Mostrando postagens com marcador crise. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crise. Mostrar todas as postagens

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A CRISE CARLOS BOLSONARO/GUSTAVO BEBIANNO



Não bastasse a novela Queiroz/Flávio Bolsonaro, que ainda promete novos e emocionantes capítulos, uma nova crise se instalou no governo depois que Carlos Bolsonaro, o zero dois, causou constrangimentos tanto inoportunos quanto desnecessários ao desmentir, pelo Twitter, o Secretário-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que afirmou ter se encontrado com Jair Bolsonaro

O que poderia ser creditado ao destempero e inabilidade política do pitbull palaciano adquiriu maior dimensão porque, ao que tudo indica, ele tinha o aval do pai, que quer se livrar do ministro, mas prefere não exonerá-lo para não desagradar parte da bancada federal do PSL e alguns líderes de siglas aliadas, que têm em Bebianno um interlocutor. 

O general Mourão classificou o caso como futriquinha, mas reprovou a postura de zero dois: “Diz a velha prática que roupa suja a gente lava no tanque da casa e não da casa dos outros. Esta crise está ligada às denúncias em relação aos gastos de campanha do PSL e a um certo protagonismo do filho do presidente que, no afã de defender o pai, interferiu levando as discussões e debates em rede social que acabam sendo de domínio público, o que não é bom”. Não há como não lhe dar razão.

Através de sua conta no Twitter, FHC também se manifestou: “Início de governo é desordenado. O atual está abusando. Não dá para familiares porem lenha na fogueira. Problemas sempre há, de sobra. O Presidente, a família, os amigos e aliados que os atenuem sem soprar nas brasas. O fogo depois atinge a todos, afeta o país. É tudo a evitar”. Também não há como não lhe dar razão.

Para Rodrigo Maia, o Presidente está usando o filho para se livrar de Bebianno. “Ele é presidente da República, não é? Não é mais um deputado, ele não é presidente da associação dos militares. Então, se está com algum problema, tem que comandar a solução, e não pode, do meu ponto de vista, misturar família com isso, porque acaba gerando insegurança, uma sinalização política de insegurança para todos". Maia alertou também que o risco é grande para um governo que vai ter desafios importantes, como a reforma da Previdência.

Não é segredo que o clã Bolsonaro aprecia um enfrentamento. Já na transição do governo houve um arranca-rabo entre zero dois e Bebianno. O pitbull se considera o responsável pela comunicação do pai nas mídias sociais — tem até mesmo as senhas dele, o que é gravíssimo, pois o Estado não pode ficar em mãos indiretas, não importa se do filho do Presidente, da mulher, ou do cachorro — e não admite concorrência. Antes da posse, zero dois postou no Twitter que a morte de Bolsonaro interessava “também aos que estão muito perto” (...) “Principalmente após sua posse”. Na cerimônia, dizendo ter acordado com um mau pressentimento, armou-se de uma Glock e pediu para ser o guarda-costas do pai. Detalhe: Para quem afirma que sua prioridade é proteger o pai, o filho deveria ser mais cauteloso.

Observação: “Governar” pelo Twitter é uma prática que Bolsonaro copiou de Donald Trump. Vale lembrar que o uso de meios particulares para atividades oficiais deu muita dor de cabeça a Hillary Clinton, que, quando Secretária de Estado no governo Obama, dispensou sua conta de email oficial para usar a privada, mesmo para assuntos de Estado (e talvez por isso, ainda que não só por isso, foi derrotada pelo megalômano da peruca laranja).

Pelo andar da carruagem, a saída de Bebianno do ministério não é uma questão de se, mas de como e quando. E deixará mágoas difíceis de superar. O apoio que ele recebeu de políticos e militares surpreendeu o Presidente, que, aliás, terá dificuldade para substituí-lo por outro articulador de igual quilate, sobretudo no momento em que o governo precisa aprovar a reforma da Previdência e não tem uma base aliada organizada e coordenada por políticos experientes. Bebianno seria o interlocutor do governo com Rodrigo Maia, que não por acaso deu a declaração que eu reproduzi linhas atrás, afirmando, dentre outras coisas, que Bolsonaro não é presidente da associação dos militares. A relação de Maia com Onyx Lorenzoni nunca foi boa, embora ambos sejam do mesmo partido, e a conexão entre Maia e Bebianno, assim como com Paulo Guedes, é que facilitaria a tramitação das reformas.

Atualização: A exoneração de Gustavo Bebianno deverá ser publicada amanhã no Diário Oficial da União. Bolsonaro havia resolvido manter o ministro no cargo, mudou de ideia depois de saber do vazamento de áudios com diálogos mantidos entre os dois. No Planalto, o receio é de que, uma vez penabundado, o desafeto crie problemas para o governo, já que é o que se chama no jargão político de “homem bomba”. 

A relação de Bolsonaro com os filhos vem provocando intrigas intra murus, especialmente entre os militares, e desestabilizando um governo que mal começou (e, por que não dizer, que começou mal). Sem cargos no governo, mas agindo como membros da família real numa monarquia, a prole presidencial se dedica a fabricar crises. Flávio, o zero um, tenta se desvencilhar do caso Queiroz; Eduardo, o zero três — que foi filmado em uma palestra dizendo que para fechar o STF bastaria “um soldado e um cabo” e se considera-se um assessor presidencial especialíssimo — já admitiu concorrer à sucessão do pai, caso ele cumpra a promessa de acabar com a reeleição. 

