As Forças Armadas, com o Exército à frente, são a
organização mais respeitada do Brasil. Dão de 10 a 0 no Supremo Tribunal
Federal, no Ministério Público, nos juízes que ganham o “auxílio-moradia”, na
mídia e no Congresso Nacional. Ganham de longe de qualquer organização civil ― sindicatos, empresas
estatais ou privadas, confederações
disso ou daquilo, clubes de futebol, OABs e similares. É melhor nem falar, então, da Igreja Católica e das
CNBBs da vida ― e muito menos desses lúgubres
“movimentos
sociais”,
entidades de “minorias” e outros parasitas
que vivem às
custas do Tesouro Nacional.
Enfim, as Forças
Armadas têm mais
prestigio que qualquer outra coisa organizada que exista neste país. Militar
não rouba. Militar não falta ao serviço. Militar não é nomeado por político. É
exatamente por essas razões ―
por ter nome limpo na praça
e valer mais aos olhos do público
do que todos os três
poderes juntos ― que o
Exército foi chamado para defender um Rio de Janeiro invadido, tomado e
governado na prática por um exército de ocupação de criminosos.
Mas é só por isso, e por nada mais: o governo chamou os
militares porque esta é a única maneira de tentar mostrar à população que está
“fazendo alguma coisa” contra a derrota humilhante que lhe foi imposta pelos
bandidos. O Exército não pode derrotar o crime no Rio de Janeiro. Nenhum
exército foi feito para isso, em nenhum lugar do mundo. Pode haver algum alívio
durante certo tempo, mas depois a tropa tem de sair ― e aí
o crime volta a mandar, porque é
o crime, e não o
governo e sua polícia,
quem manda no Rio de Janeiro.
O governo Michel Temer, no caso, é culpado por
empulhação ― mas só por empulhação. Pela situação do crime no Brasil,
com seus 60.000 assassinatos por ano, recordes de roubos, estupros e violência
em massa, e a entrega da segunda maior cidade do país à bandidagem, as
responsabilidades vão muito além. A culpa pelo desastre, na verdade, é conjunta
― o que não quer
dizer, de jeito nenhum, que ela é dos cidadãos. Ela é de todos os que têm algum
meio concreto de influir na questão e não fazem o seu dever.
Como é possível
enfrentar a sério o crime se temos leis, um sistema Judiciário e agentes do
Estado que protegem ativamente os criminosos? Afinal, do jeito em que está
a ordem pública no Brasil, eles têm praticamente o direito de cometer crimes. A
maior parte da mídia mantém uma postura de hostilidade aberta à polícia ― nada parece excitar tanto
o fervor do noticiário do que as denúncias contra a “violência
policial”. Obedece, ao mesmo tempo, a mandamentos de simpatia e compreensão
perante os criminosos, sempre tratados apenas como “suspeitos”,
vítimas da situação “social” e portadores prioritários de
direitos. A maior parte dos 800.000 advogados do país é contra qualquer
alteração que torne menos escandalosa a proteção e garantias fornecidas ao
crime pelas leis atualmente em vigor. Policiais são
assassinados em meio à mais completa indiferença ― policial bom é policial morto,
parecem pensar governo, oposição
e quem está no
meio dos dois. Os bispos, as ONGs, as entidades de defesa dos direitos humanos,
as variadas “anistias” internacionais que andam por aí, as classes
intelectuais, procuradores, juízes, políticos e mais uma manada de gente boa
são terminantemente contra a repressão ao crime. Punição, segundo eles, “não
resolve”. Sua proposta é esperarmos até o Brasil atingir o nível educacional,
cultural e social da Noruega ― aí
sim, o problema estará
resolvido.
A jornalista Dora
Kramer, na sua coluna da última
edição de VEJA, escreveu o que está
para ser dito há muito tempo e ninguém diz: a cidade do Rio de Janeiro vive, hoje em dia, como se estivesse ocupada
por uma tropa de invasão nazista. Nem mais nem menos. Um invasor do país
tem de ser combatido com guerra, e não com decretos, criação de “ministérios de
segurança” e a intervenção de um Exército que é mandado à frente de combate com
as mãos amarradas. Não tem estratégia clara. Não tem missão definida. Não tem a
proteção da lei. Não tem o direito de usar suas armas dentro da finalidade para
a qual elas foram projetadas e construídas. Não tem meios adequados sequer para
proteger os seus próprios soldados ―
muito menos, então,
para atacar o inimigo.
Enquanto for assim, o Rio continuará entregue aos invasores.
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