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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

É MUITO PRA CABEÇA

A dicotomia na política não foi criada por Lula ou pelo PT, mas é inegável que se tenha acentuado significativamente por obra e graça do demiurgo nordestino e de seu espúrio partido. Nesse contexto de nós contra eles, já não há adversários, só inimigos, e as redes sociais fervilham com factoides, comentários e interpretações que beiram o absurdo. Mas quanto mais “eles” festejam as desventuras de “nós”― e vice-versa ―, mais são desmentidos pelo avanço das investigações e contrariados pela situação que se inverte a cada instante.

Por mais constrangedora que seja a presença de Michel Temer no Planalto, defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma é tão despropositado quanto apostar na vitória de Lula no pleito do ano que vem. Réu em 6 ações penais, condenado numa delas a 9 anos e 6 meses de prisão, alvo de 3 denúncias e investigado em outros tantos inquéritos, até mesmo o próprio petralha sabe que não tem chance, notadamente depois do depoimento avassalador de Palocci.

Há quem diga que Lula deveria disputar as próximas eleições, pois sua derrota acachapante exorcizaria o mito de pai do povo, salvador da pátria e outras bobagens que assombram os menos esclarecidos como uma renca de eguns mal despachados. A questão é que isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações contra ele, e mesmo nesta Banânia a Lei determina que bandido deve ser julgado pela Justiça, não pelas urnas.

Não se deve menosprezar a capacidade de Lula de conquistar mentes menos informadas, mas é inegável que seu carisma minguou ― como se viu na recente caravana pelo Nordeste ― região em que a pobreza é mais acentuada e o eleitorado, mais facilmente manipulado. Para o cientista político Cláudio Couto, o ex-presidente voltou a ser o que era antes de 2002: “um candidato de piso alto e teto baixo” ― o piso alto lhe dá um lugar no segundo turno; o teto baixo lhe retira chances de vitória.

Tampouco se pode comparar o Brasil dos nossos dias com o de 2002. Naquela época, Lula contou com marqueteiros de primeiro time para criar a imagem do “Lulinha Paz e Amor”; hoje, ele faz mais o gênero jararaca ― e tanto Duda Mendonça quanto João Santana estão temporariamente impossibilitados de auxiliá-lo. Em 2002, José Alencar ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias radicais e inconsequentes da patuleia petista, e a Carta ao Povo Brasileiro ― idealizada, vejam só, por Antonio Palocci ― sugeria que o “candidato do povo” manteria compromissos internacionais, contratos e metas de superávit primário ― o que foi fundamental para conquistar o apoio de parte do empresariado e obter financiamento de campanha. Naquela época, uma parte considerável da classe média (inclusive das regiões Sudeste e Sul) decidiu dar um voto de confiança ao petista; hoje, sua rejeição é enorme.

Em 2005, quando o Mensalão veio a público, Lula abandonou os feridos no campo de batalha e tratou de salvar o próprio rabo. Por incrível que pareça, acabou convencendo a militância de que a bandalheira fora necessária, que o PT não era corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e implementar seus programas sociais, e blá, blá, blá. Uma falácia que dificilmente colaria nestes tempos de Lava-Jato, com o deus pai da petelândia colecionando processos e, na falta de opção melhor, batendo sempre na tecla da perseguição política das “zelites”, da Globo, do MPF, do Judiciário e do diabo que o carregue.

Mas não são apenas os militantes petistas, áulicos incorrigíveis, que se deixam enganar pelo besteirol pulula na mídia e nas redes sociais. Todavia, para não encompridar este texto além do concebível, vamos continuar a conversa na próxima postagem. Até lá.