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domingo, 26 de maio de 2019

É O FIM DA PICADA!



O balanço das repercussões das manifestações pró-governo e contra tudo e todos fica para amanhã, dado o horário em que eu posto o Blog. Até lá, seguem algumas considerações sobre o pseudo caçador de marajás — exemplo pronto e acabado do lobo que perde o pelo, mas não larga o vício, e que é uma das muitas provas vivas do despreparo do nosso eleitorado. Na sequência, mais um texto irreprochável do jornalista J.R. Guzzo.

Collor foi primeiro presidente eleito pelo voto direto após o fim da ditadura militar — ditadura essa que, como viemos a saber recentemente, não passou de uma ilusão de óptica. Ele também se destacou por ter confiscado a poupança do brasileiros e por abrir a lista dos presidentes impichados na nova república. Agora, além de responder na Justiça por rapinar o Erário, Fernandinho é acusado de fazer o mesmo com o patrimônio da família, por não repassar aos sobrinhos sua cota-parte no lucro das empresas do clã.

No âmbito familiar, o ex-presidente impichado e ainda senador — ele renunciou às vésperas de ser defenestrado pelo Congresso, mas teve os direitos políticos cassados mesmo assim — exibe um sólido histórico de transtornos, desavenças e traições. No passado, brigas com os irmãos Pedro e Leopoldo e crises no casamento com Rosane; no presente, além de ser réu na Lava-Jato e investigado e responder a outros seis inquéritos, é acusado por cinco sobrinhos — que, juntos, detêm 15% da Organização Arnon de Mello — de apropriar-se do patrimônio da família. Perdeu o pelo, como dito no início, mas não abandonou o vício que o notabilizou.  

Fernando (nome dado em homenagem ao ex-presidente, que se tornaria inimigo figadal do irmão) e Victor têm juntos 15% do grupo. Os dois nunca viram um centavo do lucro das empresas nem receberam balanço contábil desde a morte de Pedro. Leopoldo teve três filhos, mas eles não podem exigir parte do patrimônio porque o pai vendeu sua participação acionária ainda em vida.
Representantes do clássico coronelismo nordestino, os Collor de Mello usufruem a rara combinação de dinheiro e poder. Seus negócios englobam bens como a TV Gazeta, afiliada da Globo, duas rádios, um jornal, uma gráfica e um edifício de treze andares em Maceió. Estima-se que o conjunto chegue a 250 milhões de reais. 

Essa é apenas a parte visível do iceberg, pois há outros bens, de caráter reluzente, que também têm sido alvo de disputa. Segundo matéria publicada em VEJA, o inventário da matriarca, Dona Leda (1916-1995), é descrito em 162 páginas, quatro delas dedicadas a joias e pedras preciosas, como uma pulseira de 18 gramas de ouro e 21 esmeraldas e um colar de ouro de 18 quilates de 102 gramas com onze fios de pérolas e brilhantes, além de vasos chineses, lustres de cristal Baccarat e obras de arte, como uma tela a óleo com a imagem da própria Leda pintada por Cândido Portinari. Embora as peças façam parte do testamento da matriarca, os herdeiros não sabem onde elas foram parar, e apontam o dedo para Fernando Collor, sabidamente useiro e vezeiro em misturar o que é dele e o que é dos outros.

Depois de ser escorraçado da política no pós-impeachment, Collor voltou-­se para os negócios da família. Em meados dos anos 90, assumiu o controle do grupo, então em boa saúde financeira. Hoje, a Organização Arnon de Mello soma mais de 200 milhões de reais em passivos. De acordo com a PGR, o ex-caçador de marajás de festim usou as empresas da família para lavar R$ 50 milhões, como na compra de um Porsche Panamera, por R$ 550mil, em nome da TV Gazeta. No mês passado, a PGR pediu ao STF a condenação do político a 22 anos e oito meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

As denúncias de irregularidades na distribuição de dinheiro entre os parentes e as acusações de lavagem de dinheiro, ambas ainda sob investigação, são o fio que puxa uma história de relações muito confusas, que não raro terminaram em rompimento. É triste, para dizer o mínimo, a saga da dinastia Collor. O casal Arnon de Mello e Leda Collor formou um clã de poder político e financeiro de longa data. O pai dela foi ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, nos anos 30 — antes de voltar-se contra a administração e ser exilado —, além de senador e governador de Alagoas. O dinheiro e o tumulto eram equivalentes dentro do lar. O clima de competição ganhava estímulo dentro de casa, onde a mãe também distribuía carinho de forma desigual. Leopoldo era o favorito na infância, mas na vida adulta ela transferiu o posto de queridinho para Pedro — quando este alavancou as empresas da família, no começo dos anos 90. Feliz, ela tinha feito um testamento em que daria 50% de seu patrimônio a Pedro. Depois que o filho fez as denúncias a VEJA, o documento foi desfeito e D. Leda decidiu testar metade da fortuna às duas filhas mulheres, Ana Luísa, morta em 2013, e Ledinha (ambas sem herdeiros).

Em 1998, outro abalo familiar. Leopoldo emprestou dinheiro ao irmão para a compra do Dossiê Cayman — um calhamaço de documentos falsos para prejudicar FHC. A mutreta foi descoberta, o tucano conseguiu se reeleger e Collor jamais quitou a dívida. Foi o ponto-­final em uma relação de raiva, inveja e competição. Com recursos escassos, os filhos de Leopoldo começaram a andar de transporte público e a comer ovo como “mistura” no almoço e no jantar. Por anos, Leopoldo trabalhou como diretor comercial da Rede Globo no Brasil, frequentando festas chiques regadas a champanhe. Morreu, em 2013, de câncer na garganta, em São Paulo. Não foi feito inventário por uma razão simples: não havia nada em seu nome. Collor impediu o jornal da família de noticiar a morte do irmão.

Fernando Affonso Collor de Mello tem cinco filhos. Arnon e Joaquim, os dois mais velhos, do casamento com a empresária Lilibeth Monteiro de Carvalho, quase não falam com o pai. Dos cinco filhos de Arnon e D. Leda, Fernando e Ledinha são os únicos vivos. Ambos estão rompidos. Apesar do atávico desconforto familiar, os primos buscam reinventar essa narrativa pacificamente. Os filhos mais velhos de Collor são amigos dos herdeiros de Pedro e Leopoldo. Procurado por VEJA, o marajá dos marajás, em nota envida por meio de seus advogados, refutou as acusações de que esconde o patrimônio familiar: “A defesa não vai responder a nenhuma questão relativa às empresas do ex-presidente; isso faz parte da relação entre ele e os sócios, e não faz sentido discutir publicamente”. Como se vê, as desculpas esfarrapadas e a postura arrogante também se repetem.
Passo agora a reproduzir o texto de J.R. Guzzo:

Se existe uma coisa fácil de identificar, no meio deste Brasil tão confuso de hoje, é o sujeito que gosta de ladrão. Falo de gente que manda ou influi em alguma coisa na vida pública — uma “autoridade”, como se diz. A descoberta da turma que dá expediente no Pró-Crime não exige prática nem habilidade. Basta olhar para qualquer dos Três Poderes da República e prestar atenção no seguinte: se a autoridade A, B ou C toma a decisão de mudar daqui para ali a apreciação de qualquer ato de ladroagem, ou o julgamento da conduta de qualquer político, o cidadão já pode ir tirando o cavalo da chuva: a bandidagem de primeira classe conseguiu, mais uma vez, bater lindamente sua carteira — ou, pelo menos, está tentando fazer o possível para isso, e quase sempre leva, quando tenta.

A recente traficância em torno de quem manda no Coaf é um exemplo clássico da primeira modalidade de vigarice que o submundo da “engenharia política” aplica em você. Chega a ser cômico, de tão grosseiro que é, o “modo de usar” manipulado pela politicalha no caso. Que raio pode ser esse Coaf? Uns 99% dos brasileiros não sabem o que é isso, nem querem saber. Mas tenha certeza de que aquele 1% que sabe, porque trabalha no pedaço, sabe extremamente bem o que é esse negócio, para o que serve, como tirar vantagem dele e tudo o mais que se pode imaginar de ruim a respeito. Trata-se de um “Conselho de Controle de Atividades Financeiras” — criado para produzir “inteligência financeira” destinada a combater crimes como a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo. Pois bem: 14 membros de uma Comissão Mista do Congresso, por uma diferença de três votos, decidiram mudar o Coaf “daqui para ali”. Em vez de ficar no Ministério da Justiça, de Sergio Moro, passará para o Ministério da Economia, de Paulo Guedes.

