Antes do assunto do dia:
Segue o baile:
Político gosta mesmo é de jogar para a plateia. A decisão do prefeito Bruno Covas, de proibir canudos plásticos em estabelecimentos comerciais em São Paulo, foi logo copiada pelo governador João Dória e festejada pelos ecochatos. Na prática, porém, ela é quase tão inútil quanto um par de patins para uma sereia, já que os canudinhos são como a andorinha do ditado (uma andorinha não faz verão).
Sobre o esforço de Toffoli
para justificar a estapafúrdia decisão que suspendeu processos e inquéritos
recheados com dados do Coaf, diz
Josias de Souza que cabe perguntar onde o presidente do Supremo enxergou
"perseguição e "vingança" e por que razão usou o recurso de Flavio Bolsonaro como pretexto para
suspender investigações a granel, desfazendo, mediante despacho liminar e
solitário, o que o STF havia
validado em decisões colegiadas. O ministro alega ter agido "em defesa do
cidadão", mas o Coaf não lida
com cidadão honesto. Se o órgão cometeu excessos, que sejam apontados, punidos
e corrigidos. Fora disso, é mordaça. Algo que só interessa a malfeitores.
Espantado com a decisão do ministro? Pois não deveria, considerando que:
Espantado com a decisão do ministro? Pois não deveria, considerando que:
Toffoli levou
bomba em dois concursos para juiz de primeira instância (em 1994 e 1995, ambas
as vezes na etapa preliminar), foi advogado do sindicato dos metalúrgicos
de SBC, atuou nas campanhas de lula à presidência (em 1998, 2002 e
2006), ocupou o cargo de subchefe para assuntos jurídicos da casa civil da
presidência da república (sob José
Dirceu, o guerrilheiro de festim), foi promovido a advogado-geral da união
e finalmente a ministro do STF (em
2009, na vaga aberta com a morte de Carlos
Alberto Menezes Direito). Sua vida pregressa dificilmente
justificaria a nomeação para a mais alta corte do país, mas no brasil o Q.I. (de “quem indica”) fala mais
alto, e estar nas boas graças do grão-petralha fazia toda a diferença na época —
apesar do mensalão, a popularidade do sevandija vermelho beirava a estratosfera,
e assim o nome de seu apadrinhado foi
aprovado no senado por 58 votos a favor, 9 contra e 3 abstenções (a votação foi
secreta).
Nas sabatinas, o então candidato a ministro classificou como
“coisa do passado” sua atuação como
advogado de Lula e
do PT e afirmou que não tinha
mestrado, doutorado, nem escrevera qualquer livro simplesmente porque “optou pela advocacia, que é uma atividade nobre, honrosa, que na
constituição federal como função essencial justiça, defensora das liberdades,
da aplicação dos direitos". Vale lembrar que não é preciso ser
bacharel em direito para concorrer a uma vaga no Supremo, mas exige-se do candidato “notável saber jurídico” e “reputação
ilibada”, sem mencionar que a OAB exclui
da lista de indicações para o quinto
constitucional os advogados reprovados em concursos para a
magistratura.
Curiosamente, mesmo não tendo sido autorizado a assinar uma
simples sentença de despejo, e a despeito de ter sido condenado pela justiça do
Amapá a devolver aos cofres públicos cerca de r$ 700 mil recebidos
indevidamente, o apadrinhado de Lula se
tornou ministro supremo. Mais adiante, ele seria citado
na delação Léo Pinheiro por ter sido agraciado com reformas
milionárias em sua mansão e acusado de receber
mesada de r$ 100 mil de sua mulher, a advogada Roberta Maria Rangel,
mas isso é outra conversa.
Em 2012, durante o julgamento do mensalão, Toffoli não se deu por impedido e
tampouco encontrou provas suficientes contra seu ex-chefe José Dirceu — que acabou condenado
pela maioria da corte (pesa a seu favor o fato de ter considerado
culpados Delúbio Soares,
ex-tesoureiro do PT, e José Genoíno, ex-presidente do partido).
Há quem diga que Toffoli
deixou a militância petista, mas a militância petista jamais deixou o ministro.
Segue o baile:
Político gosta mesmo é de jogar para a plateia. A decisão do prefeito Bruno Covas, de proibir canudos plásticos em estabelecimentos comerciais em São Paulo, foi logo copiada pelo governador João Dória e festejada pelos ecochatos. Na prática, porém, ela é quase tão inútil quanto um par de patins para uma sereia, já que os canudinhos são como a andorinha do ditado (uma andorinha não faz verão).
