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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O PRIMEIRO ALMOÇO DO ANO E O BAURU COMME IL FAUT



O primeiro almoço do ano é menos “formal” do que o do Natal, e talvez por isso muita gente não abre mão de um churrasco, apesar de o preço da carne estar nas alturas. Enfim, se você aprecia carne vermelha, mas não a incluiu no menu de hoje, que tal degustar à noitinha um bauru “de verdade”, feito com rosbife de lagarto?

Você vai precisar de:

— 1 peça de lagarto bem limpo (o peso varia conforme a quantidade de lanches que se pretende fazer; para algo em torno de 10 sanduíches, 1,5 Kg está de bom tamanho);
— ½ chávena de mostarda amarela;
— 4 dentes de alho grandes, bem socados;
— 1 cebola grande, picada em pedacinho bem miudinhos;
— 1 colher (sopa) de ketchup;
— ½ chávena de molho inglês;
— sal, pimenta-do-reino e molho de pimenta vermelha (tipo Tabasco) a gosto.

 Para preparar o rosbife:

1) Bata bem o lagarto e amarre-o com um barbante, de modo que ele assuma um formato arredondada e bem firme.

2) Unte a peça com a mistura de temperos e deixe-a na geladeira por pelo menos 12 horas (num saco plástico que você deve mudar de posição para que os condimentos sejam absorvidos por igual).

3- Doure a carne em óleo fervente até que fique bem corada por todos os lados, acomode-a numa travessa refratária e leve ao forno por 1 ½ hora (borrifando molho de mostarda diluído em 1/2 xícara chá de água de tempos em tempos).

4- Depois que o assado esfriar, leve-o de volta à panela e regue com o restante do molho, adicionando água fervente até que todo o tempero que sobrou no fundo seja incorporado. Depois, é só cortar em fatias bem fininhas (preferencialmente com uma faca elétrica) e reservar.

Para fazer os lanches:

1- Coloque uma colher de sopa de manteiga e outra de vinagre de vinho branco numa panelinha com um pouco de água quente e derreta quantidades iguais de queijo prato, suíço, gruyère e estepe (cerca de 30 g de cada para cada lanche);

2- Corte pãezinhos franceses ao meio (no sentido horizontal), remova o miolo da parte superior, cubra a inferior com 5 ou 6 fatias do rosbife (cerca de 75 g) alinhadas no sentido transversal, coloque sobre elas 3 rodelas finas de tomate e 3 de pepino em conserva.

3- Encha a “canoa” superior com a pasta de queijo derretido, salpique orégano e corte os sandubas ao meio, pela diagonal.

Bom apetite e ótimas entradas.

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

FELIZ ANO NOVO A TODOS


Aos que me acompanharam durante mais este ano, aos que estão chegando agora e  aos que ainda vão chegar, desejo um feliz 2020, com muita paz, saúde e prosperidade. É certo que a maré não está para peixe, mas, se perdermos a esperança, nada nos restará. Dito isso, seguem algumas dicas importantes, sobretudo porque, do ponto de vista do abuso do álcool, o Réveillon só perde para o Carnaval — e olhe lá. E para quem é chegado numa(s) birita(s), a ressaca pode ser cruel.

Não existe formula mágica para evitar a ressaca. A única maneira comprovadamente eficiente é não beber, mas essa recomendação é tão absurda quanto os votos quilométricos do presidente dos togados supremos (que deve passar o cetro para o ministro Luiz Fux agora em setembro, caso não seja impichado antes). 

Bebidas como vodca e gim produzem menos ressaca do que whisky, conhaque ou vinho tinto, por exemplo (mesmo assim, atente para a qualidade do produto). Para evitar o vexame do pileque e prevenir o inexorável desconforto do dia seguinte, beba moderadamente e forre o estômago antes e durante o vira-copos, pois assim o álcool será absorvido mais lentamente e seu organismo terá mais tempo para metabolizá-lo. Mas tome cuidado para não exagerar, ou você vai vomitar tudo que comeu no meio da festa.

Intercalar suco, refrigerante ou água entre as biritas não só ajuda a “diluir” o álcool como mantém o organismo hidratado. Segundo alguns “especialistas”, comer frutas ou algo gorduroso antes de beber também pode ajudar (sugiro miolo de pão besuntado com manteiga ou embebido em azeite de oliva).

