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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

LUCUBRAÇÕES DE FINAL DE ANO.

É CURIOSA A MANEIRA DE ADMINISTRAR DOS PETISTAS, QUE NÃO RARO CRIAM DIFICULDADES PARA VENDER FACILIDADES. 

Eu não pretendia editar o Blog neste último dia de 2013, mas como a passagem do ano estimula lucubrações sobre os mais diversos temas, resolvi dedicar algumas linhas ao cenário paulistano neste primeiro ano da gestão Haddad.
Viver em Sampa custa mais caro do que em Londres, Berlin ou Roma, a começar pela Pizza Marguerita (R$ 54 em média). Mas, ainda que paguemos impostos até para respirar, nossa qualidade de vida fica bem aquém do desejado, talvez por carregarmos nas costas boa parte dos demais Estados, ou quem sabe pela ganância dos políticos corruptos, que não deixam sobrar dinheiro para saúde, educação, segurança, transporte e outros benefícios essenciais ao bem-estar dos nossos 12 milhões de habitantes. Para piorar, nossos alcaides parecem ter vocação inata para depredar o pouco de bom que herdam de seus antecessores e, de quebra, superá-los em incompetência. Luiza Erundina, por exemplo, queria aterrar o “Buraco do Jânio” (cujo nome oficial é Passagem Subterrânea Tom Jobim), para que a obra – já em fase final (foto acima, à direita) – não rendesse louros ao seu predecessor.
Quando José Serra (PSDB) renunciou à prefeitura para concorrer ao governo do Estado, em 2006, Gilberto Kassab (PFL) assumiu o cargo e, a despeito dos baixos índices de aprovação, conseguiu se reeleger em 2008. Sua administração foi pífia e transcorreu sob suspeitas de corrupção – seu patrimônio cresceu 316% acima da inflação no período em que foi deputado estadual e secretário de planejamento de Pitta, e apesar de seu mandato ter sido cassado pelo Juiz da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo (decisão revertida mais adiante pelo TRE) e de um possível envolvimento no escândalo dos fiscais do ISS (que desviaram cerca de meio bilhão de reais), e do recente suicídio de Rubens Jordão, seu braço direito e coordenador financeiro, Kassab tenciona disputar o governo do Estado nas próximas eleições.
Já o nosso atual burgomestre foi eleito devido ao carisma astronômico do “sumo pontífice do Lulopetismo” – da mesma forma que a “fada dos dentes”, pois José Dirceu, imerso até as orelhas na lama do Mensalão, não tinha condições de concorrer à sucessão presidencial.

Observação: Se lhe parece absurda a perspectiva de um presidente da república despachando do Complexo Penitenciário da Papuda, basta lembrar de que estamos no Brasil, onde tudo é possível. Veja o caso de Natan Donadon, que cumpre pena em regime fechado por peculato e formação de quadrilha, mas continua investido dos poderes de deputado federal (o processo por quebra de decoro parlamentar deve ser votado pelo plenário da Câmara a partir de fevereiro de 2014). Ou então do também deputado federal Paulo Maluf, que consta da “lista vermelha” de procurados pela Interpol por crimes de conspiração em 4º grau, transferência de recursos de origem ilícita e roubo de fundos públicos, e continua com trânsito livre no Congresso Nacional.

Só que o feitiço virou contra o feiticeiro, pois as criaturas se mostraram avessas a seguir fielmente os comandos do criador: enquanto Dilma se revelou uma administradora medíocre, Fernando “Malddad” se tornou tão impopular quanto Kassab e Pitta em seus primeiros anos de governo – o que vem preocupando o Chefe. A pior avaliação foi feita por eleitores com renda familiar mensal de mais de 10 salários mínimos (13% consideram a gestão ótima ou boa, 40%, regular, e 47%, ruim ou péssima), e a melhor, pelos que ganham de 2 a 5 salários mínimos (19% consideram a administração ótima ou boa, 41% avaliam como regular, e 37%, ruim ou péssima). Dentre outros devaneios, Haddad nos brindou com a ideia do ARCO DO FUTURO – projeto urbanístico faraônico a ser construído ao longo da Marginal Tietê –, que acabou excluído do Plano de Metas da prefeitura para esta gestão.

