Na última sexta-feira, em meio à pantomima midiática da
prisão do demiurgo de Garanhuns, Geraldo
Alckmin e João Dória deixaram seus
cargos para concorrer à presidência da República e ao governo do estado,
respectivamente.
Observação: Alckmin, conhecido como picolé de chuchu por sua notória “insipidez”, deixou o Palácio dos Bandeirantes depois de ocupá-lo
por 7 anos e 3 meses consecutivos. Não foi a primeira vez. Também de olho na presidência, ele passou o bastão para o vice, Cláudio Lembo em 2006, mas obteve somente 39,17%
dos votos válidos no segundo turno e acabou derrotado por Lula, que se reelegeu com 60,83% dos votos.
Mesmo sendo novato na política, Doria enfrentou bravamente a hostilidade da mídia ― que por vezes
chegava a ser cômica. Sua vitória foi durante muito tempo dada como impossível
pelas “pesquisas eleitorais”, e todo santo dia sua candidatura “entrava em
crise”. Mesmo assim, o tucano obteve mais 3
milhões de votos já no primeiro turno ― fato inédito em São Paulo desde a
redemocratização do país ―, e deixou no chinelo o “poste” de Lula, devido em grande parte a imagem
de gestor que vendeu à população paulistana durante a campanha ― população essa
que desejava desesperadamente alguém como ele, ou, pelo menos, parecido com a
propaganda que ele fazia de si próprio.
A gestão começou bem ― com o sucesso do Corujão da Saúde, do Empreenda Fácil e do Agenda Fácil, dentre outros projetos ―,
mas decaiu depois de poucos meses, quando o Doria já não escondia sua
frustração com a burocracia e a deixava evidente que tinha planos mais
ambiciosos ― como concorrer à presidência da República, embora Alckmin, seu padrinho político, fosse a
escolha natural do PSDB depois que Aécio Neves, delatado por Joesley Batista, só não acabou na
cadeia devido ao foro privilegiado, e só não teve o mandato cassado porque o Conselho de Ética do Senado é uma piada.
Observação: Como bem observou J.R. Guzzo, a mídia brasileira, incluindo a paulistana, tem um
instinto infalível para ficar do lado errado da opinião pública, sempre
parecendo querer exatamente o que a população claramente não quer. Gosta, por
exemplo, da “cracolândia”, dos “moradores de rua”, mendigos e afins, quando o
paulistano não gosta de nada disso. Tanto é que, nas eleições de 2016, a
população estava exasperada com uma prefeitura e um prefeito que insistiam em
governar a cidade na contramão do seu entendimento. A gestão do poste número 2 de Lula (se considerarmos Dilma
o poste número 1) foi um
filme-catástrofe do começo ao fim, com Haddad
e sua equipe de “cientistas sociais”, urbanistas alternativos, arquitetos sem
obras e militantes de “movimentos sociais” querendo fazer uma revolução
socialista queimando pneus nas ruas e recebendo verbas da prefeitura, o que resultou
numa tempestade perfeita em matéria de decisões ruins.
Para encurtar a conversa, o prefeito-gestor exerceu por 15 meses o mandato de 4 anos para o qual foi
eleito, mas nunca o quis de verdade ― talvez quisesse ser presidente da República,
governador do estado, provedor da Santa Casa ou qualquer coisa, menos prefeito
de São Paulo. E não poderia mesmo resolver os problemas da maior e mais
importante metrópole do país, com um PIB
equivalente ao de Portugal, se desde o começo mirou o Palácio Anchieta como trampolim para voos mais ambiciosos.
O que São Paulo precisa é de um mínimo de coerência de seus
gestores. Mas como esperar coerência administrativa de um prefeito assume o
cargo já pensando em deixá-lo? Como acreditar que pessoas assim se interessam
pela cidade, pelo estado ou pelo país que foram eleitos para governar? Se
alguém quer construir uma carreira na política, que ao menos respeite o mandato
para o qual foi eleito. Aliás, se a legislação eleitoral tornasse inelegível
por pelo menos 10 anos quem deixa o mandato precocemente, talvez esses
arrivistas, que planejam pular de cargo em cargo para subir na vida, não se
sentissem tão à vontade para trair seus eleitores.
Para o mal dos nossos pecados, ninguém sabe quem é o que pensa o vice de Doria. Sabe-se apenas que ele é neto de
Mário Covas ― que foi prefeito,
senador e governador de São Paulo de janeiro de 1995 a janeiro de 2001, quando
se afastou do cargo devido ao câncer que resultou na sua morte em março daquele
ano ―, que se formou em Direito pela USP e em economia pela PUC, e que sua estreia na vida pública se deu em 2004, quando disputou (mas não ganhou) o cargo de vice-prefeito de Santos (no litoral paulista). Em 2006, ele se elegeu deputado estadual com 122 mil votos, e em 2104, depois de ter aberto mão de concorrer à prefeitura de Sampa (para dar lugar a José Serra, segundo ele, mas fala-se que o real motivo seria o fato de não ter denunciado uma tentativa de suborno), conseguiu uma cadeira na Câmara Federal.
Promovido a prefeito da maior cidade da América Latina aos 38 anos
(completados em 7 de abril, dia da sua posse), Bruno Covas parece entender
tanto de São Paulo quanto eu entendo de missa. O que ele representa com
perfeição ― e uma vez mais na política tupiniquim ― é a praga do vice (para quem não se lembra, Tancredo nos deu Sarney,
Collor nos deu Itamar, Dilma nos deu Temer e agora Doria nos dá Bruno Covas). Em recente entrevista à Vejinha
(Veja São Paulo), o atual prefeito, que até o
ano passado pesava mais de 100 quilos e agora está com apenas 84 (compatíveis
com seu 1,84 m), disse ser fã de rock, acordar antes das 6 da matina para fazer
musculação na academia, estar divorciado há quatro anos e curtir baladas.
Mas afirmou também que a vida de solteiro é coisa do passado, já que "se casaria com a cidade" no dia 7, quando passaria a ocupar o gabinete mais importante do Palácio Anchieta.
Observação: Sete meses depois da posse como vice, em
2017, Covas viajou de férias com 3 amigos para a Croácia, onde curtiu praias, piscinas e
o agito do verão europeu, raspou a cabeça e deixou crescer a barba. Em outubro,
durante uma esticada em Paris (desta vez em “missão oficial”, embora tenha
participado de apenas dois eventos), depois de se indispor com Doria por conta da demissão de Fábio Lepique, seu adjunto na pasta das
regionais, ele foi substituído
pelo advogado Cláudio Carvalho e
assumiu a recém-criada Casa Civil.
O novo prefeito afirma que sua experiência no
legislativo e traquejo político o qualificam para administrar uma cidade como São Paulo.
E o que teremos oportunidade de conferir a partir desta semana. Boa sorte a ele, e melhor sorte a nós.
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