Quem tem problemas com a balança deve redobrar a atenção: uma latinha de cerveja (ou garrafinha long neck) tem entre 150 e 200 calorias. Para queimá-las, uma pessoa de 70 quilos precisa andar pelo menos dois quilômetros. Outra coisa: o álcool da cerveja é o mesmíssimo álcool do uísque, do vinho, da vodca, do gim, do conhaque etc.; o que muda é só a concentração.

A ressaca é consequência do abuso do álcool, mas tende a ser potencializada quando a bebida é de má qualidade. Se você encontrar vodca polonesa a preço de cachaça industrializada, mantenha distância, pois o troço deve ser venenoso.

Repito: não existe formula mágica para evitar as consequências de um porre homérico, mas pode-se ao menos minimizar seus efeitos. A não ser que você entre em coma alcoólica — situação em que deve procurar um pronto-socorro —, deixe o corpo processar naturalmente (ou regurgitar) o excesso de álcool, evitando, nesse entretempo, comidas ácidas, gordurosas ou de difícil digestão. Torradas com mel ou geleia no café da manhã e uma sopa ou salada de legumes cozidos no almoço devem deixar você pronto pra outra.

Ressaca não se cura com mais álcool. Ainda que isso proporcione um alívio no curto prazo — e sirva de desculpa para os paus-d'água tomarem mais uma birita ao acordar, mesmo quando não estão de ressaca —, mais ora menos ora o nível de álcool no seu organismo vai ter que baixar. Se as medidas profiláticas não forem suficientes, prepare-se: seu dia seguinte será tão desastroso quanto o cenário político tupiniquim, com um presidente bizarro, um legislativo eivado, um judiciário a serviço do bandidagem e uma imprensa que venera Lula e Verdevaldo e quer ver Sérgio Moro e Deltan Dallagnol na cadeia.

De novo: não existem fórmulas mágicas para neutralizar a ressaca ― a menos que você esteja em Las Vegas, onde o Hangover Heaven (paraíso da ressaca, numa tradução livre), do médico Jason Burke, promete solucionar o problema: basta um telefonema para o pé-de-cana ser atendido por um ônibus que funciona como clínica itinerante e receber uma solução intravenosa com soro fisiológico, vitaminas B1 e B12, anti-inflamatórios, anti-náuseas e outras substâncias destinadas a ajudar na desintoxicação do organismo.

Boas entradas e um ótimo 2020.

sábado, 31 de dezembro de 2016

RETROSPECTIVA DOIS MIL E DEZECHEGA



A “Delação do Fim do Mundo” ― acordo de leniência da Odebrecht e delações de 77 executivos da alta cúpula da empreiteira ― deverá ser homologado no mês que vem pelo ministro Teori Zavascki, que trabalhará com sua equipe durante o recesso na análise da farta documentação e dos 900 depoimentos gravados, que envolvem mais de 200 políticos, dentre os quais alma viva mais honesta do Brasil, sua carrancuda pupila e sucessora e o atual presidente da Banânia. Céus e terras, tremei!

O fato de o nome do presidente ter sido suscitado nas delações (só na confissão do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, ele é mencionado 43 vezes) não melhora em nada sua popularidade. Temer já era rejeitado tanto pelos simpatizantes da petralhada, que o veem como traidor e golpista, quanto pelos que comemoraram o final do governo petista ― afinal, o atual presidente não só foi vice da calamidade em forma de gente, mas também presidente do PMDB, de longe o maior partido da base aliada do governo petista, e o que mais corruptos abriga em suas fileiras (em números absolutos).

Temer ascendeu à presidência porque a Constituição não nos dava outra opção para penabundar a imprestável gerentona de araque e pôr fim aos desmandos lulopetistas. No entanto, gostemos ou não, é ele quem está no timão e a quem compete evitar que esta Nau dos Insensatos se torne um Titanic de dimensões continentais ― uma tarefa difícil, notadamente quando falta a seu executor respaldo popular e sobram perrengues como a queda de 6 ministros em apenas seis meses de governo, a oposição ferrenha e sistemática dos defensores do quanto pior melhor, as limitações inerentes ao presidencialismo de coalizão, a sombra ameaçadora da Lava-Jato, o estremecimento das relações entre os Poderes, e por aí vai.