Mas as atividades do Coaf não se ligam muito mais à esfera da Justiça e da polícia do que da economia? Sim, só que ninguém está pensando nisso — o que estão pensando, isso sim, é onde ficaria mais seguro, para eles, encaixar a repartição que vigia a lavagem de dinheiro. Quer dizer que os funcionários da Economia são mais frouxos do que os da Justiça, ou mais dispostos a proteger os criminosos? De jeito nenhum. Não há a menor suspeita de que a equipe de primeira linha montada pelo ministro Guedes possa se meter nesse tipo de coisa. Mas aí é que está: a avacalhação dos políticos brasileiros chegou a tal extremo que qualquer mudança feita por eles levanta automaticamente as piores desconfianças. É como foi dito acima: se mexeram no Coaf, é porque estão atrás de alguma safadeza em seu benefício. O fato de 100% dos deputados e senadores do PT presentes na comissão terem votado a favor da alteração acaba com a conversa: é o selo de garantia definitivo de que a intenção da operação é apoiar a roubalheira.

A segunda modalidade de atuação do Pró-Crime, que muda a esfera onde se julgam os acusados de violar o Código Penal, ficou expressa na também recente decisão do STF, pelo voto decisivo de seu presidente, Dias Toffoli, de mudar para as Assembleias Legislativas o poder real de apreciar os crimes cometidos por deputados estaduais. O Supremo resolveu que eles têm, agora, a mesma “imunidade” dos parlamentares federais. É a ação da “banda podre” do STF, reforçada ultimamente pelo ministro Celso de Mello. De Toffoli, julgado oficialmente, e por duas vezes, sem qualificação mínima para ser juiz de direito, é isso mesmo o que se poderia esperar; ele é um desses casos de “o passado me condena, e o presente também”. De Celso Mello, firma-se a convicção de que a melhor contribuição que pode dar ao país é fazer aniversário no dia 1° de novembro do ano que vem — quando chegará aos 75 anos de idade e terá de ir embora do STF.

Tudo isso é mais um chute nas instituições. Elas vêm sendo destruídas há 30 anos, aliás, como resultado direto da obediência à “Constituição Cidadã” — que foi feita, vejam só, para dar instituições ao Brasil.

sábado, 25 de maio de 2019

AINDA SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DE DOMINGO



Sobre as manifestações marcadas para amanhã — assunto que discutimos ad nauseam no post de ontem —, escreveu o jornalista Augusto Nunes:

Nesta segunda-feira (20), publiquei no Twitter a seguinte constatação: “As manifestações do dia 26 terão significado histórico se provarem que os brasileiros aprenderam a mobilizar-se em torno de ideias. As ruas devem exigir do Congresso a votação, sem delongas malandras, do projeto da Nova Previdência, da Lei Anticrime arquitetada por Sergio Moro e da medida provisória da reforma administrativa, que abrandou a farra dos ministérios”. Em resposta, descontado um punhado irrelevante de comentários subscritos por cretinos fundamentais, centenas de brasileiros informaram que são exatamente essas as bandeiras que pretendem desfraldar no próximo domingo. Abstraídos os cretinos de sempre, os manifestantes reiteraram que não pretendem fechar o Congresso, nem exterminar o Supremo, muito menos transformar Jair Bolsonaro num Nicolás Maduro na contramão. O que eles querem é que deputados e senadores façam alterações que não desfigurem o projeto de Paulo Guedes e removam de vez essa pedra gigantesca colocada no caminho que encurta a chegada ao porto seguro.

É fato que declarações infelizes e tuítes desastrados do presidente dificultam o diálogo com o Legislativo. Mas também é fato que não melhoram em nada as relações entre os dois Poderes a estupidez do PT  que aposta no quanto pior, melhor  e a batalha travada pelo Centrão pela captura de cargos, verbas e cofres públicos. Não existe democracia sem Poder Legislativo. Mas a democracia será sempre uma caricatura com um Congresso infestado de delinquentes decididos a anular a revogação de privilégios contida na nova Previdência, bloquear o aperfeiçoamento do combate à corrupção e ao crime organizado desenhado pela Lei Anticrime de Sergio Moro e emparedar o Executivo com a recriação de ministérios inúteis extintos pelo atual governo.

Há poucos dias, manifestações contra quaisquer reformas foram tratadas como outra evidência de que o Brasil é um país democrático. Merecem o mesmo tratamento as manifestações do próximo domingo, desde que se limitem a desfraldar as bandeiras da nova Previdência, da Lei Anticrime e da reforma administrativa. “O Congresso sempre acaba fazendo o que o povo quer”, repetia o gaúcho Ibsen Pinheiro, que presidiu a Câmara durante o processo de impeachment de Collor. Já começou a fazer: nesta terça-feira, o Centrão resolveu desistir da ressurreição de ministérios e aprovar a MP que reformou a administração federal. Uma das três grandes reivindicações já foi atendida. As outras o serão assim que deputados e senadores ouvirem o rugido das ruas.

Na Gazeta do Povo, escreveu Guilherme Fiúza:

Não há novidade alguma na obsessão brasileira pelo fracasso. Você não precisa ler nenhum sociólogo de passeata para constatar o fenômeno. Cada passo à frente corresponde a uns dez para trás e andar de lado é progresso arrojado. Por uma razão miseravelmente simples: tacar pedra, aqui, é salvo-conduto. Por que trabalhar dobrado para construir, num lugar onde destruir é muito mais charmoso e bem mais fácil? Você está cansado de saber que, numa nação infantilizada, fazer cara de nojo para o governo é sucesso garantido. Arregaçar as mangas pelo bem comum e correr o risco de tomar uma chapa branca na testa? Deixa de ser otário.

Esse componente tão dramático quanto corriqueiro do caráter nacional já deu as caras, sem a menor inibição, inúmeras vezes. Uma das mais impressionantes se deu logo após a eleição de Lula, em 2002. Desafiado publicamente por Pedro Malan a esclarecer se sua plataforma era a demagogia dos calotes e bravatas contra a elite malvada ou o cumprimento de contratos e a responsabilidade fiscal, Lula se comprometeu com a segunda opção. E cumpriu. Iniciou seu governo com uma equipe econômica de alto nível, chefiada por Antonio Palocci cuja gestão foi reconhecida por dez entre dez expoentes do setor e Henrique Meirelles no Banco Central. Estavam dadas as condições para um novo ciclo virtuoso, depois das crises de energia (doméstica) e da Rússia (internacional) que travaram na virada do século a linha ascendente do Plano Real. Lula era um líder popular mostrando senso de pragmatismo para unir a estruturação econômica e o resgate social enfim, para unir o país. E o que fez o país? Fez o que faz sempre: sabotou. A fritura de Palocci não demorou a começar e vinha de todos os lados (isso te lembra alguma coisa?). Corneteiros e cassandras brotavam no meio empresarial, na imprensa, nas artes, na política inclusive no PT, o partido governante. Aliás, os tucanos fizeram a mesma coisa com Fernando Henrique e Malan porque, como já foi dito, aqui fazer cara de nojo para governo é investimento. Mesmo se você estiver no governo.

O Plano Real triunfou apesar dos tucanos, que até o apoiaram majoritariamente na decolagem (covardia não é burrice), mas atrapalharam tanto no nascedouro quanto na sustentação. Malan passou oito anos sendo demitido na imprensa e adivinha a origem dessas sementinhas? Uma equipe de abnegados executou o maior plano econômico da história enquanto o presidente era chamado todo dia de elitista, neoliberal (o fascista da época) e reacionário por ter se aliado a Antonio Carlos Magalhães, o Toninho Malvadeza. Identificou o padrão?

Voltando a Lula, aquela configuração que prometia unir o país (haha) logo virou tiro ao alvo: MST querendo mais grana, PT querendo mais cargo, PSOL nascendo para sua vida gloriosa de virgem do puteiro, tucano querendo o poder de volta, empresário “moderno” querendo dinheiro de graça e fritando o ministro da Fazenda que buscava a modernização. O vice-presidente, que era empresário, atacava dia sim, outro também, a política macroeconômica do seu próprio governo. Crise, teu nome é Brasil.

Observação: Direto da cadeia, em entrevista a um site, o demiurgo de Garanhuns explica que os 13 milhões de desempregados, a maior roubalheira da história, a crise econômica e outros desastres que ele próprio produziu em parceria com a anta que o sucedeu ocorreram nos últimos quatro meses: “A verdade é que nos governos petistas as pessoas mais pobres subiram um degrau na escala social começaram a entrar na universidade, frequentar restaurante, frequentar aeroporto e isso começou a incomodar a elite brasileira. Esse legado está sendo destruído. Bolsonaro está há quase cinco meses no governo e ninguém escuta falar em crescimento, desenvolvimento, investimento ou geração de renda. O país está abandonado. Só se fala em cortes orçamentários”.

