Enquanto articulava a deposição da gerentona de festim, Michel Temer acenava com um governo
reformista e um ministério de “notáveis”.
Quando assumiu o posto, prometeu enxugar a máquina pública, começando por extinguir ao menos 10 ministérios. Cortou apenas seis (e depois criou outros três, o
que nos deixa com 29 pastas, três a menos do que tínhamos quando
Dilma foi penabundada), e sua equipe
de notáveis se revelou uma notável agremiação
de corruptos ― que foram caindo feito moscas, à razão de um por mês, devido a suspeitas de corrupção.
Num primeiro momento, quando gozava de invejável apoio
parlamentar, o presidente conseguiu aprovar as PECs do Teto dos Gastos,
da Legislação Trabalhista e do Ensino Médio. Só que empacou justamente na mais importante, notadamente por não ter sido capaz de esclarecer a população da necessidade da reforma da Previdência e, consequentemente, de reunir os 308 votos necessários à sua aprovação na Câmara.
A perspectiva de uma derrota fragorosa forçou o governo a diversos adiamentos, e depois de passar meses afirmando que a provação da PEC era uma questão de vida ou morte ― até porque as despesas com folha de pagamento e aposentadoria consomem 70% do orçamento e continuam subindo acima da inflação ―, Temer e seus acólitos se resignaram em deixar o tudo ou nada para depois do Carnaval. Estranhamente, porém, resolveram abandonar de vez o projeto e apostar todas as fichas na intervenção federal no Rio de Janeiro. Mas vamos por partes.
A derrocada de Michel
Temer começou com a divulgação da famigerada reunião clandestina
com Joesley Batista, que teve efeitos arrasadores para um governante tido como ilegítimo e carente
de apoio popular. Para piorar, a partir daquele episódio, seus aliados de ocasião, membros da notória banda
podre do Congresso, passaram a exigir mais e mais benesses para apoiar o
governo, aproveitando-se do fato de o presidente estar disposto a tudo para escapar das folclóricas “flechadas” de Janot.
Tudo somado e subtraído, o reformista que almejava entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento” tornou-se
o primeiro presidente da nossa história a ser denunciado, no exercício do cargo, por crimes comuns (corrupção, associação
criminosa e obstrução da Justiça).
É de se reconhecer que o Brasil melhorou significativamente
desde a deposição da anta vermelha, que a inflação e a taxa básica de juros caíram
a patamares inéditos, que o PIB
voltou a crescer ― cerca de 1%, o que pouco, mas é muito se comparado com o
descalabro havido durante o governo Dilma ―
e que os índices do desemprego, se não baixaram, ao menos deixaram de subir.
Por outro lado, se o sepultamento das denúncias marcou o início da segunda fase
do governo Temer ― pautada por uma
agenda reformista, necessária, mas altamente impopular ―, a intervenção no RJ inaugurou uma terceira, focada no populismo explícito, o que é uma guinada
surpreendente, considerando que Temer sempre disse que a aprovação
popular lhe era indiferente. Mas para tudo existe uma explicação.
O desânimo com o sepultamento da reforma da Previdência
deu lugar à euforia com a intervenção federal no Rio, onde o problema da
violência não começou durante o Carnaval, mas as cenas exibidas pela TV durante
a folia facilitaram a decisão, que foi enfaticamente estimulada pelo
ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, para
quem Temer teria pouco a perder se a medida não funcionasse e tudo a ganhar se ela desse certo.
O "x" da questão é que a intervenção foi decretada sem um mínimo de planejamento,
pegando de surpresa tanto o governador Pezão (que, a meu ver, deveria ter sido
afastado) quanto os presidentes da Câmara e do Senado, sem mencionar o próprio
interventor, que optou pelo silêncio durante a cerimônia em que a medida foi anunciada, talvez para disfarçar sua total perplexidade.
Para não estender demais este texto, continuaremos no próximo post. Tenham todos um ótimo domingo.
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