Para muitos, o atual governo é uma decepção. Afinal, dizem eles, sete meses se passaram e o país não mudou, a economia continua patinando, o desemprego, crescendo e o PIB, em patamares calamitosos, não dá sinal de recuperação. E se inflação recuou, foi devido à recessão, não às medidas adotadas pela nova equipe econômica ― que só deverão surtir efeitos no médio e no longo prazos. Mas se esquecermos o micro por um instante e focarmos o macro, veremos que, primeiro, atribuir a Temer a culpa por toda essa desgraça é injusto, pois quem abriu a Caixa de Pandora foi Dilma; segundo, porque Brasil de 2016 está longe de ser o mesmo país que era no apagar luzes de 2015. Senão, vejamos.

Como bem salientou J.R. Guzzo em mais um análise memorável (publicada na edição de 28 de dezembro da revista Veja), no final do ano passado tínhamos uma presidente encurralada no Palácio do Planalto, sem autoridade, sem nexo e sem respeito; um presidente da Câmara descrito como homem de poderes sobrenaturais, que ocupava uma posição essencial para os destinos da nação; e um vice-presidente decorativo, mas que, por suas celebradas habilidades no manuseio de parlamentares e políticos em geral, era visto como uma ponte que poderia conduzir Dilma à salvação.

Isso sem mencionar um ex-presidente da República que posava de gênio da política, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos milagrosos ― e que meses depois tentaria nomear a si próprio ministro da Casa Civil e, a partir daí, resolver a situação toda em seu benefício ―, além de um cangaceiro presidindo o Senado e atuando como marechal de campo na guerra para manter no comando a presidanta, seu abjeto antecessor e seu espúrio partido. Mas não sobrou pedra sobre pedra de nada disso.

Ao longo de 2016, Dilma se tornou uma ex-presidente em processo de inscrição no arquivo morto da política brasileira; o então poderosíssimo presidente da Câmara está há dois meses no xadrez; o Cangaceiro das Alagoas perdeu e recuperou o cargo, virou inimigo figadal da militância vermelha e está a caminho do cemitério político; o gênio da política que ia salvar a anta vermelha, o PT e os aliados ― além de si mesmo, é claro ― está com cinco processos penais nas costas, e o máximo que pode esperar do futuro próximo é não ir para a cadeia. Sem falar que o então vice-presidente da República, ora promovido a titular, passou de grande articulador político a traidor e demônio número 1 da esquerda, e hoje tem como principal preocupação escapar do lamentável destino que teve a sua antecessora.

Observação: Como ponderou Eugênio Bucci em sua coluna na revista Época, “2016 nocauteou as esperanças de muita gente no Brasil, à esquerda e à direita. Para aqueles que acreditavam em certos profetas do socialismo tropical, foi desalentador. A ficha penal de seus caudilhos adorados já não deixa brechas para as desculpas que vinham funcionando até pouco tempo atrás. Não adianta mais dizer que seus ídolos são vítimas de perseguições caluniosas produzidas por um complô reacionário contra os libertadores do povo brasileiro. As provas vão se mostrando mais e mais irrefutáveis, impossíveis de negar. A corrupção primeiro seduziu, depois dominou e, ao final, dizimou alguns dos nomes mais respeitados da esquerda. Seus antigos seguidores, com a dor estampada no rosto, calam um pranto silencioso na ressaca de uma tragédia moral. Buscam formas de recomeçar, abrem janelas tristes para a imaginação machucada, tentam não desistir do sonho, mas ficou difícil. A esperança, a que resta, já não vence o medo e a vergonha.

Diante do que foi dito até aqui, o leitor pode até argumentar que a situação não melhor. Mas em momento algum eu disse que as coisas vão bem, até porque elas não vão. Eu disse que a situação mudou, o que não é a mesma coisa. Todavia, não haverá uma nova Dilma depois de 2016, nem tampouco outro governo como o dela, e basta olhar a coisa por esse ângulo para sentir uma sensação de alívio imensa e imediata. Quando por mais não seja, o ano que ora se despede valeu pelo funeral político dos que mandaram diretamente no Brasil durante mais de uma década, embora muita gente ― a começar pelas forças que deixaram o governo ― tente vender a ideia de que nada mudou, buscando levar os brasileiros a acreditar numa coleção cada vez maior de impossibilidades materiais.