Pausa para o leitor vomitar e se recompor.

Segundo vários representantes da intelectualidade nacional, o presidente dos pobres estava vendendo a alma ao diabo. Veríssimo se declarava decepcionado com a adesão de Lula ao superávit primário… (parece piada, e é, mas aconteceu). O país só se acalmou quando conseguiu interromper essa gestão virtuosa e abrir caminho para o maior assalto da história. Aí sobreveio uma década de paz. Em meio à roubalheira e à depravação institucional, não se viu nem passeata cenográfica pela educação. Pega daí, caro leitor: boa equipe, chance de reconstrução, cara de nojo, decepção… Só continua chamando isso aqui de nação quem confunde rima com solução.
Nota antropológica: FHC e vários outros que combateram a praga nacional dos falsos virtuosos hoje estão na orquestra da crise. Que lugar está reservado para esses personagens na história do Brasil? Pergunta no Posto Ipiranga.

Antes de concluir, um texto de Carlos Brickmann e mais algumas ponderações:

Lá vão os olavetes/em louca arrancada/xingando o inimigo/tinindo as espadas. Para que? Para nada”. Mas esta paródia dos Cavaleiros de Granada, de Cervantes, não é exata: em vez de “para nada”, pode ser “para o desastre”. A manifestação deste domingo, parece, é contra os políticos, o Supremo, os manifestantes da semana passada. A marcha pode ser um êxito, pode dar para o gasto, pode fracassar. Se fracassar, será péssimo para o presidente. Se apenas der para o gasto, será ruim para o presidente. Se tiver êxito, hostilizará entidades de que Bolsonaro precisará para que seu Governo siga em frente: do Congresso, por exemplo, depende a reforma da Previdência, depende a aprovação do projeto anticrime de Moro. E depende o crédito extraordinário para que o Governo aguente os gastos até o fim do ano.

Neste momento, boa parte do Governo está desnorteada. Moro funciona, embora mais fraco. Ministros como o da Infraestrutura e a da Agricultura vão bem. E Paulo Guedes é a esperança de que volte o crescimento na economia, gerando algum emprego. No mais, quem cuida da casa é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (que se articula com Guedes), aliado ao Centrão, dois dos alvos da marcha. Se o Centrão e Maia cruzarem os braços, haverá vácuo de poder, e como o poder abomina o vácuo, a lacuna será logo preenchida por alguém. Bolsonaro, se a manifestação der muito certo? Talvez. Mas Collor tentou e, ao falhar, selou sua queda. Jânio tentou e voltou, mas só como prefeito, quase 30 anos depois (detalhes na minha postagem da última quinta-feira).

Observação: Collor apostou todas as fichas numa manifestação em que todos deveriam vestir verde e amarelo. Quem foi, foi de preto. Itamar era desconhecido, mas a aposta foi nele (e o vice acabou sendo bom presidente). O vice de Jânio era João Goulart, que despertava desconfiança nas Forças Armadas e na classe média. Mesmo assim, Jânio não teve apoio. Já Bolsonaro tem um vice militar, bem visto por seus colegas, e que surpreendeu boa parte da opinião pública por seu bom senso. Os bolsonaristas mais radicais poderiam ouvir companheiros como o presidente do PSL, partido de Bolsonaro, ou Janaína Paschoal, bolsonarista e autora do pedido de impeachment de Dilma. Ambos têm sérias dúvidas sobre o que o presidente pode ganhar com a manifestação.

Jornais, TV, rádio e Internet se referem ao ato como “protesto a favor de Bolsonaro”. Brickmann diz ser do tempo em que protesto só podia ser contra. Relembra a primeira briga de Bolsonaro com seu até então amigo de fé Gustavo Bebianno, que culminou com a demissão do ministro que tinha sido o chefe de sua campanha. Bebianno marcou audiência com o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, e Bolsonaro, furioso por não admitir que inimigos fossem recebidos no palácio, mandou-o suspender a reunião. Pois é: ontem, Bolsonaro recebeu no palácio o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, o mesmo Paulo Tonet Camargo, em companhia do ministro Onyx Lorenzoni e do empresário de comunicações Vicente Jorge Espíndola Rodriguez. Nada como um dia depois do outro (e bons contatos).

Resumo da ópera: Uma parte dos apoiadores de Bolsonaro encara o protesto como um chamado do presidente. O problema é que, qualquer que seja o cenário, os atos embutem risco para o próprio Bolsonaro e para o governo. Mas nada que chegue perto das teorias conspiratórias propaladas nos últimos dias. Na história do Brasil, golpes sempre foram acompanhados de uma conjunção de fatores a sustentá-los. A começar pelo apoio das Forças Armadas, de setores importantes da economia — e de protagonistas do próprio parlamento. O grito das ruas, ou de parte dela, nunca foi suficiente. Ainda que quisesse, o que não parece um dado concreto a ser considerado, não há sinais de que Bolsonaro conte com o mix de fatores pré-golpe que a história não deixa esquecer. Portanto, o risco de ruptura institucional difundido em discursos e análises se mostra um evidente exagero. Assim como parecem exageradas as leituras de que o impeachment é algo que pode estar tão perto quanto a próxima esquina.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

DOMINGO DE MANIFESTAÇÕES NO PAÍS QUE NÃO PODE DAR CERTO



Segundo O ANTAGONISTA — que às vezes exagera um pouco, mas em geral sabe das coisas —, Lula mandou o PT abandonar qualquer plano para derrubar Bolsonaro. A informação, originalmente publicada pela Folha, dá conta de que o molusco, consultado na cadeia, disse aos dirigentes petistas não ver sentido na defesa de um ”Fora, Bolsonaro”, pois seria o mesmo que clamar pela ascensão de Hamilton Mourão. O site menciona ainda que “o recado já chegou ao STF”, mas eu não sei como interpretar esse destaque da notícia. Ninguém duvida de que o criminoso de Garanhuns continua comandando sua organização criminosa de dentro da cadeia, mas daí a... bem, tirem suas próprias conclusões, e se acharem que dá para acreditar num país onde descalabros com esse acontecem, eu os saúdo, caríssimos leitores.

Ao endossar um texto segundo o qual o Brasil é "ingovernável", avalizar um vídeo em que um pastor lunático o qualifica de “enviado por Deus para consertar o país” e empurrar seus seguidores nas redes para uma manifestação anti-Congresso, Bolsonaro dá sinais de que pretende criar, no processo eleitoral brasileiro, um terceiro turno (depois de prevalecer no primeiro como candidato antissistema e despachar o lulopetismo no segundo). Todavia, se analisarmos o comportamento dos nobres deputados em relação à reforma previdenciária e ao pacote anticrime e anticorrupção, fica difícil não dar certa razão ao capitão. Na última quarta-feira, por exemplo, a Câmara, ainda que por exígua maioria, devolveu o Coaf ao ministro Paulo Guedes, temendo que, com o Conselho sob o guarda-chuva de Sérgio Moro, seu acerto de contas com a Justiça fosse antecipado. Olhando a coisa pelo lado positivo, ao menos já não há o risco de ressurreição do organograma de Michel Temer, com 29 ministérios em vez dos atuais 22.

Classificar de idiotas úteis os manifestantes que saíram às ruas para protestar contra o contingenciamento de verbas para a Educação pode ser má escolha de palavras, mas se considerarmos que uma parcela da turba era composta de baderneiros mascarados, armados com barras de ferro e coquetéis molotov, há que reconhecer que Bolsonaro tem alguma razão.

Observação: O conceito de "idiotas úteis", atribuído ao próprio Lenin, referia originalmente aos intelectuais ocidentais simpáticos ao socialismo que, alheios ao fato de que eram descartáveis para o regime de Moscou, disseminavam propaganda, desestabilizavam governos e preparavam o terreno para a revolução comunista — ou qualquer outro objetivo intermediário em prol da utopia marxista. Na Rússia, a expressão era usada em comunicações oficiais e refletia o apreço dos soviéticos por seus agentes e entusiastas. Com o passar do tempo, a definição se ampliou e passou a referenciar pessoas politicamente engajadas, mas que não se percebem como massa de manobra a serviço de um grupo. 