Detalhe: Zero um nunca recebeu apoio de zero dois, e zero três evita falar sobre a crise em que o irmão do meio está metido.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O AUMENTO DOS MINISTROS DO STF E A CRISE DE VERGONHA NA CARA


Antes da postagem do dia: O juiz Sérgio Moro resolveu adiar para o dia 14 de novembro o interrogatório de Lula e demais réus na ação penal envolvendo o Sito de Atibaia, que estava originalmente marcado para 11 de setembro). Segundo o magistrado “um dos acusados foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro e, apesar disso, apresenta-se como candidato à Presidência da República”; portanto “a fim de evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios, seja qual for a perspectiva, reputo oportuno redesignar as audiências”.

Passemos ao tema de hoje:

Depois da repercussão negativa do reajuste que os ministros do STF se autoconcederam na semana passada, espera-se que Congresso reveja o percentual e aprove um limite menor. Se mantidos os 16,38% definidos por suas excelências, seus salários passarão dos atuais R$ 33.763,00 para R$ 39.293,00. Isso quando falta dinheiro para investir em segurança, saúde, educação, habitação e outros serviços públicos que realmente interessam à nação.

Mesmo defasados — segundo a Folha, a perda real chega a 15% em quatro anos —, os vencimentos dos magistrados superam em vinte vezes a média salarial dos trabalhadores tupiniquins (refiro-me aos que ainda tem emprego, naturalmente), o que já é um acinte, mas mais acintoso ainda é o argumento do ministro Lewandowski, para quem os valores recuperados pela operação Lava-Jato comprovam que o trabalho da Justiça tem trazido benefícios monetários ao país que justificam o reajuste.

Vá lá que a patuleia desinformada ignore a crise que o país atravessa, mas os ministros do Supremo não se podem dar a esse luxo. Mesmo que a capital federal — graças ao ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira — seja um mundo à parte, nada justifica que os ilustres magistrados elevem seus proventos sem levar em conta a situação calamitosa das finanças públicas (somente a presidente Carmen Lúcia, a ministra Rosa Weber e os ministros Celso de Mello e Luís Edson Fachin foram contrários ao aumento).

Mas não é só. Promotores, procuradores e servidores de outras categorias do Judiciário têm seus salários atrelados ao dos ministros. Mantido esse reajuste, o aumento dos gastos chegaria a R$ 720 milhões por ano. Como o presidente da República, os ministros de estado e as ratazanas do Congresso também têm seus vencimentos baseados nesse “teto constitucional”, o rombo passaria dos R$ 3 bilhões — isso sem mencionar que outras categorias do funcionalismo certamente pleiteariam em juízo a concessão de reajustes similares.

Cerca de 70% da despesa primária do governo advém do pagamento de salários e aposentadorias. Como uma PEC aprovada pelo Congresso — quando Temer ainda tinha cacife político — proibiu o aumento o aumento indiscriminado dos gastos, esse reajuste teria de ser compensado com cortes nos 30% restantes, que são as despesas com saúde, educação, investimentos etc. É certo que esse escárnio ainda precisa ser aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente da República, mas é igualmente certo que o lobby do funcionalismo é poderosíssimo — tanto é que foi o grande responsável pelo malogro da reforma da Previdência, que previa isonomia entre a aposentadoria de servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada. Vale lembrar que, enquanto o aposentado “comum” recebe, em média, R$ 1,2 mil por mês, um servidor da União inativo embolsa sete vezes mais — sem mencionar as mordomias e outros penduricalhos.

Observação: Quando os ministros do STF ou outras categorias privilegiadas recebem vantagens como salários mais altos, aposentadorias polpudas, pensões para suas filhas solteiras e acintes que tais, alguém está pagando a conta. E o custo de um Estado que desperdiça ou paga salários fora da realidade não recai apenas sobre o lombo dos contribuintes — em geral, de classe média e empregados. Um Estado dominado por elites de rapina impõe custos ao resto da sociedade e destrói empregos que existiriam se a dívida pública ou os impostos não fossem tão altos.

Na quinta-feira 9, o relator no Congresso do projeto que serve de base para a elaboração do Orçamento, senador Dalírio Beber, afirmou que não há espaço para reajustes salariais de servidores públicos no ano que vem — nem para atender as despesas existentes, que dirá das a serem criadas. Quando foi relator Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019, aprovada em julho pelo Congresso, Beber tentou incluir uma proibição de reajustes de servidores no texto, que seria uma blindagem contra o oportunismo que vemos no Supremo. Não obstante, como diz o ministro Gilmar Mendes, “nós somos supremos”.

Então, fazer o quê?

Visite minhas comunidades na Rede .Link:
http://acepipes-guloseimas-e-companhia.link.blog.br/

segunda-feira, 18 de junho de 2018

A AVERSÃO À POLÍTICA E AOS POLÍTICOS



A DEMOCRACIA É O PIOR DOS REGIMES POLÍTICOS, MAS NÃO HÁ NENHUM SISTEMA MELHOR DO QUE ELA — SIR WINSTON CHURCHILL.

Nunca fui fã do esporte bretão. Mal sei diferenciar um escanteio de um lateral, mas, parafraseando o ex-ministro Magri (da nada saudosa administração Collor), posso não saber fazer uma sopa, mas sei dizer quando ela está salgada.

A estreia do Brasil na Copa de 2018 não foi sopa, mas, convenhamos que, pelo desempenho de ambas as seleções, o empate em 1 a 1 ficou de bom tamanho. Como diz o Galvão durante as partidas, sempre que a performance da seleção brasileira deixa a desejar —, “ainda tem muito jogo pela frente”.

