O começo deste ano foi marcado por mais um embate entre o Executivo e o Judiciário, desta vez envolvendo a nomeação da filha de Roberto Jefferson ― aquele do Mensalão ― para o ministério do Trabalho. No entanto, ao decretar a intervenção federal no RJ, o presidente Temer mandou para as calendas a reforma previdenciária, e a pendenga da nomeação perdeu o objeto, já que os votos da bancada petebista (vinculados à nomeação da moçoila por exigência de seu papai) deixaram de ser prioridade para o governo.

A resposta veio na edição de Veja da semana passada, sob o título “O NOVO ESQUEMA DO PTB”. Assinada por Thiago Bronzatto, a matéria detalha a corrupção
no ministério do Trabalho e associa ao fato a insistência de Roberto Jefferson em manter a pasta sob
o comando de um petebista de sua confiança ― aliás, como eu disse mais de uma
vez, se a nomeação da filhota prosperasse, seria o papai quem puxaria os
cordéis.
Segundo a reportagem, uma conversa mantida no ano passado e
gravada por um dos interlocutores revela dois lobistas pedindo R$ 4 milhões a um empresário em troca
de um serviço junto ao ministério do Trabalho.
Observação: É nítida a semelhança entre esse episódio e o
ocorrido em 2005, quando Maurício
Marinho ― então funcionário do alto escalão dos Correios ― foi filmado confidenciando
a um interlocutor que havia chegado ao posto por indicação do PTB e que sua missão era arrecadar
propinas para o partido. O esquema, como se descobriu mais adiante, era
replicado em dezenas de repartições e gabinetes, e acabou conhecido como “Mensalão” ― depois que o mesmo Roberto Jefferson trouxe à público seus
detalhes sórdidos. Curiosamente, o maior beneficiário da maracutaia disse que nada
viu, nada ouviu e de nada sabia, e escapou incólume da ação penal 470, na qual 37 réus foram julgados e 24, condenados (dentre
os quais Dirceu, Genoino, Delúbio, Vaccari e
outros petralhas notórios).
Agora, o mesmo PTB
do mesmo Roberto Jefferson aparece
operando o mesmo esquema. A diferença é que a base das operações ilegais se
transferiu para o ministério do Trabalho ― o mesmo ministério que sua filha
ficou 47 dias lutando para ocupar. Isso nos leva de volta à pergunta: Por que Cristiane Brasil
insistiu tanto em ser ministra do Trabalho? A resposta está no diálogo a que eu
me referi parágrafos atrás, mantido entre os lobistas e o empresário gaúcho Afonso Rodrigues de Carvalho.
Dono de uma pequena transportadora e presidente do Sintrave ― um sindicato de
microempresas do Estado de Goiás ― o gaúcho Afonso Rodrigues de Carvalho pelejava para obter um registro sindical para oficializar sua
atividade. Vendo que o processo não avançava, o empresário recorreu à lobista Verusca Peixoto da Silva, que dizia ter
“boas conexões políticas”, e foi apresentado a seu parceiro de negócios, Silvio Assis, dono de uma consultoria
financeira e que tem livre trânsito em diversos ministérios e órgãos públicos.

Rodrigues
negociou com Verusca um abatimento, e conseguiu baixar o preço para R$ 3,2 milhões. Para fechar o negócio, um “contrato de consultoria” foi assinado e entregue ao empresário
num posto de gasolina no interior de Goiás (o encontro foi filmado; para
assistir ao vídeo, clique aqui). Orientado pela PF, Rodrigues pediu uma
nova reunião, que foi
realizada num hotel em Brasília e contou com a presença de Rogério Arantes, sobrinho do deputado Jovair Arantes e diretor do INCRA
indicado pelo PTB. Rogério prometeu interceder junto a Leonardo Arantes ― outro sobrinho do
deputado Jovair, indicado pelo tio
para o ministério do Trabalho em maio de 2016, quando Dilma foi afastada e Temer
assumiu interinamente a presidência.
Para resumir a novela, as investigações da PF apontam que quem dá as cartas no
ministério do Trabalho é o PTB e o Solidariedade (ambos fazem
parte da base aliada do governo Temer).
Os agentes continuam realizando operações monitoradas, e um pedido para
investigar elementos do esquema que contam com prerrogativa de foro já foi
apresentado ao supremo. O segredo de Justiça não permite saber que são esses
indivíduos, mas os únicos políticos com foro privilegiado no caso são Jovair Arantes e Paulinho da Força.

Como dizia José Saramago, prêmio Nobel de literatura em 1998, “a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito”.
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