Aos críticos de boa-fé, bastaria conhecimento superficial da reforma previdenciária e do contingenciamento do ensino superior para abdicar de sua participação nas manifestações do último dia 15. A oposição a essas medidas é essencialmente baseada em desinformação e não resiste à matemática — ou à história recente: medidas de austeridade fiscal e cortes muito mais drásticos na Educação foram praticados nos governos lulopetistas, cujos agentes políticos agora se encontram em histérico antagonismo à atual administração. Portanto, não é equívoco nem exagero admitir que a maior parte dos insatisfeitos nas ruas foi, de fato, manipulada.

Existe, entretanto, uma diferença abissal entre constatar uma realidade e cuspi-la na cara do interlocutor. Como reflexo natural, a crítica ofensiva gera uma resposta defensiva e costuma afastar a possibilidade de diálogo. Bolsonaro tem muitas opções além do insulto para lidar com cidadãos que dele divergem politicamente. Até porque o comportamento de manada dos manifestantes de boa-fé denota um posicionamento irrefletido que ainda pode ser modificado — é questão de esclarecimento e persuasão. Falta ao presidente sensibilidade para combater os pastores, em vez de atacar o rebanho incauto.

Não se nega que, ao desqualificar um Legislativo que saiu das mesmas urnas que o consagraram, Bolsonaro realiza uma manobra burra e incoerente, segundo Josias de Souza, para quem o capitão flerta com a burrice ao injetar turbulência numa conjuntura que pede tranquilidade e demonstra incoerência ao emular gente que ele sempre abominou: no plano nacional, o esquerdista João Goulart, que acendeu o estopim do golpe militar de 1964 com suas “reformas de base”, e o pseudo caçador de marajás, populista cuja ilicitocracia lhe garantiu um pé na bunda em 1992; no internacional, Hugo Chávez e seu pupilo Nicolás Maduro, que abrilhantaram seus pendores golpistas com o verniz extraído das manifestações de rua e deu no que deu, ou melhor, no que está dando: ruína e baderna. E um presidente com cheiro de naftalina pré-64, aparência collorida e hábitos venezuelanos é tudo de que não precisamos neste momento.

É difícil prever as proporções que os atos pró-Bolsonaro atingirão, mas o simples ressurgimento daquilo que Juscelino Kubitschek chamava de "o monstro” já pôs a correr parte do centrão e o pedaço do governo pertencente à cota de Olavo de Carvalho. O protesto dos estudantes e professores, mesmo ficando anos-luz aquém das manifestações de 2013, fez o governo liberar R$ 1,587 bilhão para reforçar o orçamento da Educação. Não resolve os problemas do setor, mas atenua a impressão de descaso.

Observação: A arrecadação de impostos e contribuições federais apresentou crescimento real de 1,3% em abril, somando R$ 139 bilhões — o maior valor para o mês desde 2014. Mesmo assim, as escolas públicas não têm verba sequer para comprar giz, nem os hospitais públicos para comprar esparadrapo. Pode dar certo um país onde 50% da população não tem acesso a saneamento básico, quase 50% da água tratada é tragada por vazamentos nas tubulações das redes de abastecimento e o salário mínimo não chega a R$ 1 mil, enquanto a “empresa de palestras” de um ex-presidente corrupto e hoje presidiário faturou R$ 27 milhões em 4 anos? Nem com reza brava!   

Na definição de Juscelino, o monstro é a opinião pública. De raro em raro, a imprensa consegue interpretar seus desejos. Em situações de crise, porém, o monstro dispensa intermediários. Faz o asfalto roncar. O monstro mobilizou-se pelas diretas, derrubou um regime, pôs para correr dois presidentes da República e avalizou o esforço anticorrupção, contribuindo de maneira decisiva para mandar para a cadeia a oligarquia política e empresarial. Agora, revela-se impaciente com a incapacidade do Poder de entregar responsabilidade, estabilidade, probidade e empregos. Por enquanto, a crise está nos gabinetes. Mas o monstro informa que ela pode voltar definitivamente para as ruas. Daí o medo.

Bolsonaro pediu a seus ministros que se distanciem dos atos pró-governo marcados para o próximo domingo, solicitando-lhes, inclusive, que se abstenham de fazer convocações via redes sociais. Horas depois, ele próprio descumpriu sua orientação e voltou a enaltecer a manifestação. Ao tratar novamente do tema na noite de terça-feira, o presidente bateu duas estacas nas redes sociais — uma no cravo, para contentar os "olavetes", e outra na ferradura, para satisfazer os fardados. Primeiro, afagou o pedaço do eleitorado que ainda se dispõe a sair ao asfalto para bater bumbo por ele: "Quanto aos atos do dia 26, vejo como uma manifestação espontânea da população, que, de forma inédita, vem sendo a voz principal para as decisões políticas que o Brasil deve tomar." Depois, fez uma pose institucional: "Acredito na harmonia, na sensibilidade e no patriotismo dos integrantes dos três Poderes da República para o momento que atravessa nossa nação. Juntos, ao lado da população brasileira e de Deus, alcançaremos nossos objetivos!"

A julgar pelo teor de suas postagens nos últimos dias, Bolsonaro estava fora de si, pois revelou-se um presidente respeitoso e de rara compostura. Seu objetivo só foi plenamente alcançado na caixa de comentários, onde seguidores atávicos cuidaram de desferir as caneladas virtuais que a liturgia do cargo o impediu de desferir. Seja como for, à luz do clima beligerante provocado pelo radicalismo dos embates políticos e ideológicos no Brasil contemporâneo, os protestos provocam desde já polêmicas, mesmo que se realizem mais no campo de mitos e fantasias do que no da realidade propriamente dita.

Na avaliação de José Nêumanne, não há por que temer efeitos deletérios, seja do ponto de vista institucional, seja do econômico ou mesmo do equilíbrio das forças políticas em luta. Normalmente, quando se fala em movimentos populares tem-se a impressão de que eles são, pela própria natureza, de protesto, ou seja, contra a autoridade instituída ou com motivo ou assunto específico que desperte a paixão popular. Tolice! Não há protestos a favor, mas não se convocam militantes ou cidadãos apartidários para a rua apenas para protestar. A História é rica em exemplos de massa na rua para apoiar políticos ou políticas, governos ou diretrizes, projetos ou posições. É perfeitamente natural que os chamados “bolsonaristas”, sejam eles correligionários, assessores ou cidadãos comuns, se reúnam para demonstrar seu apoio, sua admiração, sua adesão ou até seu afeto. Nem só de protestos vivem as ruas, mas também do clamor a favor. Por que isso não aconteceria?

Convém, então, esclarecer que eventuais passeatas favoráveis ao governo, qualquer governo, expressam sentimentos e posturas que grupos de cidadãos têm todo o direito de assumir publicamente. Dizia Winston Churchill, talvez o maior estadista mundial no século 20, que “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. A frase contém a experiência de um herói que foi também um grande intelectual, um orador magnífico e um escritor muito talentoso, e descreve exatamente que a grande força dos regimes democráticos reside mais na fraqueza que no vigor. Ela lembra, por exemplo, que o regime convive e se fortalece também pelas palavras e atitudes, por mais desabridas e pesadas que sejam, de seus maiores inimigos. Pode-se lamentar esse paradoxo quando se sabe que Hitler e Mussolini brotaram e se fortaleceram em regimes democráticos e com entusiástico apoio da cidadania atuante. No entanto, mesmo podendo debilitá-lo, essa fragilidade funciona também como uma espécie de vacina para fortalecê-lo.

A prática histórica recente no Brasil é eloquente. É pouco provável que tenha havido neste país aglomerações populares maiores do que as feitas contra o status quo institucional em 2013. Em 2014, Dilma foi reeleita e as forças políticas que a apoiavam ou a ela se opunham mantiveram suas posições nas Casas do Congresso. As ruas clamaram, mas seu clamor não abalou as instituições, para o bem ou para o mal. Pode-se argumentar que o impeachment da calamidade em forma de gente mobilizou as ruas três anos depois, e foram ouvidas pelo Congresso Nacional, que a depôs, como a maioria da cidadania exigia fora de casa e dos escritórios. Mas fica a dúvida sobre até que ponto o povo provocou a deposição da chefa do governo ou comemorou o resultado da inépcia dela tanto ao provocar a ruptura quanto ao não perceber a “astúcia” de seus adversários, como gostava de dizer o personagem humorístico mexicano Chapolin Colorado.

Esse enigma nunca será decifrado, mas a verdade é que há pouco de proveitoso a tirar de uma eventual resposta satisfatória para nosso caso específico do movimento previsto para 26 deste mês. O objetivo das passeatas é fortificar o presidente eleito com 57.796.986 votos contra a investida do chamado Centrão, que passou a controlar a Câmara e, com isso, a atrapalhar seus projetos de reformas, incluída a administrativa. Os atos pró-Bolsonaro serão, no fundo, contra o trio Rodrigo Maia, Paulo Pereira da Silva e Valdemar Costa Neto, condestável sem mandato do semiparlamentarismo praticado. Se um volume espetacular de gente for à rua nos atos, contudo, o mandato do chamado Botafogo do propinoduto da Odebrecht e a influência dos outros dois não serão abalados em um milímetro sequer. Da mesma forma, a constatação de um fiasco em termos de multidão se manifestando não ampliará em um único ponto porcentual a possibilidade concreta de Bolsonaro, nas atuais circunstâncias, ter o mesmo final melancólico da ex-presidanta.

Isso não significa que êxito estrondoso e fiasco tremendo sejam hipóteses vazias. É claro que sucesso nessas manifestações propiciará, no mínimo, imagens positivas a serem usadas pelo presidente da República para provar que seu triunfo eleitoral ainda não se esgotou. Em contrapartida, um malogro tirará dele a melhor arma política que pode usar no longo e doloroso inverno a que será submetido nos próximos anos em seu convívio de conflito e desconfiança com o Centrão. Talvez pensando nisso que a deputada Janaina Paschoal, do alto dos 2 milhões de sufrágios que a fizeram a deputada mais votada da História do Brasil, divulgou sua oposição ao risco de uma aventura malograda. Ela escreveu no Twitter: Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!…”.

O recado é corajoso e prudente, demonstrando duas virtudes raras em políticos brasileiros hoje. Na certa, ela já terá percebido que existe uma bolha de autossatisfação muito grande entre os adeptos de Bolsonaro nas chamadas redes sociais, e teme pelas consequências desastradas de eventual fracasso. Talvez tal bolha superestime a parcela desse eleitorado que acredita em patacoadas petistas do gênero “o povo unido jamais será vencido”. Ou quiçá ela teme que o movimento seja desvirtuado para uma fé absurda em fantasias intervencionistas de cidadãos enfurecidos ocupando as dependências do Congresso e do STF — outra instituição vista como um obstáculo ao trabalho do capitão.

Na verdade, ninguém tem condições de depor Bolsonaro devido a uma frustração das manifestações de domingo. Afinal, ele foi eleito, diplomado e empossado legitimamente, e só será defenestrado se cometer uma série especial de delitos que não são permitidos ao maior mandatário do País. Mas nem o eventual sucesso extraordinário da convocação do povo terá o condão de corrigir o erro espetacular do presidente ao deixar Rodrigo Maia ser alçado à chefia da Mesa da Câmara e Davi Alcolumbre, também do DEM e sob patrocínio do chefe de sua Casa Civil, à presidência do Senado. 

O Brasil terá de conviver sob a égide de Jair Bolsonaro por mais quatro anos, e só lhe caberá tornar esse fardo menos pesado do que promete ser. De seu lado, presidente e seus apoiadores terão de suportar a partilha do poder republicano com os parlamentares de exíguas votações no comando das duas Casas do Poder Legislativo. Resta ao capitão compreender que não poderia ter entregado a articulação do Congresso ao veterinário gaúcho, sob pena de perpetuar suas consequências funestas. O povo na rua não o libertará dos erros primários cometidos em cinco meses e meio de ventos desgovernados agitando de forma desastrada as birutas em seu campo de pouso. Mas pelo menos servirá de exemplo de força de quem realmente manda na democracia. 

Seja qual for o resultado, as manifestações poderão, quem sabe, dar ao presidente, que usa a expressão, mas parece desconhecer seu significado, a noção de que nas democracias o patrão é o cidadão. E ninguém recebe a delegação para decidir por quaisquer idiossincrasias que cidadãos devem ser privados do exercício desse poder e a quais se reserva o privilégio de seu exercício.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

ENTRE JÂNIOS E BOLSONAROS



Depois que Jair Bolsonaro desistiu de participar das manifestações que articulou com a mão do gato, o assunto meio que esfriou. O acordo entre o Planalto e a Câmara para a aprovação da medida provisória que reduziu o número de ministérios também botou água na fervura, a despeito de Rodrigo Maia e o líder do governo na Câmara terem ficado de mal. É curioso que fatos dessa natureza — que em outras circunstâncias não mereceriam sequer meia dúzia de linhas no jornal — assumam tamanhas proporções, derrubem o Ibovespa e façam a cotação do dólar disparar. Mas é o retrato do país em que vivemos; não há o que fazer senão esperar que seja uma fase passageira e que tudo volte ao normal em breve.

O folhetim Flávio Bolsonaro/Fabrício Queiroz também ganhou novas nuances em seus novos capítulos, notadamente após a autorização da quebra do sigilo bancário dos envolvidos. O filho do pai, que nega ter culpa nesse cartório, mostra-se inconformado com a investigação — o que é causa espécie, considerando que ela é fundamental para afastar quaisquer suspeitas de ilicitudes, como a prática da rachadinha em seu gabinete na Alerj e sua evolução patrimonial incompatível com seus proventos de parlamentar e sócio de uma lojinha de chocolates. Supondo que as investigações apontem Queiroz como o único responsável pelos malfeitos, tornar-se-á verossímil a alegação de que o erro de Flávio foi ter confiado demais no ex-auxiliar. Se nada existe que o desabone, ele deveria incentivar a devassa nas suas movimentações financeiras — quanto mais ampla, rigorosa e transparente ela for, mais convincentes serão seus resultados.

Segundo Ricardo Noblat, zero um anda uma pilha de nervos — o que é compreensível: para qualquer cidadão, mesmo que inocente, ser investigado é uma aporrinhação. Mas confrontar a Justiça certamente não é a melhor estratégia. Aliás, esse foi o maior erro cometido por Lula desde que seus rolos foram denunciados, e parece que o filho do capitão parece decidido a seguir o mesmo caminho trilhado pelo petralha.

Condenado em duas das oito ou nove ações criminais em que figura como réu — numa delas por oito juízes de três instâncias do Judiciário —, o sacripanta de Garanhuns segue preso em Curitiba, de onde comanda uma agremiação criminosa que chama de partido e, de uns tempos a esta parte, concede entrevistas a torto e a direito. Nem o próprio PT aguenta mais tanta parlapatice. Gente que cuida da comunicação no partido acha que é hora de Lula silenciar, sobretudo no que tange ao Judiciário e ao governo Bolsonaro.

Observação: Michel Temer também protestou inocência quando Lauro Jardim trouxe a lume sua conversa de alcova com o moedor de carne bilionário dono da JBS, disse que “o inquérito no STF seria o território onde surgiriam todas as explicações”, e que seria feita “uma investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro”. Ato contínuo, fez o diabo para barrar as investigações e penhorou até as cuecas (as nossas cuecas) para comprar votos das marafonas do Congresso. Isso impediu que ele fosse afastado, mas não de, cinco meses depois de transferir da faixa para o presidente do turno, tornar-se réu em seis processos e ser preso preventivamente em duas oportunidades (até agora). A diferença é que Lula tem um partido que o defende e algum apoio popular (menos do que imaginou, mas tem), ao passo que Michel Temer não tem ninguém que levante a voz para defendê-lo, a não ser seus (bem pagos) advogados.

Voltando a Flávio Bolsonaro, antes da quebra do seu sigilo, ele tentou por duas vezes barrar a investigação do Ministério Público alegando que ter privilegiado porque se elegeu senador. Não funcionou. Agora, tenta se esconder à sombra do pai ao afirmar que o verdadeiro alvo da Justiça não é ele, mas sim o presidente. É uma jogada primária que, além de falta de imaginação, denota fraqueza, embute um pedido de socorro à instância invocada e acarreta descrédito. Embora tenha afirmado ao filho que não o protegerá, o presidente costuma dizer que filho é filho, coisa de sangue, e que jamais conseguirão separá-los deles. Com tal comportamento, ele se arrisca a afundar seu governo — como se não bastasse tudo o mais que ele vem fazendo nesse sentido, a pretexto de testar seus limites, como no incitamento às manifestações convocadas por seus apoiadores, que, mesmo sob o manto da democracia e da liberdade de expressão, é mais condizente com ditadores que precisam mostrar força popular — como Nicolas Maduro na Venezuela. Mas parece ser da natureza do presidente esticar a corda e soltá-la quando sente que ela vai arrebentar, como comprovam suas constantes “idas e vindas” em relação a medidas polêmicas, rejeitadas pela opinião pública ou por líderes políticos (veja-se o recuo no decreto de liberação do porte de armas).