Faz parte desse múltiplo conto do vigário, por exemplo, a noção de que as pessoas sejam capazes de ficar, ao mesmo tempo, contra Renan e a favor de Lula. Ou então indignar-se com Sérgio Cabral e não levar em conta que ele foi um herói tanto de Lula quanto de Dilma ― homem de admirável coração, segundo um, ou o melhor governador do país, segundo a outra. Dentro da mesma sequência de fábulas, espera-se que levem a sério a informação de que o ex-presidente petralha vem passando o chapéu por não dispor de recursos para custear sua defesa na Justiça, já que continua um homem pobre ― mesmo tendo recebido dezenas de milhões de reais de empreiteiras e outras em presas a título de remuneração por palestras a que ninguém assistiu.

Enquanto se mantém por aí, a contrafação das realidades não parece destinada a produzir efeito prático algum. O barulho vai continuar, é claro, até porque é comum as pessoas gritarem mais alto quando percebem que têm cada vez menos fatos a seu favor. Mas na prática não se vai muito além disso ― barulho. Veja-se a situação da nefelibata da mandioca, que até outro dia era presidente da República, e agora, como se observou em mais de um espetáculo de profunda melancolia, pobre e constrangedor, bate boca no ar com o repórter de um canal de TV árabe. Ou o esforço que fazem os advogados de Lula para destemperar o juiz Sérgio Moro nas audiências, usando de linguagem agressiva e sem cabimento, à ausência de argumentos realmente sérios para responder às denúncias feitas contra seu cliente (afinal, é difícil defender o indefensável). Mas negar a verdade não altera os fatos. Nem as populações muçulmanas vão pressionar o Brasil para reabilitar a anta petralha, nem o magistrado responsável pelos processos da Lava-Jato vai sair na porrada com os defensores do penta-réu, propiciando com isso o milagre da anulação do processo inteiro ― “zerar tudo”, como sonham dez entre dez acusados de corrupção perante a Justiça Penal Brasileira.

Lula e o PT vivem uma situação surreal. A despeito de ter se tornado réu pela quinta vez (até agora) e de estar a um passo de amargar sua primeira condenação, o molusco abjeto insiste em se autodeclarar a alma viva mais honesta do Brasil e afirmar que tudo que existe contra ele é fruto de uma descabida perseguição do juiz Sergio Moro. Seus seguidores, refratários aos fatos e divorciados da realidade, têm-no na conta de candidato natural pelo PT em 2018, ignorando solenemente o fato de que as sentenças que serão impostas a seu amado líder torná-lo-ão inelegível não só nas próximas eleições, mas também nas posteriores.

Observação: A condição de penta-réu, conferida a Lula no último dia 19, sepulta a narrativa de que seu calvário judicial parte da República de Curitiba ― embora esta tenha sido a segunda denúncia que o magistrado da 13º Vara Penal Federal do Paraná aceitou contra o petralha, outras três ações em que ele é réu tramitam na Justiça Federal do DF, sob a batuta do juiz Vallisney de Souza Oliveira.

No mundo real, o sumo pontífice da Petelândia corre o risco de não poder sequer ser candidato. Se o STF já decidiu que réus em ação penal não podem ocupar cargos na linha sucessória presidencial ― e pariu aquela vergonhosa jabuticaba que criou a figura do “meio senador” (mais detalhes nesta postagem) a pretexto de preservar a governabilidade do país ―, seria um contrassenso Lula ser empossado presidente, caso viesse mesmo a concorrer e, por absurdo, conseguisse se eleger.  E como se isso não bastasse para podar os delírios abilolados da tigrada vermelha, diferentemente do que acontece no STF, onde os processos tramitam a passos de cágado paraplégico, as ações da Lava-Jato levam, em média, 6 meses para ser julgadas na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, e o TRF da 4ª Região costuma levar o mesmo tempo para referendar as sentenças do juiz Sergio Moro. Deu para entender ou quer que eu faça um Power Point?

Resumo da ópera: Os desafios do Brasil para o próximo ano são imensos. O país precisa voltar a crescer para elevar o padrão de vida material do seu povo e explorar nossa energia criadora em sua plenitude. Precisa aprovar reformas estruturais para modernizar-se e competir com qualidade no mundo globalizado. Precisa civilizar a vida política, estabelecendo um padrão ético aceitável, e superar as feridas de uma profunda divisão de ideologia e métodos. Precisa, enfim, reencontrar o caminho da estabilidade institucional, arranhada nos últimos tempos.