O empate na partida de abertura nem se compara com a vexatória derrota por 7 a 1 que desclassificou o Brasil, quatro anos atrás — que foi mais dramático porque sediamos aquela Copa (para gáudio dos muitos que enriqueceram com as faraônicas construções e reformas de estádios e dissabor da plebe ignara, a quem compete paga a conta).

Em 15 de junho de 1958, no Estádio Nya Ullevi, na Suécia, pela primeira vez Pelé e Garrincha entraram em campo com a camisa da seleção brasileira. A dupla faria 40 jogos pelo Brasil, que renderam 36 vitórias e 4 empates. Nossa seleção disputava, então sua terceira partida — depois de bater a Áustria por 3 a zero e empatar com a Inglaterra por zero a zero —, e venceu o escrete da Rússia por 2 a zero. Exatos 60 anos depois, na Rússia, começamos com um empate e um placar medíocre, mas é que se teve para ontem; há momentos em que só nos resta comer o que está no prato.

O desânimo em relação a esta Copa é inédito no “país do futebol” — menos por conta da derrota na anterior e mais pela a situação que o Brasil atravessa, com um presidente inepto, prestes a ser denunciado criminalmente pela terceira vez e cercado de assessores que se servem do poder para servir a si e aos seus. Com 13 milhões de desempregados que dependem do reaquecimento da economia para voltar ao mercado de trabalho, a quatro meses de um pleito presidencial onde um criminoso condenado e encarcerado (cuja candidatura é uma falácia) e um extremista de direta estatista, arrogante, e admirador confesso de carrascos da ditadura disputam o primeiro lugar na preferência deste “esclarecidíssmo” eleitorado, não espanta que quase não se vejam bandeiras e faixas nas janelas e adereços verde-amarelos nos carros, muros, calçadas e ruas.

Ontem, uma hora antes do início da partida, havia um corneteiro chato enchendo o saco — mas ele deve ter enfiado a corneta no saco, pois o final do jogo se deu num silêncio sepulcral, sem apitos, cornetas, buzinaços ou fogos de artifício. Durma-se com um barulho desses! 

******* 

A derrocada da política e a aversão aos políticos são fenômenos fenômeno mundiais, mas a coisa parece mais grave no Brasil porque nos atinge diretamente. Um bom exemplo é a Assembleia Legislativa de São Paulo, que, em plena crise fiscal, aprovou por 67 votos a 4 o aumento do teto do funcionalismo público estadual de R$ 22 mil para R$ 30 mil — o que produzirá um aumento de R$ 1 bilhão nas contas públicas, nos próximos 4 anos. Isso sem mencionar que nossos governantes e congressistas, em sua esmagadora maioria, vêm fazendo das tripas coração para sobreviver ao furacão investigativo.

Claro que gente como Gilmar Mendes tem dado uma forcinha. Aliás, se houvesse um mínimo de decência nesta Banânia, providências já teriam sido tomadas para afastar esse sujeito de suas funções, uma vez que os processos de impeachment protocolados no Senado foram todos ignorados solenemente — por outro lado, com Eunício Oliveira presidindo nossa Câmara Alta, seria de se esperar o quê?

Observação: Gilmar Mendes presidia o TSE em 2017, por ocasião do julgamento da chapa Dilma-Temer, e fez de bobos os ministros Herman Benjamin, Luiz Fux e Rosa Weber, que pareciam acreditar que o julgamento era para valer, e não um burlesco jogo de cartas marcadas. Curiosamente, o ministro-deus foi o grande responsável por ressuscitar a ação de cassação, que havia sido arquivada em 2015 por decisão monocrática da então ministra-relatora Maria Thereza de Assis, quando Dilma ainda era inquilina do Palácio do Planalto. Só que Michel Temer é amigo pessoal de Mendes, e talvez por isso sua insolência tenha mudado diametralmente de opinião — a pretexto de manter a “estabilidade”, a “governabilidade”, como fez questão de frisar em seu voto, que “mandou às favas” o tal “julgamento judicial e jurídico” que havia prometido presidir.

Como eu já comentei em outras oportunidades, o atual governo naufragou quando se tornou público o conteúdo da conversa mantida entre o presidente e Joesley Batista nos porões do Jaburu. Temer, que vinha conseguindo aprovar reformas importantes, se viu obrigado a torrar seu cacife político na compra de votos para se escudar das “flechadas” de Rodrigo Janot. Agora, mesmo sob a batuta de Raquel Dodge — que foi escolhida pelo próprio Temer para suceder a Janot —, sua insolência deve ser alvo de mais uma denúncia, mas não antes das eleições, ainda que a PGR já disponha de elementos suficientes para disparar a terceira flecha. O que de certo modo é bom, pois a situação caótica que o país atravessa se agravaria ainda mais com uma nova denúncia. Além disso, restam a Temer pouco mais de seis meses de mandato — tempo insuficiente para a tramitação e votação da denúncia e, no caso de ela ser aprovada, o consequente afastamento do presidente.     