Nas visão de Merval Pereira, um presidente democraticamente eleito há cerca de cinco meses não precisa insuflar manifestações de apoio popular, a não ser que se sinta desconfortável com as limitações que as instituições democráticas lhe impõem. Daí a mobilização da militância ser contra o Congresso, o Judiciário e a Imprensa — justamente as instituições que têm como finalidade precípua impedir que o Executivo exorbite de seus poderes, sobretudo num regime presidencialista que dá preponderância quase imperial ao presidente da República.

Como macaco velho não mete a mão em cumbuca, Bolsonaro, apesar de avalizar publicamente os protestos, desistiu de participar pessoalmente e orientou seus ministros a fazerem o mesmo, retirando o comprometedor “ar oficialesco” da convocação. Desde o início, aliás, ele deveria ter se apartado de movimentos que querem emparedar os demais poderes do Estado. É certo que sua eleição deveu-se em grande medida a um nicho que se prepara para sair às ruas em sua suposta defesa, como se ele estivesse sendo submetido a “forças terríveis” — quiçá as mesmas que levaram à renúncia de Jânio, que a exemplo do capitão era um líder populista e não se enquadrava nas limitações que a democracia de então lhe impunha. Vamos aos detalhes.

Jânio da Silva Quadros teve uma carreira meteórica: em sete anos passou de obscuro advogado e professor de Português a prefeito de São Paulo (1953), a governador (1954) e a presidente (1960) — eleito com 48% dos votos (na época não havia segundo turno). Renunciou sete meses depois, alegando motivos que até hoje dão margem a toda sorte de teorias conspiratórias. Parece ser consenso entre os historiadores que sua ideia voltar ao poder por aclamação popular, só que a estratégia não funcionou, mas jogou o país numa crise política que só seria debelada com a adoção do parlamentarismo e, de quebra, abriu a janela de oportunidade para o golpe de estado e a subsequente instalação de uma ditadura militar que durou mais de duas décadas (a despeito de os que gostam de reescrever a história afirmarem que ela nunca existiu). 

Bolsonaro, por seu turno, tenta usar o povo para não ter que sair, mas falemos mais pouco sobre seu paradigma de outrora, que foi o primeiro político a transformar o combate à corrupção em plataforma eleitoral. Usando como símbolo era a vassoura — para dar a ideia de que varreria a corrupção — e dono de um gestual histriônico e um português recheado de formas oblíquas, o político mato-grossense transformava cada comício em show. Ao longo de sua trajetória política, abriu vários inquéritos para apurar supostas irregularidades das gestões anteriores, enquanto insistia na tese de que para ele a política era um enorme sacrifício pessoal. Pura encenação.

Eleito deputado federal pelo Paraná em 1958, Jânio não compareceu a nenhuma sessão do Congresso, deixando claro seu notório desdém pelo Legislativo. Dois anos depois, representando o mesmo papel de candidato solitário que recebia apoio de partidos, e não como representante de partido, derrotou Teixeira Lott e nacionalizou seu discurso, passando de fenômeno paulista a fenômeno nacional. Em seus sete meses na Presidência, reforçou suas características mais conservadoras. Não teve problemas com o Congresso — aprovou tudo o que considerava importante —, mas fez um governo bipolar, adotando um programa econômico conservador e desvalorizou a moeda (fazendo a inflação subir), ao mesmo tempo em que implantava a política externa independente, rompendo com o alinhamento automático com os EUA em plena Guerra Fria, quando a questão cubana estava no auge. Paralelamente, buscava estabelecer uma relação direta com os governos estaduais e se imiscuía em questões irrelevantes, como os biquínis e as brigas de galo que chegou a proibir.

Mas o que parecia novo estava eivado do velho golpismo latino-americano, do desejo pelo poder absoluto. Jânio abandonou a presidência — alegando “forças terríveis” — num autogolpe que surpreendeu até mesmo os ministros militares, que não foram consultados, apesar de suas simpatias pelo autoritarismo janista. Ele esperava que sua renúncia não fosse aceita, e que um clamor popular exigisse seu retorno à presidência com amplos poderes políticos — ou seja, sem o Congresso para incomodá-lo. Puro delírio. Jânio deixou a base aérea de Cumbica solitário e rumou — a bordo de um DKW — para o litoral, de onde partiu dias depois para a Inglaterra, deixando no seu rastro uma grave crise política, que só seria resolvida com a posse de Jango, em setembro de 1961, sob regime parlamentarista.

Como o lobo perde o pelo mas não larga o vício, Jânio se candidatou no ano seguinte ao governo de São Paulo, mas foi derrotado por Adhemar de Barros. Teve os direitos políticos cassados pela ditadura militar, mas recuperou-os em 1974. Em 1978, manifestou a intenção de concorrer à sucessão de Paulo Maluf (um gatuno de marca maior, que hoje cumpre pena em prisão domiciliar) ao governo do estado de São Paulo. Filiou-se ao PTB, mas deixou o partido sete meses depois para ingressar no PMDB. Como sua filiação foi recusada pela executiva nacional da sigla, voltou ao PTB, lançou-se candidato a governador de São Paulo em 1982, mas perdeu para Franco Montoro. Com o fim da ditadura, declarou apoio a Tancredo Neves e venceu Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Suplicy na disputa pela prefeitura de São Paulo, contrariando os prognósticos dos institutos de pesquisa. FHC, na condição de primeiro colocado nas sondagens eleitorais, chegou a tirar uma foto sentado na cadeira de prefeito de São Paulo (que foi publicada pela Revista Veja). Na cerimônia de posse, Jânio fez questão de ser fotografado com um tubo de inseticida nas mãos para, segundo ele, desinfetar a poltrona porque nádegas indevidas a usaram".

Em sua derradeira empreitada político-administrativa, o homem da vassoura repetiu seus lances populistas habituais: pendurou uma chuteira em seu gabinete (para ilustrar o suposto desinteresse em prosseguir na política), proibiu o uso de sunga e de biquini fio-dental no Parque do Ibirapuera (onde ficava a sede da prefeitura), obrigou a direção da Escola de Balé do Teatro Municipal a expulsar alguns alunos tidos como homossexuais, mandou publicar no Diário Oficial do Município os “bilhetinhos” que enviava a seus assessores, aplicou multas de trânsito pessoalmente, posou para a imprensa com a camisa do Corinthians e fechou os oito cinemas que iriam exibir o filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese, por considerar a obra desrespeitosa à fé cristã.  

Jânio adotou posturas autoritárias em diversas situações. Seu governo foi marcado por insatisfações de vários setores do funcionalismo público, materializadas através de greves e protestos nas proximidades de seu gabinete, aos quais quase sempre respondia com demissões em massa. Também se mostrou inflexível diante de manifestações de movimentos sociais (como o MST). Criou a Guarda Civil Metropolitana para, segundo ele, reforçar o policiamento na cidade, mas seus adversários o acusavam de utilizá-la como mais um de seus instrumentos de repressão. Afastou-se diversas vezes do cargo para cuidar tanto de sua saúde quanto da de sua mulher, Eloá Quadros (falecida em 1990). Ao fim da gestão, quando já se encontrava desgastado perante a opinião pública (apenas 30% dos paulistanos aprovaram sua administração), foi acusado pelo então vereador Walter Feldmann de manter uma conta bancária na Suíça. Nas eleições de 1988, apoiou João Leiva, embora Mellão Neto e Mastrobuono, integrantes de seu secretariado, disputassem a sucessão. Deixou o cargo dez dias antes do final do mandato para passar o réveillon em Londres (cidade pela qual ele era apaixonado), depois de incumbir seu Secretário dos Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo, de transferir o bastão para a petista Luíza Erundina — talvez a maior calamidade travestida de alcaide paulistano que esta cidade já viu.

Com a saúde debilitada — em parte devido à manguaça, de que era fã incondicional —, Jânio declinou do convite do PSD para disputar a presidência da República em 1989 e apoiou o caçador de marajás — um populista como ele, como viríamos a descobrir mais adiante. Naquele mesmo ano, anunciou sua aposentadoria definitiva da política. No ano seguinte, a morte da esposa contribuiu para agravar ainda mais seu estado de saúde, levando-o a passar os últimos meses de vida entre casas de repouso e quartos de hospitais. Acabou falecendo no Hospital Israelita Albert Einstein, em 16 de fevereiro de 1992, em estado vegetativo decorrente de três derrames cerebrais.

terça-feira, 21 de maio de 2019

IMPEACHMENT, RENÚNCIA E PROGNÓSTICOS



Certa vez, acertei uma milhar seca no jogo do bicho. Afora isso, nunca fui bom de palpite. Mas adivinhar é uma coisa, inferir com base na observação é outra. E foi a partir da observação que “cantei a bola” do impeachment de Dilma antes mesmo de Eduardo Cunha autorizar a abertura do processo.

