Continuando de onde paramos na postagem anterior:
Tanques e soldados nas ruas não são novidades para os
cariocas, mas, para que tenha chances reais de produzir resultados
substantivos, a intervenção federal precisa ir bem além, começando por deixar claro
de onde virão os recursos, quem vai pagar o quê, e como. Demais disso, é
fundamental que se faça uma devassa nas polícias civil e militar e na
administração dos presídios, e que se exerça um controle efetivo sobre o
abundante afluxo de armas e drogas ― é bom não esquecer que as autoridades não
conseguem barrar nem mesmo a entrada de celulares nas penitenciárias.
Isso é só o começo, mas já é muita pedra no caminho do general-interventor,
que foi escalado para comandar uma operação cujas únicas preparações foram uma
reunião do presidente com ministros de sua cozinha e outra com o marqueteiro Elsinho Mouco. Aliás, para o
marqueteiro de Temer, empurrar a
bandeira do combate à criminalidade dá ao presidente condições de disputar o
voto dos mais pobres e dos eleitores que simpatizam com a candidatura de
radical de direita Jair Bolsonaro. “O Temer
jogou todas as fichas na intervenção (...). Ele já é candidato”, disse Mouco ao colunista Bernardo Mello Franco, de O
GLOBO.
Temer desconversa,
até porque disputar a reeleição com índices abissais de aprovação popular e a
imagem associada a malas de dinheiro nas mãos e em apartamentos de amigos
próximos é coisa de napoleão de hospício. Mas vivemos num país onde a
ignorância campeia solta e o candidato preferido pelos desculturados é um
criminoso condenado... então, por que não tentar? O momento não poderia ser
melhor: com um primeiro lugar vago (só a militância vermelha ainda não vê que a
Lei da Ficha-Limpa tornou Lula inelegível e que sua prisão pode
ser decretada assim que o TRF-4 julgar
os benditos embargos declaratórios-protelatórios, o que deve acontecer ainda
neste mês), um segundo com proposta de voltar 30 anos no relógio da história e
um terceiro disputado por um aglomerado de pigmeus ciscando em torno de
migalhas.
Temer parece estar
convencido de que deve entrar na disputa, e se enrola na bandeira da segurança
pública para continuar no jogo. Mais do que se reeleger, porém, importa-lhe mesmo
é chegar às urnas com cacife suficiente para negociar seu apoio em troca de
alguma espécie de salvo conduto na Lava-Jato para si e os seus.
Pesquisas realizadas em janeiro situavam Temer no mesmo
patamar de Henrique Meirelles e Rodrigo Maia, que patinam em torno de
1%. Na sexta-feira pós-Carnaval ― logo após o anúncio da intervenção, portanto ―
uma enquete realizada pelo IBOPE a
pedido do governo deu conta de que 82% dos entrevistados aprovavam o decreto
presidencial. Isso bastou para que o humor do presidente mudasse do desânimo
com o sepultamento da reforma da Previdência para a euforia com a intervenção. Impulsionado por esse vento de cauda, Temer empacotou 15 medidas ― tidas,
agora, como prioritárias ― e as defendeu como solução para aumentar a
produtividade da economia. A maioria delas, no entanto, parte de projetos que
tramitam há tempos no Congresso e, a julgar pela fragilidade do governo, deverá
continuar engavetada. O próprio Rodrigo
Maia disse que essas medidas eram “café frio e velho”, e que o Congresso
vai voltar o que julgar importante. E Eunício
Oliveira seguiu pela mesma linha: “A pauta do Congresso quem faz somos nós;
não é o governo que faz a pauta aqui”.
Não é fácil mensurar o número de brasileiros que acreditam
em soluções militares. Por outro lado, é impossível negar que população vem
sendo sistematicamente insultada por decisões de um STF que presta vassalagem a condenados por corrupção, é feita de
trouxa por uma caterva de deputados e senadores da pior catadura, tem seus
direitos mais básicos violados por criminosos e vê o Judiciário soltar quem deveria estar preso ou manter fora da prisão
quem deveria estar lá dentro.
Enfim, tanto no caso da intervenção quanto no da sucessão
presidencial, sobram perguntas e faltam respostas. Vamos acompanhar e torcer
pelo melhor.
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