As incertezas quanto à sucessão presidencial vêm produzindo efeitos nefastos na nossa já combalida economia. As intenções originais de votos em Lula, nos níveis do fim do século passado, sobreviveram — pelo menos é o que indicam as pesquisas —, mas, quando transplantadas para nomes do seu partido, o número de eleitores aparentemente dispostos a ressuscitar o lulopetismo cai vertiginosamente. Um desejável nome “de centro” insiste em não aparecer, e a perspectiva de um segundo turno disputado por Bolsonaro, Ciro ou Marina não anima em nada os investidores (daí as sucessivas quedas do índice Bovespa, mesmo com o Banco Central investindo pesado para conter a alta do dólar). Nas últimas semanas, Michel Temer enfraqueceu nossa combalida democracia ao usá-la para descrever a essência de sua reação à greve dos caminhoneiros, titubeante e inepta. Em grande medida, isso explica a polarização do eleitorado em torno de duas personalidades fortes, o que, por seu turno, explica a volatilidade do mercado. Mas as pesquisas de intenção de voto são um instantâneo do cenário eleitoral no momento em que elas são realizadas — daí porque postulantes à presidência como Geraldo Alkmin e Henrique Meirelles, apenas para citar os mais notórios pré-candidatos “de centro”, apostam numa mudança do cenário a partir do início oficial das campanhas, que é acompanhado do anacrônico e enervante “horário eleitoral obrigatório” no rádio e na TV. 

O mais preocupante não é exatamente a posição dos atores, e sim a situação de fundo, que parece difícil de mudar. Mesmo assim, dá uma certa agonia pensar que, sem Lula no páreo (graças à bendita Lei da Ficha-Limpa), Bolsonaro só é superado pelos votos brancos e nulos.

Não é à toa que cerca de 70 milhões de brasileiros — notadamente de São Paulo, Rio e Paraná — deixariam o Brasil se pudessem, como revela uma matéria publicada na sessão Painel da Folha de São Paulo.

Na pesquisa, feita em todo o Brasil no mês passado, 43% da população adulta manifestou desejo de sair do país. Entre os que têm de 16 a 24 anos, a porcentagem vai a 62%. São 19 milhões de jovens que deixariam o Brasil, o equivalente a toda a população de Minas Gerais.

O êxodo não fica apenas na intenção. O número de vistos para imigrantes brasileiros nos EUA, país preferido dos que querem se mudar, foi a 3.366 em 2017, o dobro de 2008, início da crise global. Os pedidos de cidadania portuguesa aceleraram. Só no consulado de São Paulo, houve 50 mil concessões desde 2016. No mesmo período, dobrou o número de vistos para estudantes, empreendedores e aposentados que pretendem fixar residência em Portugal.

As pessoas se sentem vítimas do sistema, à parte dele. Com isso, perdem a capacidade de se sentir cidadãs, seja nos direitos, seja nos deveres. O clima é de desesperança. Levantamento feito no começo deste mês pelo Datafolha mostrou que, para 32% dos brasileiros, a economia vai piorar; 46% acreditam em alta do desemprego. Nessa perspectiva, a vontade de ir embora é uma atitude racional, de busca de uma vida melhor em um mundo no qual ficou mais fácil transitar.

Triste Brasil.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

sexta-feira, 15 de junho de 2018

MAIS CRISE NO PAÍS DA CRISE



Os combustíveis retornaram às bombas e os hortifrutigranjeiros, às feiras livres e supermercados. Tudo voltou ao normal, ainda que os preços estejam bem mais altos que antes da paralisação dos caminhoneiros. Mas o Brasil é um país em crise permanente, com períodos de aparente normalidade, e neste momento, a quatro meses das eleições, é “normal” estarmos vivendo o mais absoluto caos.

ObservaçãoDois novos encontros com caminhoneiros e uma possível votação na Câmara dos deputados acrescentam mais um capítulo na novela da crise viária e política do país. Além da tabela de fretes rodoviários, será discutida a Medida Provisória dos Fretes e o aumento na pontuação de suspensão da carteira de motorista.

As greves dos caminhoneiros e dos petroleiros — esta última ficou mais na ameaça, mas enfim... — jogaram o Brasil de volta no atoleiro do populismo e causaram enormes danos à economia e à rotina da população. E num país onde nem o passado é previsível, como prever o que acontecerá em outubro, quando milhões de desinformados e outros tantos analfabetos de quatro costados escolherão presidente, governadores, senadores e deputados estaduais e federais a partir de um portfólio de opções onde, salvo raríssimas exceções, não há nada que valha míseros dois réis de mel coado?

A greve dos caminhoneiros deve continuar impactando a economia, a política, o orçamento e até o judiciário brasileiro ao longo de 2018, até porque baixar e controlar preços por decreto não funciona — que o diga o ex-presidente Sarney. Resta saber se os postos realmente baixarão o preço do diesel em 46 centavos, como o Planalto prometeu, ainda que, por lei, não possa tabelar o preço nas bombas. Marun disse que não se trata de tabelamento, mas se o governo anunciou multas de até 9,4 milhões de reais para postos que desrespeitarem a medida, o que seria, então?

Observação: Analistas estimam que os prejuízos decorrentes ultrapassam R$ 60 bilhões e seus efeitos para o PIB de 2018 ainda são imensuráveis. O mais provável é que a economia cresça menos de 2%, o que fulmine as candidaturas governistas e abre espaço para discursos mais extremados no processo eleitoral. A greve terminou, mas, pelo visto, os problemas políticos e econômicos continuam a pleno vapor.

Seria ingenuidade esperar algo diferente de um governo falido, de um presidente impopular, desacreditado e cercado de assessores igualmente suspeitos, investigados ou denunciados. Ou uma reação diferente dos investidores, a 4 meses de uma eleição na qual os candidatos mais cotados são um presidiário e um militar truculento, arrogante e de absoluta inexpressividade legislativa — com míseros 2 projetos aprovados em 26 anos como congressista.