Feliz ano novo a todos.

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

BOM RÉVEILLON A TODOS (SEM RESSACA) E UM ÓTIMO 2016

Do ponto de vista do abuso do álcool, o Réveillon só perde para o Carnaval — e olhe lá —, e para quem não dispensa uma(s) birita(s) a ressaca pode ser cruel.

Dor de cabeça, tontura, fadiga e náuseas e outros desconfortos que o acometem quando você desperta na manhã seguinte à noite do porre não são provenientes dos canapés com validade vencida ou da azeitona estragada daquela maldita empadinha que você comeu antes de tomar litros de caipirinha, dúzias de latinhas de cerveja e, claro, taças e taças de espumante para saudar o ano novo — afinal, ninguém é de ferro, não é mesmo?

O desconforto costuma surgir de seis a oito horas após o consumo e a metabolização do álcool, e pode se estender por intermináveis 24 horas, com uma intensidade que varia de pessoa para pessoa, conforme a sensibilidade de cada um, de fatores psicológicos e do contexto sociocultural. E, claro, quanto mais álcool você ingerir, mais severamente será castigado na manhã seguinte.

Curiosamente, os sintomas só surgem após a eliminação do álcool pelo organismo, e mais intrigante ainda é o fato de não existir consenso na explicação do processo, embora a maioria dos especialistas o atribua ao aumento da concentração de substâncias inflamatórias e dos hormônios que regulam o sono, à alteração das taxas de glicose no sangue, e até mesmo à consequência dos “aditivos” embutidos nas bebidas alcoólicas. Seja como for, o troço é um porre! Literalmente.

Bebidas compostas por água e álcool (tais como vodca e gim) castigam menos que whisky, conhaque ou vinho, mas é importante atentar para a qualidade daquilo que você beber (vodcas como Popov e Príncipe Igor, por exemplo, nem pra fazer caipirinha).

A melhor maneira de evitar a ressaca é a abstinência, mas, na prática, essa preciosa recomendação não ajuda muita gente. Então, para evitar o vexame do pileque e minimizar o desconforto da ressaca, forre o estômago antes de beber, e beba moderadamente — o álcool é absorvido mais lentamente quando há alimento no estômago. Só tome cuidado para não errar na quantidade, ou você irá colocar tudo para fora no meio da festa.

Vale também intercalar suco, refrigerante ou água entre as doses de birita, não só para “diluir” o álcool, mas também para manter o organismo hidratado. Comer frutas ou algo gorduroso (miolo de pão besuntado com manteiga ou embebido em azeite de oliva) antes de beber pode ajudar.

A verdade é que não existem formulas milagrosas universais: a não ser que você entre em coma alcoólica — e aí deverá procurar um pronto-socorro —, o jeito é deixar o organismo processar naturalmente — ou regurgitar — o excesso de álcool. Nesse meio tempo, evite comidas ácidas, gordurosas ou de difícil digestão; torradas com mel ou geleia no café da manhã e uma sopa ou salada de legumes cozidos no almoço devem deixar você pronto pra outra.

Mas atenção: ressaca não se cura com mais álcool! Essa prática pode até ajudar a combater os sintomas no curto prazo — e servir de desculpa para tomais mais uma birita ao acordar, mesmo que você não esteja de ressaca. No entanto, mais hora, o nível de álcool no seu organismo vai ter que baixar mais cedo ou mais tarde. Para prevenir ressacas cruéis, daquelas que combinam dor de cabeça com boca seca, fadiga, tremores e outros desconfortos afins, a solução é não encher a cara. Na impossibilidade, evite misturar destilados com fermentados e, como já foi dito, beber de barriga vazia.

Se as medidas preventivas não bastarem, a ressaca irá castigá-lo no dia seguinte, e não há fórmulas milagrosas para combatê-la — a menos que você esteja em Las Vegas, onde existe o serviço Hangover Heaven (paraíso da ressaca, numa tradução livre), criado pelo médico Jason Burke: basta um telefonema para ser atendido por um ônibus que funciona como clínica itinerante e receber uma solução intravenosa com soro fisiológico, vitaminas B1 e B12, anti-inflamatórios, anti-náuseas e outras substâncias destinadas a ajudar na desintoxicação do organismo. O tratamento dura 45 minutos e custa de 90 a 150 dólares.

