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sábado, 29 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 12ª PARTE

O SOL QUE DESPONTA TEM QUE ANOITECER.

A possibilidade de o tempo não ser uma linha reta é uma das questões mais debatidas e desafiadoras da física teórica e da filosofia. Várias teorias exploram essa ideia, algumas baseadas na relatividade de Einstein e outras na existência de dimensões extras e universos paralelos.
 
Einstein demonstrou como a gravidade pode "curvar" o espaço-tempo, afetando a passagem em regiões sujeitas à uma intensa atração gravitacional — como o horizonte de eventos de um buraco negro, onde o tempo se desacelera em relação a áreas mais afastadas. Isso, por si só, não atesta a reversibilidade do tempo, mas confirma que ele não é absoluto e pode ser influenciado por massas e energias extremas.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Nesta quarta-feira, Bolsonaro e outros 7 denunciados por tentativa de golpe de Estado foram convertidos em réus pela 1ª Turma do STF, a despeito dos esforços de seus advogados, todos criminalistas experientes, conhecidos por atuar em casos como o do mensalão e da Lava-Jato.
Demóstenes Torres, que defende o ex-comandante da Marinha, é procurador aposentado do Ministério Público de Goiás. Ele teve o mandato de senador cassado em 2012, suspeito de ter recebido R$ 3,1 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira.  
Celso Sanchez Vilardi, que coordena a equipe jurídica de Bolsonaro desde janeiro, atuou nas defesas de empresários investigados em operações como Lava-Jato e Castelo de Areia e defendeu o empresário Eike Batista e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
José Luis Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, defendeu o petista José Dirceu no caso do mensalão. 
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres, foi secretário da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha e secretário-executivo do Ministério da Agricultura na gestão Michel Temer. 
Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que defende Alexandre Ramagem, foi advogado do PRD, atuou na Assessoria Jurídica Eleitoral do MPF e nas campanhas eleitorais do PT.
Andrew Fernandes Farias, que defende o general Paulo Sérgio Nogueira, é especialista em ações envolvendo a Justiça Militar e presidiu Comissão de Direito Militar da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.
Sem comentários.
 
A Teoria das Cordas (sobre a qual já falamos em outras oportunidades) propõe que, além das três dimensões espaciais e uma temporal que percebemos, existem dimensões extras onde o tempo pode ser manipulado de maneiras que ainda não compreendemos. Isso levanta a possibilidade de curvaturas ou acessos não-lineares ao tempo em certos pontos do universo.
 
A Teoria do Big Bounce sugere que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, tornando o tempo uma sucessão de "recomeços" após cada colapso cósmico, em vez de uma linha contínua. Dessa forma, a história cósmica seria cíclica, e o tempo, uma sequência de eventos recorrentes em escalas cosmológicas.
 
Um dos desafios para a viagem no tempo é a manipulação da entropia (sobre a qual também já falamos), que tende a aumentar, estabelecendo a "seta do tempo" do passado (baixa entropia) para o futuro (alta entropia). Para reverter esse fluxo, seria necessário encontrar uma forma de reduzir localmente a entropia, um conceito fundamental na criação de buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente conectam diferentes épocas ou regiões do espaço-tempo, mas exigem condições extremas, como a existência de matéria exótica.
 
Diversos cientistas têm contestado a noção há muito aceita pela ciência de que a seta do tempo seja uma parte elementar da natureza. