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sexta-feira, 25 de maio de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS ― AINDA SOBRE O LOCKOUT QUE PAROU O PAÍS





Em troca do fim da paralisação, o governo ofereceu aos caminhoneiros um desconto de 10% sobre o preço do diesel, prometeu mantê-lo por 30 dias e renová-lo sucessivamente ― um acordo vantajoso para a Petrobras, que só na última quinta-feira perdeu R$ 47 bilhões em valor de mercado na Bolsa, mas péssimo para as contas públicas. Todavia, ainda é grande o número de caminhoneiros paralisados nesta sexta-feira, quinto dia consecutivo da greve, em pelo menos 24 estados e no Distrito Federal.

Paralelamente, aumenta o número de farmácias sem remédios e de postos sem combustíveis e mercados desabastecidos. Isso para não mencionar os inevitáveis atrasos na entrega da correspondência, a ameaça de falta d’água no Rio e a suspensão do rodízio e da coleta de lixo em São Paulo. E mais: o movimento deu asas a oportunismos de todos os tipos: donos de postos achacaram motoristas em pânico, a turminha do “quanto pior, melhor” festejou o caos e a direita atávica voltou a pedir “intervenção militar”.

Em nota, o Comandante-geral do Exército aventou o possível uso de força para desbloquear rodovias em todo o Brasil, mas o Comandante do Exército de São Paulo assegurou que que nenhuma intervenção será feita sem a ordem vinda de Brasília ― até porque não dispõe de contingente suficiente para atuar diante da situação. De acordo com o ministro Raul Jungmann, a Força Nacional poderá ser convocada atuar na reorganização do tráfego de veículos, mas isso só deve acontecer se os caminhoneiros não cumprirem sua parte no acordo (a Polícia Rodoviária Federal já vem sendo mobilizada para ajudar a levar combustível até os aeroportos brasileiros).

Essa crise não foi deflagrada por uma simples greve cujas reivindicações podem até ser justas, conquanto a irredutibilidade dos caminhoneiros venha infernizando a vida da população. Salta aos olhos que houve participação explícita de grandes empresários de transportes, e greve apoiada por patrões não é greve, é lockout ― e pode ter outras finalidades, tais como desestabilizar governos e tumultuar eleições.

Com a irresponsabilidade de sempre, os senadores anteciparam seu retorno “às bases”, temendo não conseguirem voos para a folga do final de semana. Os deputados, por sua vez, ignoraram um erro crasso de cálculo ao votar a redução de impostos sobre combustíveis. O Executivo, por seu turno, aumentou sua lista de trapalhadas: com as rodovias em polvorosa, Temer viajou para participar de uma cerimônia de entrega de automóveis e, do palanque, disse que o “fato mais importante do dia” era a sua presença na solenidade

Sem força política para peitar os responsáveis pelo lockout, o presidente autorizou seus asseclas a ceder à chantagem e torrar mais dinheiro público em forma de subsídios, tudo em nome de uma trégua de 15 dias que ninguém sabe se será cumprida. Enquanto isso, os brasileiros assistem apreensivos ao desenrolar dos acontecimentos.

Em casa onde falta pão, todos gritam e ninguém tem razão.

ATUALIZAÇÃO

A despeito do acordo firmado entre o governo e os caminhoneiros ― que vai custar caro para os cofres públicos ― a situação continua caótica. São 4,9 bilhões de reais até o final do ano, além dos 2 bilhões comprometidos em zerar a alíquota da Cide e dos estimados 12 bilhões com a retirada dos PIS/COFINS, que tramita no Congresso.

A União Nacional dos Caminhoneiros e o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas não assinaram o acordo, e afirmam que a paralisação prosseguirá até o Senado votar projeto de lei que altera a política de preços para o transporte rodoviário. A Associação Brasileira dos Caminhoneiros tampouco assinou o acordo, e diz que só encerra a greve quando as medidas anunciadas forem publicadas no DCU. A Confederação Nacional dos Transportes ainda vai decidir se a oferta é suficiente.

No fim das contas, foi mais uma mostra de como grupos de interesse, patronais ou não, conseguem impor suas agendas ao país, passando por cima dos interesses gerais da população. O governo é fraco; os caminhoneiros deitaram e rolaram. Só que, para deixar o campo de batalha, eles querem a isenção da cobrança do PIS/PASEP e da COFINS incidente sobre o diesel até o fim do ano. A matéria foi aprovada ontem pela Câmara; caso seja chancelada também pelo Senado, a isenção tributária terá de receber a sanção do presidente pato-manco.

ATUALIZAÇÃO (2). 

Dada a irredutibilidade dos caminhoneiros, o presidente Michel Temer anunciou há poucos minutos, em cadeia nacional, que vai convocar as Forças Federais de Segurança para liberar as estradas bloqueadas desde segunda-feira. A decisão foi tomada após uma reunião do Gabinete de Segurança Institucional no Palácio do Planalto com Temer e ministros do governo.

“Comunico que acionei as Forças Federais de Segurança para desbloquear as estradas e solicitei aos governadores que façam o mesmo”, disse ele. “Não vamos permitir que a população fique sem gêneros de primeira necessidade, que fiquem sem produtos, que hospitais fiquem insumos para salvar vidas nem que crianças sejam prejudicadas pelo fechamento das escolas.”

Estava mais que na hora.

Volto com mais detalhes quando eu os obtiver.