Assim como ocorreu nas eleições de 2014, quando Dilma e Aécio dividiam a preferência do eleitorado, as pesquisas de intenção de voto serão acompanhadas de perto pelo mercado financeiro, e o fato de o que elas revelam não entusiasmar — com o demiurgo de Garanhuns fora do páreo, a disputa fica polarizada entre Jair Bolsonaro e Ciro Gomes —, devemos ter novas oscilações pela frente.

Como nenhum dos primeiros colocados é bem visto pelo mercado financeiro, a publicação dos resultados das pesquisas provocou quedas na Bolsa e altas no preço do dólar (na última quinta-feira, o IBOVESPA fechou em baixa de 2,98%, aos 73.851 pontos, e a moeda norte-americana subiu 2,28%, cotada a R$ 3,926). O fato de a sonhática Marina Silva aparecer ora em terceiro, ora em segundo lugar também não ajuda em nada, e nem Henrique Meirelles nem Geraldo Alckmin — que, se estivessem melhor colocados, acalmariam o mercado — parecem ter chances reais de chegar ao segundo turno.

Seja como for, a menos que se dê uma inconcebível — mas não impossível, que isto aqui é Brasil — reviravolta no cenário político-jurídico, Lula é carta fora do baralho, digam o que disserem os petralhas e sua militância atávica. O petralha, que também não é bem visto pelo mercado financeiro, está cumprindo pena e é réu em mais 6 ações criminais — duas das quais tramitam na 13ª Vara Federal, em Curitiba, e se não fossem os recorrentes pedidos de perícias, diligências e outras chicanas,  já teria sido sentenciado no processo que trata da cobertura em São Bernardo do Campo e do terreno comprado pela Odebrecht para sediar o folclórico Instituto Lula. Isso sem mencionar o sítio de Atibaia, cuja ação também está sob a pena do juiz Moro (os demais tramitam na Justiça Federal do DF, onde, a exemplo do que ocorre no STF, avançam a passo de tartaruga).   

Por essas e outras, para o dólar romper a barreira psicológica dos R$ 4 é o BACEN voltar a subir a taxa básica de juros é mera questão de tempo. Espera-se que, já na próxima reunião, o COPOM eleve a Selic em meio ponto percentual. Todavia, o uso da política monetária para conter o avanço do câmbio em vez de para controlar a inflação (que está baixa devido à recessão), o mercado pode interpretar a alta dos juros como um sinal de que o Banco Central está receoso em relação ao câmbio, e isso é tudo de que o governo não precisa neste momento.

Some-se a isso o fato de o Congresso estar parado, de reformas importantes — como a fiscal e a da Previdência — não avançarem, junte a demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras e veja como o molho desanda facilmente.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

segunda-feira, 19 de junho de 2017

MAIS SOBRE COMO MELHORAR A PERFORMANCE DO WINDOWS

NÃO É TRISTE MUDAR DE IDEIAS, TRISTE É NÃO TER IDEIAS PARA MUDAR.

Antigamente, quando a gente comprava um carro novo, precisava rodar os primeiros (milhares de) quilômetros sem esticar demasiadamente as marchas ou andar em alta velocidade, sob pena de danificar os componentes internos do motor, que ainda não estavam devidamente ajustados. Somente depois desse “amaciamento” é que o veículo atingia seu melhor rendimento, tanto em desempenho quanto em consumo de combustível.

Com o computador, no entanto, dá-se o contrário ― ou seja, a performance tende a se degradar com o passar do tempo e o uso normal do aparelho.

Embora a gente já tenha conversado sobre essa “característica” dos PCs, não custa reforçar que é possível manter o despenho do sistema em patamares aceitáveis com o uso de uma boa suíte de manutenção ― como o System Mechanic, o Advanced System Care, o CCleaner e o Glary Utilities, dentre inúmeras opções que a gente já analisou em diversas oportunidades. Na falta desse recuso, convém ao menos rodar os utilitários que o Windows oferece para limpeza do disco, correção de erros e desfragmentação dos dados. (Já expliquei "n" vezes como fazer isso, de modo que não faz sentido encompridar esta matéria "chovendo no molhado", se você tem dúvidas, pesquise o Blog ou deixe um comentário).

Observação: Note que uma suíte não só facilita o trabalho, mas também proporciona melhores resultados, até porque algumas delas (como as que sugeri linhas atrás) atuam em outras frentes, com destaque para o Registro do sistema, que deve ser mantido limpo e desfragmentado (para saber mais sobre esse importante banco de dados do Windows, reveja a sequência de postagens iniciada por esta aqui).

Mas não é só. Mesmo um sistema saudável pode ter o desempenho melhorado com alguns ajustes simples. Dentre outros, sugiro desabilitar a indexação de busca, notadamente em máquinas de configurações (de hardware) mais modestas. Isso porque esse serviço roda em segundo plano para agilizar eventuais pesquisas que você só faz eventualmente, mas consome recursos do computador durante todo o tempo. No cômputo geral, é melhor esperar um pouco mais pelos resultados de uma pesquisa ― se e quando você a fizer ― do que conviver com lentidão constante.

Para fazer essa configuração no Windows 10, digite index na caixa da Cortana e clique em Opções de Indexação. Na janela que se abre em seguida, clique no botão Modificar; na próxima, faça os ajustes desejados (sugiro desmarcar todas as caixas de verificação exibidas no campo Alterar locais selecionados).

Observação: Note que esse procedimento é desnecessário em computadores equipados com SSDs.

Continuamos na próxima postagem. Até lá.