Para concluir, vale lembrar que a cafeína atua no sistema nervoso central, bloqueando os receptores de adenosina, de modo que pode atenuar os sintomas da ressaca. Já os analgésicos não atuam na causa do problema, embora possam aliviar aquela dor de cabeça mãe (evite, porém, medicamentos à base de paracetamol, pois, combinado com o álcool, esse componente judia ainda mais do fígado. A hidratação também pode atenuar o mal-estar, pois neutraliza a perda de água pela urina, diarreia ou vômito (que causam a famosa boca seca e o gosto de corrimão de escada de repartição pública). 

Enfim, beba com moderação e comece o ano mais bem disposto. Um ótimo réveillon a todos e até a próxima postagem.  

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO (Crônica de Ivan Angelo)

QUE TUDO SE REALIZE NO ANO QUE VAI NASCER.

Feliz Ano-Novo, brasileiros, infeliz ano velho. Que esperar nesta passagem? Que os olhares de todos voltem a procurar a perdida franqueza e que entre pessoas civilizadas se possa ter opinião, sem ofensa.

Que as mãos voltem a se afastar do que não lhes pertence, que o temor do opróbrio e do japonês da Federal possa segurar a insensatez dos ambiciosos, a fome dos que não têm fome, o ímpeto da cobiça, o despudor dos malfeitores, que voltem a ser uma vergonha o roubo, o rombo, o descaminho, a concussão, a fraude, a propina, a malversação, o por-fora, a começão, o rapa, a ratonice, a rapina, o saque, a pilhagem, a apropriação, o dinheiro sujo, a mamata, o desvio, a corrupção — vergonha que nenhuma delação premiada possa apagar.

Que o amor aproxime corações, bocas e corpos com a ternura de sempre, o apetite necessário e novas liberdades, que ele não para de inventar. Que os amigos voltem a se falar, pois, como diz o sábio poeta do Eclesiastes, há tempo de rasgar e tempo de remendar.
Que se possa acabar com esse medo das ruas, o medo de ir e vir e de estar, para voltarmos a fruir as nossas cidades, nossas alamedas, nossas vias e ciclovias, jardins e praças, nossos cinemas de primeira, os dedicados museus, as pizzarias ruidosas, os restaurantes estrelados ou os simples sob o céu de estrelas, a casa do nosso avô, o boteco fraternal, o namoro na esquina, o descer para fumar. Que voltem a ordem e, se possível, o progresso.

Que punições justas restabeleçam nossa confiança na Justiça e na lei, que a morte dos nossos queridos não fique impune, os assassinos bêbados do trânsito não transitem, os hediondos do crime não sejam menores, os ladrões do nosso patrimônio sejam despossuídos, os golpistas sejam golpeados, os maléficos, os safados, os vilões — todos os faltosos — paguem segundo sua falta e não segundo a chicana dos seus advogados.
Que os vendilhões que dominaram os templos como máfias sejam apontados, despojados do luxo e suas vozes clamem no deserto. 

Feliz Ano-Novo, brasileiros, infeliz ano velho, ano em que deixamos um pouco de nós em cada esquina, em que ficamos desamparados, perdemos empregos, esperanças, dinheiro, planos de saúde, ilusões, civilidade, tolerância, amigos, confiança, bom humor, apoio, orgulho nacional.

Que se reaprenda a urbanidade e voltem a limpeza aos muros, a paciência ao trânsito, a civilidade às torcidas, a educação às escolas, a paz às manifestações. Que as carências sejam mitigadas e voltem a água às torneiras, a carne ao prato, o filho à casa são e salvo, o sem-teto ao abrigo, o médico ao posto de saúde, a amada ao só, o sabiá ao ninho, a chuva ao sertão, as nozes ao Natal, a inspiração aos poetas.

Que a internet deixe de ser esconderijo de delinquentes, a televisão melhore seu cardápio, as galerias não enganem incautos, o cinema se reaproxime da sétima arte. Que balas perdidas não busquem abrigo em nossos corpos.

Que a boa qualidade volte a ser o paradigma das artes e ofícios, e barragens de rejeitos não vazem sua lama mortal pelos vales e rios, viadutos não caiam sobre cabeças cidadãs, publicações imperfeitas não disseminem enganos, gasolinas adulteradas não engasguem motores, o futebol torne a ser a alegria do povo e não dos cartolas. Que voltem as festas, brasileiros, e boas festas.

