sábado, 11 de outubro de 2025

O TEMPO EM UM SEGUNDO

O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA, E A POUPANÇA BAMERINDUS… FALIU.

Nossos ancestrais começaram a buscar maneiras de medir a passagem do tempo quando perceberam padrões no amanhecer e no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. 


Em meados do terceiro milênio a.C., os egípcios criaram seu primeiro calendário, e os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias. Já no século XVI d.C., o papa Gregório XIII substituiu o calendário solar implantado por Júlio César em 46 a.C. pelo modelo que hoje é adotado por 189 dos 193 países-membros da ONU.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Há cinco meses, um empate técnico com Lula na pesquisa Quaest deu a Tarcísio de Freitas o status de super-homem do Centrão. Desde então, a musculatura eleitoral do governador de São Paulo definha. No mês passado, o empate estatístico virou desvantagem de oito pontos. Agora, a nova rodada revela que o petista bateria o bolsonarista com vantagem de 12 pontos se o segundo turno fosse hoje..

Nada mudou mais em Tarcísio nos últimos cinco meses do que a retórica: ele exacerbou o timbre bolsonarista, questionou a condenação de Bolsonaro; meteu-se na articulação do pedido de urgência para a anistia na Câmara, atacou o Supremo e chamou Alexandre de Moraes de "tirano". Mas o bolsonarismo desenfreado de Tarcísio produziu efeito inverso do pretendido.

As radiações de Bolsonaro parecem exercer sobre Tarcísio os efeitos de uma espécie kriptonita, o mineral usado na ficção pelos inimigos do super-homem para minar seus superpoderes. A diferença entre realidade e ficção é que o governador não precisou de nenhum Luthor para se tornar um presidenciável mais fraco. Pulou voluntariamente no colo do "mito".

Hoje, numa disputa direta contra Lula, Michelle Bolsonaro ostenta a mesma desvantagem de 12 pontos atribuída a Tarcísio. Não fosse pela rejeição de madame, refugada por 63% do eleitorado, o Centrão talvez desligasse o ´super-homem´ da tomada.


Os primeiros relógios de sol marcavam o tempo com base na sombra projetada por uma haste. Mais tarde vieram os relógios de água e de areia, amplamente utilizados por diversas civilizações até o século X d.C., quando surgiu o relógio mecânico. Cerca de 500 anos depois, apareceram os relógios de pêndulo, bem mais precisos, e, por volta da mesma época, o relógio de bolso virou símbolo de status e pontualidade — ou, ao menos, da intenção de tê-la.


O relógio de pulso nasceu das mãos de Abraham-Louis Bréguet a pedido da irmã de Napoleão Bonaparte, mas só se popularizou entre os homens quando Santos Dumont encomendou a Louis Cartier um modelo adaptado para ser usado durante seus voos de balão — afinal, tirar o relógio do bolso em pleno ar não era exatamente prático.


O mecanismo de corda automática, desenvolvido no final da década de 1920, consolidou-se nas seguintes como evolução natural da corda manual. Já nos anos 1960, o quartzo revolucionou a relojoaria ao permitir mecanismos muito mais precisos — inclusive os modelos digitais que dominariam o mercado nas décadas seguintes.


Hoje, monstros sagrados da relojoaria suíça como Rolex, Omega, Breitling e Tissot continuam produzindo peças sofisticadas e caríssimas, mas cuja precisão está a anos-luz dos smartwatches — que, sincronizados com servidores de horário na Internet (como o NTP.br), variam apenas um segundo a cada 30 bilhões de anos. Mas a pergunta que não quer calar é: quanto tempo tem um segundo?


Tecnicamente, um segundo é a unidade básica de tempo — 1/60 de um minuto, que equivale a 1/60 de uma hora, e assim por diante. Portanto, um segundo tem 1.000 milissegundos ou 0,0166667 minutos, certo? Não exatamente. Essa é uma visão prática, mas simplificada, que não considera as complexidades envolvidas na definição científica do segundo, baseada em transições atômicas e padrões de frequência.


A definição formal segue o Sistema Internacional de Unidades (SI), que padroniza medições de grandezas fundamentais — como metros, quilogramas, amperes, kelvins e, claro, segundos. A responsabilidade de manter e revisar essas definições cabe à Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), que as atualiza periodicamente para refletir os avanços da ciência e da tecnologia.


Em 1967, a 13ª CGPM definiu o segundo como “a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.” Em 1997, acrescentou-se que essa definição se refere a um átomo de césio em repouso, a uma temperatura de 0 K. Mais tarde, em sua 26ª reunião (2018), a entidade fixou o valor numérico da frequência de transição hiperfina do césio (ΔνCs) como sendo exatamente 9.192.631.770 Hertz — base para todos os relógios atômicos modernos.


A escolha do césio não é casual: suas propriedades atômicas proporcionam uma medição de tempo estável, precisa e universal, livre das variações da rotação terrestre. Antes disso, o segundo era definido como 1/86.400 do dia solar médio, o que se revelou problemático, já que a rotação da Terra oscila levemente devido a fatores como marés, terremotos e até ventos atmosféricos.


Com o avanço da tecnologia atômica, cientistas perceberam que padrões de transição entre níveis de energia de átomos e moléculas eram muito mais confiáveis para medir o tempo. Desde então, o segundo deixou de depender da instabilidade do planeta e passou a se apoiar na constância do universo microscópico.


Atualmente, experimentos com relógios ópticos — que usam átomos como o estrôncio e o itérbio — já superam a precisão dos relógios de césio, e provavelmente darão origem a uma nova redefinição do segundo nas próximas décadas. Afinal, medir o tempo com perfeição continua sendo uma das obsessões mais antigas — e mais humanas — da ciência.

Ironicamente, quanto mais precisamente conseguimos medir o tempo, mais ele parece escapar por entre os dedos. Talvez porque, ao fim e ao cabo, nenhum relógio — por mais atômico que seja — consiga atrasar o inevitável tic-tac da vida.