NADA ALÉM DE INCERTEZAS

Ao investigar o presidente Michel Temer e afastar dois parlamentares do cargo, a PGR e o STF se tornaram alvos do Planalto e do Congresso. Receando pela própria sobrevivência política, os aliados do governo não se constrangem em descumprir decisão judicial e fustigar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Edson Fachin.

Antes restrita a conversas de bastidores, a discórdia ficou explícita com a denúncia de que o Planalto teria acionado o serviço secreto para investigar Fachin, e o Senado, descumprido a decisão judicial de afastar Aécio Neves. A fervura baixou nos últimos dias, devido a um recuo estratégico de ambos os lados, mas as manobras sub-reptícias persistem: aliados do governo tramam com Rodrigo Maia uma forma de arquivar o mais rápido possível a denúncia contra Temer ― fala-se até que Maia cogita suspender o recesso parlamentar para barrar o processo enquanto o presidente ainda conta com o apoio de mais de 1/3 dos deputados.

Como a autorização pela Câmara deverá ser feita mediante votação nominal, a intenção da PGR é constranger os deputados (vale lembrar que, no ano que vem, os eleitores terão a chance de substituir todos os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores). Janot pretendia esperar até o final deste mês para denunciar Temer, mas agora cogita ampliar o leque de crimes, o que resultaria em pelo menos duas ações penais contra o presidente. Além disso, o procurado aposta na “colaboração” de Fachin, que parece disposto a cumprir todos os prazos processuais ― o que retardaria a chegada da denúncia à Câmara em pelo menos 20 dias e, consequentemente, frustraria o plano do governo de votar antes do recesso.

Especula-se também que Temer indicará algum nome alinhado à sua causa para substituir Janot na PGR, em setembro, com o objetivo de frear a Lava-Jato. Isso interessa aos congressistas alvejados por denúncias e processos, mas deve afastar os demais do Executivo (como dito, as eleições estão aí), sem mencionar que a opinião pública certamente irá se manifestar contra mais essa maracutaia.

Existe ainda a possibilidade ― remota, mas enfim... ― de o STF passar a adotar uma posição sistematicamente obstrucionista. Um bom indício nesse sentido foi a atuação do ministro Gilmar Mendes no julgamento da chapa Dilma-Temer. Restam 10 ministros no Supremo, e nem todos são admiradores confessos de Temer, mas o governo briga pela sobrevivência e já mostrou que está disposto a “ir até o fim” (que se ferre o Brasil e que se lasquem os brasileiros).

Temer se vale do fato de seus aliados não terem força suficiente para excretá-lo a baixo custo e de os adversários preferirem o apodrecimento progressivo à ruptura de consequências incertas. Para um moribundo, cada dia a mais é uma vitória, e o governo aposta que uma melhora na economia lhe dê alguma força para influir na sucessão e proteger o presidente e seus comparsas. Não é o melhor plano, mas não deixa de ser um plano, embora seja grande o risco de Temer não ver sequer aprovadas as reformas que defende ou de chegar ao final de 2018 no cargo, pois novas denúncias poderão surgir para sangrá-lo em praça pública.

Como escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando só o problema tem as chaves da solução, a tendência da crise é perenizar, num processo de contaminação progressiva. Os atores “neutros” vão sendo arrastados para o ringue, e os árbitros vão perdendo a capacidade de arbitrar. Até que alguém, velho ou novo, prevaleça pela força e corte o nó górdio, pois nenhuma crise dura para sempre. Mas parece que ninguém tem a espada mágica. Um desembarque do PSDB certamente catalisaria o impulso para Temer cair pela via congressual, pela autorização ao STF ou mesmo por impeachment. Só que o PSDB também reluta ― por razões óbvias ― em contribuir para fortalecer decisivamente a Lava-Jato, o Ministério Público e a Justiça.

A situação não pode se eternizar, mas pode se estender até as próximas eleições, e é nisso que apostam o núcleo dirigente do PT e Lula, que hoje preferem o cenário de definhamento progressivo do governo Temer. O problema do PT é que, se o atual governo tem instrumentos para bloquear ― ou pelo menos frear ― as coisas em Brasília, os petralhas não têm como neutralizar Curitiba, e a ameaça para Lula e o PT está no Paraná, não em Brasília. Mesmo assim, os esquerdopatas esperam que a derrocada do governo lhes sirva de “mão do gato” para tirar castanha do fogo. Lembro que eles também achavam que o fiasco de Sarney propiciaria uma virada em 1989, e o resultado a gente sabe muito bem qual foi.

É fundamental ter em mente que nosso maior problema não é Temer nem Lula, mas a falta de oposição. O PSDB, tão inútil quanto um sexto dedo do pé, teve seu momento de glória ao emplacar FHC, que, quando ministro de Itamar, conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica com o Plano Real, mas deixou a esquerda criar asas e perdeu a presidência para Lula. O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se concretizado se o tucanato tivesse se empenhado mais, mas esse cemitério de egos ainda não se conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários.

O PSDB nasceu socialdemocrata, mas foi perdendo vigor conforme se distanciava da sociedade e passava a se orientar pela lógica do poder, notadamente depois de se tornar oposição aos governos do PT. Depois da derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em parafuso. É certo que tenha contribuído para o impeachment de Dilma, que o tenha feito em nome da estabilidade, da governança, da austeridade, da “salvação nacional”, e que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018. Só que nada fez para influenciar ou direcionar esse governo, que se deixou impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS.