Abraços a todos e até amanhã.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

LUCUBRAÇÕES DE FINAL DE ANO.

É CURIOSA A MANEIRA DE ADMINISTRAR DOS PETISTAS, QUE NÃO RARO CRIAM DIFICULDADES PARA VENDER FACILIDADES. 

Eu não pretendia editar o Blog neste último dia de 2013, mas como a passagem do ano estimula lucubrações sobre os mais diversos temas, resolvi dedicar algumas linhas ao cenário paulistano neste primeiro ano da gestão Haddad.
Viver em Sampa custa mais caro do que em Londres, Berlin ou Roma, a começar pela Pizza Marguerita (R$ 54 em média). Mas, ainda que paguemos impostos até para respirar, nossa qualidade de vida fica bem aquém do desejado, talvez por carregarmos nas costas boa parte dos demais Estados, ou quem sabe pela ganância dos políticos corruptos, que não deixam sobrar dinheiro para saúde, educação, segurança, transporte e outros benefícios essenciais ao bem-estar dos nossos 12 milhões de habitantes. Para piorar, nossos alcaides parecem ter vocação inata para depredar o pouco de bom que herdam de seus antecessores e, de quebra, superá-los em incompetência. Luiza Erundina, por exemplo, queria aterrar o “Buraco do Jânio” (cujo nome oficial é Passagem Subterrânea Tom Jobim), para que a obra – já em fase final (foto acima, à direita) – não rendesse louros ao seu predecessor.
Quando José Serra (PSDB) renunciou à prefeitura para concorrer ao governo do Estado, em 2006, Gilberto Kassab (PFL) assumiu o cargo e, a despeito dos baixos índices de aprovação, conseguiu se reeleger em 2008. Sua administração foi pífia e transcorreu sob suspeitas de corrupção – seu patrimônio cresceu 316% acima da inflação no período em que foi deputado estadual e secretário de planejamento de Pitta, e apesar de seu mandato ter sido cassado pelo Juiz da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo (decisão revertida mais adiante pelo TRE) e de um possível envolvimento no escândalo dos fiscais do ISS (que desviaram cerca de meio bilhão de reais), e do recente suicídio de Rubens Jordão, seu braço direito e coordenador financeiro, Kassab tenciona disputar o governo do Estado nas próximas eleições.
Já o nosso atual burgomestre foi eleito devido ao carisma astronômico do “sumo pontífice do Lulopetismo” – da mesma forma que a “fada dos dentes”, pois José Dirceu, imerso até as orelhas na lama do Mensalão, não tinha condições de concorrer à sucessão presidencial.

Observação: Se lhe parece absurda a perspectiva de um presidente da república despachando do Complexo Penitenciário da Papuda, basta lembrar de que estamos no Brasil, onde tudo é possível. Veja o caso de Natan Donadon, que cumpre pena em regime fechado por peculato e formação de quadrilha, mas continua investido dos poderes de deputado federal (o processo por quebra de decoro parlamentar deve ser votado pelo plenário da Câmara a partir de fevereiro de 2014). Ou então do também deputado federal Paulo Maluf, que consta da “lista vermelha” de procurados pela Interpol por crimes de conspiração em 4º grau, transferência de recursos de origem ilícita e roubo de fundos públicos, e continua com trânsito livre no Congresso Nacional.

Só que o feitiço virou contra o feiticeiro, pois as criaturas se mostraram avessas a seguir fielmente os comandos do criador: enquanto Dilma se revelou uma administradora medíocre, Fernando “Malddad” se tornou tão impopular quanto Kassab e Pitta em seus primeiros anos de governo – o que vem preocupando o Chefe. A pior avaliação foi feita por eleitores com renda familiar mensal de mais de 10 salários mínimos (13% consideram a gestão ótima ou boa, 40%, regular, e 47%, ruim ou péssima), e a melhor, pelos que ganham de 2 a 5 salários mínimos (19% consideram a administração ótima ou boa, 41% avaliam como regular, e 37%, ruim ou péssima). Dentre outros devaneios, Haddad nos brindou com a ideia do ARCO DO FUTURO – projeto urbanístico faraônico a ser construído ao longo da Marginal Tietê –, que acabou excluído do Plano de Metas da prefeitura para esta gestão.