Mais adiante, previ que o dublê de anta e egun despachado não se elegeria senadora, e que Bolsonaro derrotaria a patética marionete do ventríloquo presidiário, a despeito das previsões do Ibope, Datafolha e distinta companhia. Posso ter errado ao apostar na renúncia de Temer quando Lauro Jardim publicou em O Globo detalhes espúrios da conversa de alcova entre o emedebista e o moedor de carne bilionário, mas soube-se mais adiante que o vampiro do Jaburu só não pediu o boné porque foi dissuadido por sua tropa de choque — comandada pelo então pitbull palaciano Carlos Marun, que é sempre o primeiro (e talvez o único) a visitar o ex-chefe quando este é preso preventivamente.

Apostar que a rachadinha corria solta no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj seria o mesmo que, na Belém do Pará dos anos 1980, prever chuva para o final da tarde. Hoje, até o tempo deixou de ser sério no Brasil, mas, no caso do ex-deputado e ora senador, que se arrasta desde o ano passado, só um completo imbecil acreditaria nas desculpas esfarrapadas dos envolvidos.

No último sábado, a Folha publicou uma matéria de capa sobre o compartilhamento que Jair Bolsonaro fizera na véspera, pelo Twitter, de um texto apócrifo (escrito pelo analista da Comissão de Valores Mobiliários Paulo Portinho) que fala de pressões dos poderes e dificuldades de governar. O Congresso interpretou o tuíte como mais um ataque do capitão ao que ele classifica de velha política, mas era impossível não vislumbrar uma possibilidade de renúncia no ar, sobretudo se o país continuar “disfuncional” e o capitão teimar em continuar jogando para a torcida de bolsomínions, olavetes e outros desajustados — que, a exemplo do presidente e dos seus filhos, se deixam levar pelas teorias conspiratórias do “Homem de Virgínia” (falo do astrólogo-ideólogo que mora em Richmond, mas faço um trocadilho com um seriado televisivo da década de 1960, do qual certamente a maioria dos gatos pingados que leem minhas postagens jamais ouviu falar).

A Folha fala numa espécie de "cenário Jânio Quadros" (mais detalhes na próxima postagem), o que não me parece algo fora de propósito. Até porque, diz a matéria, circulou no Alto Comando do Exército um relato em que Bolsonaro teria dito que poderia renunciar se as dificuldades continuassem. Assessores palacianos negaram essa versão e afirmaram que presidente apenas expressou o que sempre disse durante a campanha. Já O Globo disse que, diante das dificuldades conhecidas no relacionamento entre o governo e o Congresso, os parlamentares decidiram liderar o processo de reformas necessárias para o país e vão deixar as propostas do Palácio do Planalto em segundo plano. E com efeito: numa reunião de líderes do Centrão ficou acertado que o Congresso assumirá a formatação da reforma da Previdência. O Estado também comentou a reunião e a decisão dos deputados, destacando as declarações de Ramos, para quem apresentar um novo texto é a única forma de aprovar a reforma neste momento. Todos esses jornais lembraram que as tensões da última sexta-feira elevaram a cotação do dólar a vertiginosos R$ 4,10 e fizeram o Ibovespa fechar abaixo dos 90 mil pontos.

O comportamento recente de Bolsonaro tem explicações múltiplas de assessores. Interlocutores afirmam que parlamentares pedem cargos no governo como condição para votarem a favor das reformas, mas fala-se à boca pequena que o chefe do Executivo está acuado pelo avanço das investigações sobre o zero um, que culpa o Congresso pelos atrasos na tramitação do projetos do governo e que, por isso, decidiu mobilizar seus apoiadores contra deputados.

Ricardo Noblat relembra que Fernando Collor, acuado por denúncias de corrupção, convocou seus apoiadores a ocupar as ruas com camisas verde amarelas no dia 7 de setembro de 1992, dois anos e meio depois de ter sido empossado. Poucos o fizeram, talvez por vergonha, talvez porque tivessem algo melhor a fazer durante o feriado. Em compensação, multidões foram às ruas naquele mesmo dia vestidas com camisetas pretas. Collor cairia três meses depois.

Neste momento, a situação de Bolsonaro ainda está longe de poder ser comparada com a de Collor. Mas isso não o impediu de estimular seus devotos a convocarem manifestações a seu favor para o próximo domingo (26). E se as manifestações não reunirem tanta gente? E se elas forem menores do que as que aconteceram na semana passada contra o corte de verbas para a Educação, que atraíram mais de dois milhões de pessoas em cerca de 200 municípios tupiniquins? E se multidões forem às ruas na mesma data vestidas com camisas pretas? Novas manifestação de opositores do governo estão agendadas para o próximo dia 30. Por que o governo deveria a essa altura submeter-se ao teste das ruas? As pesquisas desaconselham. Se o teste lhe desfavorecer, não diga Bolsonaro mais tarde que nada teve a ver com isso. Ou que não foi avisado.

domingo, 24 de dezembro de 2017

O BRASIL PRECISA VOLTAR ÀS RUAS


Tem jeito não. A sociedade civil precisa sair dessa apatia e voltar às ruas para protestar contra as sabotagens à Lava-Jato, contra a escandalosa roubalheira que continua acontecendo (com a conivência das “comissões de ética” dos partidos, da Câmara e do Senado), contra o foro privilegiado e outras barbaridades que dificultam a punição dos maus políticos ― como a presença de Gilmar Mendes no TSE e no STF.

Talvez fosse melhor deixar essas lúgubres elucubrações para a semana que vem; aliás, eu nem pretendia postar o Blog hoje e amanhã, mas resolvi fazê-lo depois de ler n’ O Antagonista e no Blog do Políbio Braga que a Ministra Cármen Lúcia, ao negar o pedido de habeas corpus impetrado pela defesa de Maluf, insinuou que agiria diferente se o preso fosse Lula.

Embora não tenha dado nome aos bois ― a ministra disse apenas que, se aparecer um pedido de HC em janeiro, durante o recesso da Corte, ela o despachará na hora ― a coisa tem cheiro de gratidão, pois foi o Picareta dos Picaretas quem a indicou para o STF em 2006, quando ela era procuradora do estado de MG (no governo de Aécio Neves)

Observação: Cármen foi a segunda mulher a ser nomeada ministra na nossa mais alta Corte; a primeira foi a Ellen Gracie.

Já não bastava Gilmar Mendes, o laxante, aproveitar seu plantão no TSE durante o recesso do Judiciário para soltar merdas como Adriana Anselmo, ex-primeira dama do Estado do Rio; Anthony Garotinho, ex-governador fluminense; Antonio Carlos Rodrigues, presidente do PP; Miguel Schin e Gustavo Estellita, empresários envolvidos no esquema criminoso de Sérgio Cabral; além de algemar a Justiça Federal, o MPF e a PF, proibindo o uso da condução coercitiva?

Está claro que o Libertador de Gatunos e seus parceiros no Supremo comandam uma ofensiva cada vez mais selvagem contra a Operação Lava-Jato. Só a mobilização dos brasileiros decentes, fartos da corrupção impune e agora abençoada pelo grupo liderado por Gilmar, poderá deter a tropa togada.

As bofetadas na cara dos brasileiros de bem já passaram da conta. Ou o povo mostra nas ruas que apoia a Lava-Jato, ou os bandidos seguirão controlando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

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sexta-feira, 21 de julho de 2017

VOCÊ CONHECE SEU PC? Parte XII

 “MEU SILÊNCIO NÃO ESTÁ À VENDA”, DISSE CUNHA. ORA, SE NÃO ESTÁ À VENDA, MUITO PROVAVELMENTE É PORQUE JÁ FOI COMPRADO.

O subsistema de vídeo, formado pelo monitor e pela placa gráfica, representa o principal meio de comunicação do PC com o usuário. De uma década para cá, os anacrônicos, volumosos e desajeitados monitores "de tubo" (CRT) deram lugar às telas de cristal líquido (LCD), que são mais finas e elegantes, gastam menos energia, geram menos calor, acumulam menos poeira e não estão sujeitas ao famigerado efeito flicker (cintilação).

Observação: Houve quem apostasse nas telas de plasma como substitutas do velho tubo, mas por diversas razões (dentre as quais vale citar o custo de produção elevado e, consequentemente, o preço final nas alturas), essa tecnologia acabou sendo aproveitada na construção de monitores de TV de telas imensas.