Depois que um vídeo exibindo imagens chocantes de uma
tartaruga marinha com um canudo preso no nariz viralizou na Web, o artefato plástico
virou o vilão da vez — e não só no Brasil. Iniciativas como a de Covas e Dória vêm se multiplicando mundo afora, mas declarar guerra contra
um único produto está banalizando a discussão. Isso sem mencionar que o grande
responsável pela poluição não é um objeto e nem uma somatória de objetos, mas
as pessoas, que não sabem dar a destinação correta a seus resíduos.
Estabelecer multa de até R$ 8 mil a hotéis, restaurantes, casas de espetáculos, clubes
noturnos e áreas de shows que insistirem em disponibilizar os canudos plásticos
a seus clientes é penalizar ainda mais os comerciantes, que já lutam com
dificuldade para pagar impostos escorchantes. Então, não seria mais inteligente
buscar maneiras de conscientizar a população de que o meio ambiente deve ser
preservado?
Pode-se argumentar que essas campanhas são inúteis, que o
brasileiro só respeita a lei quando o descumprimento lhe dói no bolso. Pode ser.
Mas se os canudinhos plásticos demoram centenas ou milhares de anos para se
decompor, o que dizer, então, de garrafas PET, sacos de lixo, sofás, colchões,
fogões e todo tipo de lixo que é descartado de forma indevida pela nossa
“esclarecidíssima população”?
O canudinho não é um “artigo de primeiríssima necessidade”, mas
crianças, tetraplégicos e pessoas com determinadas limitações dependem dele, e
a substituição por um similar reutilizável não é tão simples quanto pode
parecer. Uma das características do plástico é ser um instrumento estéril, além
de, no caso específico do canudinho, combinar tração e flexibilidade com preço
acessível. Canudos de metal, madeira, vidro ou aço inox, por exemplo, além de
ser mais caros, podem oferecer riscos para algumas pessoas e precisam ser
lavados e esterilizados a cada uso, o que aumenta os gastos com água e
detergente. Isso sem mencionar que demonizar o canudo plástico com base na
alegada dificuldade de reciclagem é ignorância: os canudinhos são formados
basicamente por polipropileno (um derivado do petróleo), que não só é reciclável
como serve de matéria-prima para vários outros itens de plástico.
Também não procede a informação de que, nos EUA, são
descartados diariamente 500 milhões de canudos. Uma simples conta de padeiro
mostra que, se fosse assim, os 327,9 milhões de norte-americanos usariam cada
um 1,5 canudo ao dia. Estimativas mais realistas apontam para algo em torno de
172 milhões de canudinhos — ou seja, pouco mais de meio canudo por
habitante/dia. Tampouco se sustenta a alegação de que um canudo biodegradável
seria menos nocivo ao meio ambiente, pois a biodegradação é eficaz em produtos
descartados na água ou em outros efluentes líquidos (como é o caso do xampu, do
detergente e de outros produtos de limpeza). Nos resíduos sólidos
biodegradáveis, só há vantagem para o meio ambiente se a compostagem for feita
em usinas, que conseguem captar o metano gerado no processo. A questão é que a
maioria do lixo vai para aterro, e os resíduos são incinerados. Em suma: em vez
de aumentar o número de produtos biodegradáveis, bastaria reciclar os que não o
são, evitando que acabassem no mar.
Observação: As sacolinhas biodegradáveis que os
supermercados ora fornecem mediante pagamento são na verdade “bioquebráveis” —
insto é, elas se desmancham e a gente não as vê mais, mas o “microplástico”
resultante desse processo continua presente na natureza e pode ser ingerido por
peixes, e peixes são usados como alimento pelos seres humanos. A substituição das
sacolas antigas pelas novas trocou seis por meia dúzia e ainda penalizou o
consumidor, já que, antes, o custo dessa “embalagem” era embutido no preço das mercadorias,
o que dava a impressão de que as sacolinhas eram fornecidas “gratuitamente”. Já
as sacolas biodegradáveis são cobradas no caixa à razão de R$ 0,10 a unidade,
em média, mas não me consta que os mercados tenham reduzido o preço dos
produtos na mesma proporção, o que, num país civilizado, caracterizaria
enriquecimento ilícito.
Resumo da ópera: O canudinho virou um símbolo emblemático,
mas proibir sua utilização não resolve merda nenhuma. O que se deveria buscar é
maneiras de reduzir o lixo gerado e descartado incorretamente, pois apenas uma
pequena parcela dos plásticos é reutilizada — cerca de 40% vão para aterros e
32% poluem o meio ambiente, em terra ou no mar. Talvez por isso o uso
consciente do canudo e de qualquer plástico seja defendido por especialistas
idôneos, desde que em conjunto com a conscientização da população. Já os
ecochatos... Bom, deixa pra lá.
Meu finado pai dizia que, quando as finanças de uma empresa
estão no vermelho, deve-se começar cortando o cafezinho. Mas é preciso ter em
mente que cortar só o cafezinho não basta.