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sexta-feira, 19 de julho de 2019

E O CANUDO PLÁSTICO VIROU O VILÃO DA HISTÓRIA!


Antes do assunto do dia:

Sobre o esforço de Toffoli para justificar a estapafúrdia decisão que suspendeu processos e inquéritos recheados com dados do Coaf, diz Josias de Souza que cabe perguntar onde o presidente do Supremo enxergou "perseguição e "vingança" e por que razão usou o recurso de Flavio Bolsonaro como pretexto para suspender investigações a granel, desfazendo, mediante despacho liminar e solitário, o que o STF havia validado em decisões colegiadas. O ministro alega ter agido "em defesa do cidadão", mas o Coaf não lida com cidadão honesto. Se o órgão cometeu excessos, que sejam apontados, punidos e corrigidos. Fora disso, é mordaça. Algo que só interessa a malfeitores.

Espantado com a decisão do ministro? Pois não deveria, considerando que: 

Toffoli levou bomba em dois concursos para juiz de primeira instância (em 1994 e 1995, ambas as vezes na etapa preliminar), foi advogado do sindicato dos metalúrgicos de SBC, atuou nas campanhas de lula à presidência (em 1998, 2002 e 2006), ocupou o cargo de subchefe para assuntos jurídicos da casa civil da presidência da república (sob José Dirceu, o guerrilheiro de festim), foi promovido a advogado-geral da união e finalmente a ministro do STF (em 2009, na vaga aberta com a morte de Carlos Alberto Menezes Direito). Sua vida pregressa dificilmente justificaria a nomeação para a mais alta corte do país, mas no brasil o Q.I. (de “quem indica”) fala mais alto, e estar nas boas graças do grão-petralha fazia toda a diferença na época — apesar do mensalão, a popularidade do sevandija vermelho beirava a estratosfera, e assim o nome de seu apadrinhado foi aprovado no senado por 58 votos a favor, 9 contra e 3 abstenções (a votação foi secreta).

Nas sabatinas, o então candidato a ministro classificou como “coisa do passado” sua atuação como advogado de Lula e do PT e afirmou que não tinha mestrado, doutorado, nem escrevera qualquer livro simplesmente porque “optou pela advocaciaque é uma atividade nobre, honrosa, que na constituição federal como função essencial justiça, defensora das liberdades, da aplicação dos direitos". Vale lembrar que não é preciso ser bacharel em direito para concorrer a uma vaga no Supremo, mas exige-se do candidato “notável saber jurídico” e “reputação ilibada”, sem mencionar que a OAB exclui da lista de indicações para o quinto constitucional os advogados reprovados em concursos para a magistratura.

Curiosamente, mesmo não tendo sido autorizado a assinar uma simples sentença de despejo, e a despeito de ter sido condenado pela justiça do Amapá a devolver aos cofres públicos cerca de r$ 700 mil recebidos indevidamente, o apadrinhado de Lula se tornou ministro supremo. Mais adiante, ele seria citado na delação Léo Pinheiro por ter sido agraciado com reformas milionárias em sua mansão e acusado de receber mesada de r$ 100 mil de sua mulher, a advogada Roberta Maria Rangel, mas isso é outra conversa. 

Em 2012, durante o julgamento do mensalão, Toffoli não se deu por impedido e tampouco encontrou provas suficientes contra seu ex-chefe José Dirceu — que acabou condenado pela maioria da corte (pesa a seu favor o fato de ter considerado culpados Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e José Genoíno, ex-presidente do partido).

Há quem diga que Toffoli deixou a militância petista, mas a militância petista jamais deixou o ministro.

Segue o baile:

Político gosta mesmo é de jogar para a plateia. A decisão do prefeito Bruno Covas, de proibir canudos plásticos em estabelecimentos comerciais em São Paulo, foi logo copiada pelo governador João Dória e festejada pelos ecochatos. Na prática, porém, ela é quase tão inútil quanto um par de patins para uma sereia, já que os canudinhos são como a andorinha do ditado (uma andorinha não faz verão).

Depois que um vídeo exibindo imagens chocantes de uma tartaruga marinha com um canudo preso no nariz viralizou na Web, o artefato plástico virou o vilão da vez — e não só no Brasil. Iniciativas como a de Covas e Dória vêm se multiplicando mundo afora, mas declarar guerra contra um único produto está banalizando a discussão. Isso sem mencionar que o grande responsável pela poluição não é um objeto e nem uma somatória de objetos, mas as pessoas, que não sabem dar a destinação correta a seus resíduos.