Observação: De suas 728 mirabolantes promessas de campanha, apenas 100 resistiram ao terceiro mês de governo, embora Haddad continue apregoando novas medidas milagrosas, que só mesmo a Velhinha de Taubaté...

Para piorar, ao cumprir ordens da “Chefa” e ajudar o ministro Guido Mantega a mascarar a inflação, o prefeito jogou para maio o aumento das tarifas do transporte público, e com isso acendeu o pavio que inflamou a população e resultou nos protestos de junho, que começaram em Sampa e acabaram eclodindo Brasil afora – ainda que com excessos lamentáveis e uma péssima atuação do poder constituído para coibi-los. Para complicar ainda mais a situação, um aumento recorde para o IPTU, destinado a custear o subsídio à condução, foi aprovado mediante manobras sujas da base governista e acabou suspenso por liminar judicial – veremos em breve o resultado.
Depois dos protestos de junho, Haddad vem exibindo uma patente má-vontade em relação à parcela da população que se recusa “teimosamente” a trocar o carro pelo transporte público. Como se isso fosse possível, pois a maioria de nós tem compromissos diários, serviços a prestar e um vasto leque de assuntos a tratar. Por pior que seja o trânsito, o carro ainda nos dá melhores condições de realizar esses afazeres, a despeito de, além do preço de compra e dos impostos, sermos obrigados a gastar uma pequena fortuna com seguro e estacionamento, pois a segurança pública é uma piada.
Em vez de investir em soluções para harmonizar o transporte público e o privado, o prefeito prefere criar faixas reversíveis para ônibus, que são subutilizadas em muitos horários, mas forçam os veículos particulares a se espremer como sardinhas em lata nas pistas restantes e avançar a passos de cágado. Depois de sua implantação, a velocidade média dos coletivos subiu de 13,8 para “vertiginosos” 20,4 Km/h...

Observação: Será que a economia de alguns minutos no final de cada viagem justifica os monstruosos congestionamentos impostos aos carros particulares, o aumento no consumo de combustível, a piora na qualidade do ar e os problemas causados aos comerciantes, que verão seu movimento encolher devido à impossibilidade de a clientela estacionar na porta ou nas proximidades dos estabelecimentos?

O deslocamento do paulistano atinge, em média, duas horas e 15 minutos por dia, e quem usa carro é quem perde mais tempo. Curiosamente, os ônibus, que em 2012 transportavam 26% da população, agora levem 24%, e o número de pessoas que passaram a andar a pé subiu 5% no mesmo período, deixando clara a impressão de que algo continua muito errado.
É curioso que, enquanto a presidente reduz o IPI para ajudar as montadoras a desovar seus estoques, nosso conspícuo prefeito faz das tripas coração para transformar a vida dos motoristas num verdadeiro inferno. Será que ele acredita mesmo que, sem uma alternativa funcional, o paulistano vai deixar o carro em casa?
Goste ou não sua excelência, há 7,5 milhões de veículos registrados em Sampa – no Estado, o número ultrapassa o de habitantes da Austrália! – e apenas criar faixas exclusivas, sem introduzir mudanças substanciais na qualidade, regularidade e distribuição dos ônibus não vai trazer mais conforto para quem já utiliza o transporte público nem – muito menos – atrair parte da população que hoje se desloca em automóveis. Agora, se o aumento da arrecadação for o objetivo principal, Haddad acertou na mosca.
Estima-se que os recursos provenientes das multas atingirão um novo recorde em 2014 (cerca de R$ 1,2 bilhão). Nos primeiros oito meses deste ano, dos 6,4 milhões de multas aplicadas aos motoristas que circulam pela capital, mais de 350 mil foram por invasões em corredores e faixas exclusivas de ônibus, registradas por um exército de 1.500 “marronzinhos” da CET e 690 da SPTrans, além de 200 novos radares posicionados estrategicamente para fotografar os infratores.
Em seu inferno zodiacal, o prefeito vem enfrentando sérias dificuldades para recuperar sua imagem. Recentemente ele tentou ganhar pontos posando como aquele que lutaria para debelar a máfia dos fiscais do ISS, mas acabou dando um tiro no pé, pois o nome do seu (já demitido) secretário de governo Antonio Donato era citado em pelo menos cinco episódios da investigação.
Enfim, o jeito é esperar para ver como a coisa vai ficar.

Abraços a todos e, mais uma vez, boas entradas.