O PSDB ficou ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço enganou meio mundo (e aí se inclui este obscuro articulista). Com seu espaço de manobra reduzido, os tucanos optaram por permanecer no barco, mas, por não terem forças para assumir o leme, dividiram-se entre “cabeças pretas” e “cabeças brancas”. Por não conseguir esclarecer as razões da opção, o partido virou as costas para a opinião pública e deixou que se fechasse a janela de oportunidade que lhe permitiria resgatar a imagem que teve outrora, qual seja de alternativa lógica para quem já não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB.

Observação: Na semana passada, a prisão temporária da irmã de Aécio foi mantida por decisão da 1ª Turma do Supremo, que decidirá, na próxima terça-feira, se pede ou não a prisão do próprio senador. Lula e PT, “esquecidos” temporariamente devido ao cataclismo gerado pela delação da JBS, apostam no “quanto pior melhor” para prolongar a crise e capitalizar suas chances no pleito de 2018. Para esses imprestáveis, é imperativo manter a militância coesa e vender a ilusão de que somente o molusco abjeto poderá reverter a crise que ele mesmo ajudou a criar ao escolher Dilma para sucedê-lo no final do seu segundo mandato. E o pior é que sempre tem quem compra.

Enfim, o PSDB fez sua aposta ― pouco importando, nesse contexto, ta “fresta” deixada aberta para o caso de “fatos novos” forçarem uma revisão da decisão. Disseram seus caciques que decidiram balizados pela “ética da responsabilidade”, quando na verdade foram motivados por expectativas futuras de autopreservação. Combate à corrupção, reforma política e qualificação da democracia saíram da agenda, o que também possibilita ao PT embarcar nessa canoa, juntando a fome com a vontade de comer.

Manter apoio ao governo foi mais um tijolo na obra de desconstrução do tucanato. Algo que certamente cobrará seu preço, tanto do partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que perdeu outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade, a opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

sábado, 26 de novembro de 2016

CALERO, GEDDEL E A MULHER DE CÉSAR

Diante das declarações de Marcelo Calero, esperava-se que Geddel fosse devidamente defenestrado ― até por uma questão de coerência: em entrevista concedida em maio ao Fantástico, dias depois de assumir interinamente a Presidência da Banânia, Temer disse ter alertado seus ministros de que se algum deles não agisse "adequadamente" seria demitido. No entanto, contrariando as expectativas, Geddel não caiu ― pelo menos até o momento em que escrevo estas linhas.

Para Temer, a situação é, no mínimo, desconfortável. Interessa-lhe manter Geddel na Secretaria do Governo, onde o amigo é peça-chave na articulação de importantes medidas para tirar o país da crise ― dentre as quais a PEC dos gastos ―, sem mencionar que demití-lo seria reconhecer que um de seus principais assessores de confiança tramou para se beneficiar pessoalmente. Por outro lado, a saída de Calero do ministério não foi mera divergência interna, e ignorar suas denúncias ― de que Geddel tê-lo-ia pressionado para favorecer interesses pessoais ― o presidente se vê no velho dilema da mulher de César, que além de ser honesta precisa parecer honesta.

Calero foi o quinto ministro a deixar a Esplanada desde que Temer assumiu a presidência. Antes deles, saíram Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Henrique Alves (Turismo) e Fábio Osório (Advocacia-Geral da União). Geddel será o sexto?
Segundo O GLOBO, o caso Geddel reproduz o dilema do caso Jucá, quando Temer se viu obrigado a escolher entre priorizar a amizade ou defender um padrão ético minimamente aceitável no poder. Aliás, ser ético e ter reputação ilibada é o mínimo que se espera de um ministro de Estado ― ou não? No entanto, sua excelência não deixou dúvidas sobre sua posição: mesmo sob pressão para afastar Geddel do cargo, ele escolheu manter o amigo.

Para entender melhor essa novela ― que parece estar longe de terminar ―, o empreendimento imobiliário La Vue Ladeira da Barra, do qual Geddel é proprietário de uma unidade e seus parentes são representantes legais do edifício, foi embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Apesar das tentativas via AGU, o órgão determinou que o prédio não tivesse mais do que 13 andares (o projeto original previa 31 pavimentos), contrariando os interesses da construtora Cosbat. Calero diz que Geddel tê-lo-ia pressionado a liberar o projeto, que as pressões continuaram mesmo depois do parecer contrário do Iphan, que Temer teria dito que a decisão do órgão criara “dificuldades operacionais” em seu gabinete, que “o ministro Geddel se encontrava bastante irritado”, e que “política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão”. Além de Temer e de Geddel, o ex-ministro implica também Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, que lhe teria recomendado “construir uma saída com a AGU”.

Temer disse que tratou duas vezes com Calero sobre a divergência com Geddel, mas negou que tenha feito pressão para modificar decisão do Iphan. Em nota pública, o presidente afirma que sugeriu uma avaliação jurídica da AGU sobre o tema, uma vez que “o órgão federal tem competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública”. Na última segunda-feira (21), a Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu abrir um processo para investigar a conduta de Geddel no episódio. Nos últimos dias, Geddel admitiu ser proprietário de um apartamento no empreendimento, confirmou que procurou o então ministro da Cultura para tratar do embargo à obra, mas negou que o  tivesse pressionado para liberar a obra.

Aguardem novas emoções.

ATUALIZAÇÃO:

Novas emoções que vieram logo em seguida, com o pedido de exoneração apresentado por Geddel, que continuará sendo investigado ― e agora, vale lembrar, sem a prerrogativa de foro.