As caixas acústicas foram incorporadas aos PCs quando os drives de CD se popularizaram. Até o final dos anos 90, era preciso comprar esse componente em separado, o que não fazia muito sentido, pois os aparelhos nem sequer dispunham de uma placa de som ― contavam apenas com um pequeno alto-falante, no interior do gabinete, que era mais do que suficiente para reproduzir os "bips" produzidos pelo BIOS durante o boot e os sons rudimentares de alguns games. Todavia, quem gosta de ouvir música no PC (ou assistir a clipes de vídeo e filmes em streaming) não ficará satisfeito com o som reproduzido pelas caixinhas chinfrim que acompanham os desktops ― ou os falantes embutidos nos notebooks. Nesse caso, vale a pena adquirir um conjunto de melhor qualidade, amplificado e com sub-woofer integrado, ou, alternativamente, recorrer a bons fones de ouvido.

O modem analógico também não acompanhava os PCs de primeiras safras, mas passou a ser integrado quando o acesso à Internet via rede dial-up (conexão discada, lembrar?) começou a se tornar popular entre usuários domésticos. Anos mais tarde, a disseminação da banda larga levou os fabricantes a não mais fornecer o dispositivo (e o mesmo aconteceu com o floppy drive e o drive de mídia óptica, primeiro nos notebooks, depois nos modelos all-in-one). Já a placa de rede (LAN), utilizada na conexão em banda larga cabeada, também vem sumindo das prateleiras, notadamente depois que os smartphones e, mais adiante, os tablets popularizaram o uso dos ― hoje onipresentes ― roteadores wireless.

Por último, mas não menos importante, o teclado e o mouse, que são os principais dispositivos de entrada de dados. Existem modelos para todos os gostos e bolsos, mas um conjunto básico wireless (sem fio) das marcas Microsoft ou Logitech, por exemplo, oferece funcionalidade bastante aceitáveis e são comercializados a preços acessíveis. Quanto à conexão com o PC, a interface utilizada atualmente é a USB, que apresenta vantagens indiscutíveis em relação aos obsoletos conectores DIN/Mini-DIN, que desapareceram das prateleiras.

Observação: Não é boa política pagar caro por teclados ou mouses repletos de funções que você dificilmente irá utilizar e uma profusão de botões cuja finalidade você dificilmente se dará ao trabalho de programar

Se você usa um notebook como substituto do desktop, saiba que pode “substituir” o touchpad (aquele "tapetinho" que faz o papel do mouse) e o próprio teclado do aparelho por modelos convencionais, com interfaces USB. Na maioria dos casos, basta plugar os periféricos e reiniciar o computador para que o Windows os reconheça automaticamente.

Já os joysticks são úteis para gamers de carteirinha, já que alguns jogos são tão complexos que é quase impossível executá-los via teclado/mouse. Alguns modelos são até melhores do que os consoles dedicados, mas só vale investir nisso se você realmente é fã de games; do contrário, esses dispositivos são tão inúteis quanto pente em bolso de careca.

Isso encerra esta sequência, pessoal. Abraços e até o próximo post.

IMPRESTÁVEIS DO PRIMEIRO AO QUINTO!

PT, sindicatos e movimentos sociais ligados à quadrilha ficaram de realizar atos em defesa de Lula e pelo “Fora Temer”, pelas “diretas já” e outras bobagens que tais. Aqui em Sampa, a corja de desocupados e os vândalos que tradicionalmente vêm no pacote prometeram se reunir defronte o vão livre do MASP, como já se acostumaram a fazer. Parece que a festinha de embalo, marcada para o final da tarde desta quinta-feira, vai contar com a presença da bandida/chefa da quadrilha e ré na Lava-Jato Gleisi Hoffmann, do comandante máximo da ORCRIM e de uma certa anta vermelha com cérebro de ameba. Para quem gosta de merda, é um prato cheio.

Observação: Estou escrevendo este texto no meio da tarde da quinta-feira, de modo que a avaliação dos movimentos ficará para a manhã de sexta.

Além da capital e do estado de São Paulo, Rio, Bahia, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Brasília também devem ser brindados com atos similares. E no próximo dia 27 será a vez do Vem Pra Rua, com sua “Marcha Contra a Impunidade e Pela Renovação”, que pede a saída de Temer, a prisão de Lula, e o andamento célere das condenações e a prisão dos facínoras que tomaram de assalto o país.

Está mais que na hora de acabar com essa palhaçada, jogar uma pá de cal nesse revanchismo idiota e formar uma frente coesa contra a impunidade, em prol de uma reforma cabal na política, com a imediata deposição de TODOS os parlamentares enrolados na Justiça e substituição do purgativo Michel Miguel Elias Temer Lulia pelo próximo na linha sucessória QUE NÃO SEJA RÉU NEM ALVO DE INVESTIGAÇÃO NA LAVA-JATO.

Esse enredo falacioso de “ruim com Temer, pior sem ele” é tão convincente quanto a inocência de Lula. Pior sem Temer? Só se for para ele e seus confluentes, como já se viu no plano internacional ― onde o presidente já não encontra abrigo ―, na economia ― onde o mercado já “precificou” a troca de comando ―, e na política ― onde é a presença de Temer, e não seu possível afastamento, o maior fator de instabilidade. Essa história de que a deposição (mais uma) do chefe do Executivo agravaria a crise só reverbera entre a reduzidíssima confraria de apaniguados que apoia Michel Temer por interesses pessoais. Fora do círculo de ministros e assessores do presidente, contam-se nos dedos (da mão esquerda de Lula) os poucos gatos-pingados que defendem sua permanência no cargo ― e apesar do esforço que o Planalto tem feito para demonstrar o contrário, Rodrigo Maia não é um deles, como ficou claro, na última terça-feira.

É certo que tudo isso não passa de um jogo de interesses, no qual as peças mudam no tabuleiro como as imagens num caleidoscópio. Temer, ministros e dirigentes do DEM minimizaram os fatos e agora dizem que a questão está superada. Pode até estar, mas não se sabe até quando.

Claro que não é hora para construir muros, mas sim pontes na relação com aliados. Todavia, como cada deputado irá votar no próximo dia 2 ― caso se consiga quórum de 342 parlamentares, sem o que a votação não pode ser iniciada ― vai depender do que acontecer até lá. Faltam 11 dias, mas no contexto político atual, onde tudo muda o tempo todo... Enfim, vamos acompanhar e ver o que vai dar.

E já que estamos falando em imprestáveis, Lula parece alimentar esperanças de reverter a condenação imposta por Moro no TRF4. A cantilena é a de sempre, ou seja, ele é uma vítima inocente, um perseguido político, e blá, blá, blá. Segundo a Folha de S. Paulo, dois dos desembargadores da 8ª Turma, que vai julgar o recurso de Lula, aplicaram, na última quarta-feira, aquela que pode ser a maior pena da Lava Jato. Eles condenaram Sérgio Mendes, da Mendes Jr, a 47 anos e 3 meses de prisão ― a sentença do juiz Sergio Moro tinha sido bem mais camarada: 19 anos e 4 meses. Lula lá!

Para encerrar, a versão condensada de um texto de Ricardo Noblat:

Nada mais natural e ao mesmo tempo moralmente indefensável do que distribuir cargos e verbas em troca de votos de parlamentares. É o que Michel Temer vem fazendo desde o primeiro dia como presidente (interino), o que fizeram todos os governos que o antecederam e o que farão os que o sucederem, infelizmente. Até porque um presidente que se cercasse de adversários e desprezasse os aliados não resistiria no cargo durante muito tempo. Mas aqui os cargos e verbas públicas são usadas para que parlamentares abiquem de suas convicções e traiam seus eleitores. 

Os presidentes não loteiam os cargos com o propósito de que eles sejam usados para roubar, mas sabem isso ocorrerá, discreta ou explicitamente, e é por isso que o sistema político brasileiro apodreceu. Raros são os candidatos que bancam do próprio bolso a sua campanha. A maioria paga as contas e forram seus bolsos com o dinheiro do fundo do partidário e com o que arrecadam através de apaniguados bem colocados no serviço público.

É à base do toma-lá-me-dá-cá que são produzidas as mais tenebrosas transações e, ao final, quem paga a conta são os contribuintes. É por isso que governos impopulares como o atual conseguem sobreviver às mais precárias situações. Podem ser fracos da porta da rua para fora, mas são fortes da porta do Congresso para dentro.

E como hoje é sexta-feira:


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