecnologias, as pessoas minimamente racionais não demoraram a percebem os benefícios que as novidades proporcionam. Por outro lado, não se pode esquecer o que Einstein disse sobre a estupidez humana.

 

Confundindo os estúdios de Hollywood com o Oráculo de Delfos e inspirando-se em filmes de ficção como 2001: Uma Odisseia no EspaçoExterminador do Futuro e Superinteligência, os palpiteiros de plantão veem na IA uma força hostil que fatalmente dominará a humanidade. Portanto, é imperativo desmistificar mitos e garantir ela seja desenvolvida de forma responsável, utilizada com bom senso pelas pessoas e regulamentadas com vistas a sua aplicação ética e responsável.

 

Chatbots como ChatGPT, Gemini, Copilot, Meta AI e afins podem reduzir o tempo gasto em tarefas repetitivas e demoradas, como transcrição de áudios, elaboração de resumos, busca de referências e formatação de textos. A transcrição de áudio está disponível somente para assinantes das versões pagas do GPT e do Gemini, mas é possível usar ferramentas gratuitas como o Google Pinpoint e o NotebookLM para obter a transcrição de arquivos, tanto no computador como no celular. 

 

Essas ferramentas podem ainda processar e resumir textos, buscar referências, apontar fontes, links, citações, autores, datas, e por aí afora, mas é importante ter em mente que, dependendo do assunto e do uso que será feito das informações, é fundamental checar as respostas, pois sempre existe a possibilidade de erros e "alucinações". A maioria das versões gratuitas oferece recursos para formatar textos, redigir emails, relatórios, roteiros e resumos, gerar gráficos e tabelas, organizar agendas, planejar rotinas, distribuir tarefas, planejar horários, dividir atividades em etapas e criar cronogramas diários, semanais ou mensais — seja de forma integrada a aplicativos de calendário, seja como suporte autônomo. 

 

Resumo da ópera: a IA é uma aliada, não uma concorrente. Longe de substituir talentos humanos, essas ferramentas ampliam possibilidades e aceleram processos, mas deixam o julgamento estético e ético para as pessoas de carne e osso. Nunca é demais lembrar que armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas. O problema não está na ferramenta em si, mas no uso que se faz dela. 


No fim das contas, a IA não é mocinha nem vilã, apenas mais um reflexo de quem a cria e de quem a usa. O que nos deve preocupar não são as máquinas, mas as mentes que as desenvolvem e as mãos que as operam.