Resta saber o que realmente contém a gravação que Calero diz ter feito durante sua conversa com Temer, mas a verdade é uma só: os dois envolvidos deixaram de ser ministros, e, restando comprovada a culpa deste ou daquele, a punição de perda do cargo já não faz mais sentido. Temer, todavia, continua à frente da Presidência ― e deverá continuar, a despeito do ridículo pedido de impeachment que o PSOL deverá protocolar na próxima segunda-feira.

Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a saída de Geddel encerra a crise, e  agora o presidente deve se preocupar em colocar no lugar do (mui) amigo outro articulador que lhe faça as vezes. Até porque o país precisa seguir adiante, e a PEC dos gastos, a reforma da Previdência, o combate à corrupção (as famosas 10 medidas que já chegaram a 18) e outras tantas precisam ser votadas e aprovadas o quanto antes.  

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

terça-feira, 28 de junho de 2016

FALTA DE DINHEIRO PARA PAGAR CONTA DE LUZ DEIXA SUPERCOMPUTADOR OCIOSO

PARA CONSEGUIR O QUE QUER, VOCÊ DEVE OLHAR ALÉM DO QUE VÊ.

Brasileiro tem memória curta, diz a sabedoria popular. Mas alguns de vocês ainda devem estar lembrados do pronunciamento feito pela “afastada”, em janeiro de 2013, quando reduziu as tarifas de energia elétrica ― uma das muitas medidas eminentemente eleitoreiras que compuseram seu portentoso estelionato eleitoral. E ainda que eu já tenha abordado esse assunto na minha comunidade de política (para conferir, clique aqui), achei por bem relembrar alguns trechos do besteirol petista vomitado pela gerentona de araque:

NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE O NOSSO GOVERNO TOMA MEDIDAS PARA BAIXAR O CUSTO, AMPLIAR O INVESTIMENTO, AUMENTAR O EMPREGO E GARANTIR MAIS CRESCIMENTO PARA O PAÍS E BEM-ESTAR PARA OS BRASILEIROS (...) NO CASO DA ENERGIA ELÉTRICA, AS PERSPECTIVAS SÃO AS MELHORES POSSÍVEIS (...) A CONTA DE LUZ, NESTE ANO DE 2013, VAI BAIXAR 18% PARA O CONSUMIDOR DOMÉSTICO E ATÉ 32% PARA A INDÚSTRIA, A AGRICULTURA, O COMÉRCIO E SERVIÇOS (...) O BRASIL VIVE UMA SITUAÇÃO SEGURA NA ÁREA DE ENERGIA DESDE QUE CORRIGIU, EM 2004, AS GRANDES DISTORÇÕES QUE HAVIA NO SETOR ELÉTRICO E VOLTOU A INVESTIR FORTEMENTE NA GERAÇÃO E NA TRANSMISSÃO DE ENERGIA (...) SURPREENDE QUE, DESDE O MÊS PASSADO, ALGUMAS PESSOAS, POR PRECIPITAÇÃO, DESINFORMAÇÃO OU ALGUM OUTRO MOTIVO, TENHAM FEITO PREVISÕES SEM FUNDAMENTO, QUANDO OS NÍVEIS DOS RESERVATÓRIOS BAIXARAM E AS TÉRMICAS FORAM NORMALMENTE ACIONADAS (...) COMO ERA DE SE ESPERAR, ESSAS PREVISÕES FRACASSARAM (...) ALIÁS, NESTE NOVO BRASIL, AQUELES QUE SÃO SEMPRE DO CONTRA ESTÃO FICANDO PARA TRÁS, POIS NOSSO PAÍS AVANÇA SEM RETROCESSOS, EM MEIO A UM MUNDO CHEIO DE DIFICULDADES (...) O BRASIL ESTÁ CADA VEZ MAIOR E IMUNE A SER ATINGIDO POR PREVISÕES ALARMISTAS. NOS ÚLTIMOS ANOS, O TIME VENCEDOR TEM SIDO O DOS QUE TÊM FÉ E APOSTAM NO BRASIL. POR TERMOS VENCIDO O PESSIMISMO E OS PESSIMISTAS, ESTAMOS VIVENDO UM DOS MELHORES MOMENTOS DA NOSSA HISTÓRIA (...) SOMENTE CONSTRUIREMOS UM BRASIL COM A GRANDEZA DOS NOSSOS SONHOS QUANDO COLOCARMOS A NOSSA FÉ NO BRASIL ACIMA DOS NOSSOS INTERESSES POLÍTICOS OU PESSOAIS (...) 

Votando ao que interessa, o supercomputador Santos Dumont, de R$60 milhões, projetado pela empresa francesa Atos/Bull e colocado em funcionamento há cerca de seis meses, foi “aposentado” em maio último pelo Laboratório Nacional de Computação Científica do Rio de Janeiro, devido à falta de dinheiro para pagar a conta da Light.

O aparelho, que é capaz de realizar 1,1 quatrilhão de operações por segundo, é responsável por um aumento de R$500 mil mensais na fatura de energia do LNCC. Embora ocioso, esse portento continua ligado, já que desligá-lo totalmente pode acarretar um prejuízo ainda maior, devido a deterioração de componentes que precisariam ser substituídos mais adiante. De acordo com Wagner Leo, coordenador de tecnologia do laboratório, o governo do presidente interino Michel Temer prometeu um repasse de 4,6 milhões de reais para a manutenção do Santos Dumont, mas até o momento essa verba não chegou.

E viva o povo brasileiro!

(Postagem criada a partir de informações publicadas pelo portal IDGNOW!)