Observação: De suas 728 mirabolantes promessas de campanha, apenas 100 resistiram ao terceiro mês de governo, embora Haddad continue apregoando novas medidas milagrosas, que só mesmo a Velhinha de Taubaté...

Para piorar, ao cumprir ordens da “Chefa” e ajudar o ministro Guido Mantega a mascarar a inflação, o prefeito jogou para maio o aumento das tarifas do transporte público, e com isso acendeu o pavio que inflamou a população e resultou nos protestos de junho, que começaram em Sampa e acabaram eclodindo Brasil afora – ainda que com excessos lamentáveis e uma péssima atuação do poder constituído para coibi-los. Para complicar ainda mais a situação, um aumento recorde para o IPTU, destinado a custear o subsídio à condução, foi aprovado mediante manobras sujas da base governista e acabou suspenso por liminar judicial – veremos em breve o resultado.
Depois dos protestos de junho, Haddad vem exibindo uma patente má-vontade em relação à parcela da população que se recusa “teimosamente” a trocar o carro pelo transporte público. Como se isso fosse possível, pois a maioria de nós tem compromissos diários, serviços a prestar e um vasto leque de assuntos a tratar. Por pior que seja o trânsito, o carro ainda nos dá melhores condições de realizar esses afazeres, a despeito de, além do preço de compra e dos impostos, sermos obrigados a gastar uma pequena fortuna com seguro e estacionamento, pois a segurança pública é uma piada.
Em vez de investir em soluções para harmonizar o transporte público e o privado, o prefeito prefere criar faixas reversíveis para ônibus, que são subutilizadas em muitos horários, mas forçam os veículos particulares a se espremer como sardinhas em lata nas pistas restantes e avançar a passos de cágado. Depois de sua implantação, a velocidade média dos coletivos subiu de 13,8 para “vertiginosos” 20,4 Km/h...

Observação: Será que a economia de alguns minutos no final de cada viagem justifica os monstruosos congestionamentos impostos aos carros particulares, o aumento no consumo de combustível, a piora na qualidade do ar e os problemas causados aos comerciantes, que verão seu movimento encolher devido à impossibilidade de a clientela estacionar na porta ou nas proximidades dos estabelecimentos?

O deslocamento do paulistano atinge, em média, duas horas e 15 minutos por dia, e quem usa carro é quem perde mais tempo. Curiosamente, os ônibus, que em 2012 transportavam 26% da população, agora levem 24%, e o número de pessoas que passaram a andar a pé subiu 5% no mesmo período, deixando clara a impressão de que algo continua muito errado.
É curioso que, enquanto a presidente reduz o IPI para ajudar as montadoras a desovar seus estoques, nosso conspícuo prefeito faz das tripas coração para transformar a vida dos motoristas num verdadeiro inferno. Será que ele acredita mesmo que, sem uma alternativa funcional, o paulistano vai deixar o carro em casa?
Goste ou não sua excelência, há 7,5 milhões de veículos registrados em Sampa – no Estado, o número ultrapassa o de habitantes da Austrália! – e apenas criar faixas exclusivas, sem introduzir mudanças substanciais na qualidade, regularidade e distribuição dos ônibus não vai trazer mais conforto para quem já utiliza o transporte público nem – muito menos – atrair parte da população que hoje se desloca em automóveis. Agora, se o aumento da arrecadação for o objetivo principal, Haddad acertou na mosca.
Estima-se que os recursos provenientes das multas atingirão um novo recorde em 2014 (cerca de R$ 1,2 bilhão). Nos primeiros oito meses deste ano, dos 6,4 milhões de multas aplicadas aos motoristas que circulam pela capital, mais de 350 mil foram por invasões em corredores e faixas exclusivas de ônibus, registradas por um exército de 1.500 “marronzinhos” da CET e 690 da SPTrans, além de 200 novos radares posicionados estrategicamente para fotografar os infratores.
Em seu inferno zodiacal, o prefeito vem enfrentando sérias dificuldades para recuperar sua imagem. Recentemente ele tentou ganhar pontos posando como aquele que lutaria para debelar a máfia dos fiscais do ISS, mas acabou dando um tiro no pé, pois o nome do seu (já demitido) secretário de governo Antonio Donato era citado em pelo menos cinco episódios da investigação.
Enfim, o jeito é esperar para ver como a coisa vai ficar.

Abraços a todos e, mais uma vez, boas entradas.