Estabelecer multa de até R$ 8 mil a hotéis, restaurantes, casas de espetáculos, clubes noturnos e áreas de shows que insistirem em disponibilizar os canudos plásticos a seus clientes é penalizar ainda mais os comerciantes, que já lutam com dificuldade para pagar impostos escorchantes. Então, não seria mais inteligente buscar maneiras de conscientizar a população de que o meio ambiente deve ser preservado?

Pode-se argumentar que essas campanhas são inúteis, que o brasileiro só respeita a lei quando o descumprimento lhe dói no bolso. Pode ser. Mas se os canudinhos plásticos demoram centenas ou milhares de anos para se decompor, o que dizer, então, de garrafas PET, sacos de lixo, sofás, colchões, fogões e todo tipo de lixo que é descartado de forma indevida pela nossa “esclarecidíssima população”?

O canudinho não é um “artigo de primeiríssima necessidade”, mas crianças, tetraplégicos e pessoas com determinadas limitações dependem dele, e a substituição por um similar reutilizável não é tão simples quanto pode parecer. Uma das características do plástico é ser um instrumento estéril, além de, no caso específico do canudinho, combinar tração e flexibilidade com preço acessível. Canudos de metal, madeira, vidro ou aço inox, por exemplo, além de ser mais caros, podem oferecer riscos para algumas pessoas e precisam ser lavados e esterilizados a cada uso, o que aumenta os gastos com água e detergente. Isso sem mencionar que demonizar o canudo plástico com base na alegada dificuldade de reciclagem é ignorância: os canudinhos são formados basicamente por polipropileno (um derivado do petróleo), que não só é reciclável como serve de matéria-prima para vários outros itens de plástico.

Também não procede a informação de que, nos EUA, são descartados diariamente 500 milhões de canudos. Uma simples conta de padeiro mostra que, se fosse assim, os 327,9 milhões de norte-americanos usariam cada um 1,5 canudo ao dia. Estimativas mais realistas apontam para algo em torno de 172 milhões de canudinhos — ou seja, pouco mais de meio canudo por habitante/dia. Tampouco se sustenta a alegação de que um canudo biodegradável seria menos nocivo ao meio ambiente, pois a biodegradação é eficaz em produtos descartados na água ou em outros efluentes líquidos (como é o caso do xampu, do detergente e de outros produtos de limpeza). Nos resíduos sólidos biodegradáveis, só há vantagem para o meio ambiente se a compostagem for feita em usinas, que conseguem captar o metano gerado no processo. A questão é que a maioria do lixo vai para aterro, e os resíduos são incinerados. Em suma: em vez de aumentar o número de produtos biodegradáveis, bastaria reciclar os que não o são, evitando que acabassem no mar.

Observação: As sacolinhas biodegradáveis que os supermercados ora fornecem mediante pagamento são na verdade “bioquebráveis” — insto é, elas se desmancham e a gente não as vê mais, mas o “microplástico” resultante desse processo continua presente na natureza e pode ser ingerido por peixes, e peixes são usados como alimento pelos seres humanos. A substituição das sacolas antigas pelas novas trocou seis por meia dúzia e ainda penalizou o consumidor, já que, antes, o custo dessa “embalagem” era embutido no preço das mercadorias, o que dava a impressão de que as sacolinhas eram fornecidas “gratuitamente”. Já as sacolas biodegradáveis são cobradas no caixa à razão de R$ 0,10 a unidade, em média, mas não me consta que os mercados tenham reduzido o preço dos produtos na mesma proporção, o que, num país civilizado, caracterizaria enriquecimento ilícito.

Resumo da ópera: O canudinho virou um símbolo emblemático, mas proibir sua utilização não resolve merda nenhuma. O que se deveria buscar é maneiras de reduzir o lixo gerado e descartado incorretamente, pois apenas uma pequena parcela dos plásticos é reutilizada — cerca de 40% vão para aterros e 32% poluem o meio ambiente, em terra ou no mar. Talvez por isso o uso consciente do canudo e de qualquer plástico seja defendido por especialistas idôneos, desde que em conjunto com a conscientização da população. Já os ecochatos... Bom, deixa pra lá.

Meu finado pai dizia que, quando as finanças de uma empresa estão no vermelho, deve-se começar cortando o cafezinho. Mas é preciso ter em mente que cortar só o cafezinho não basta.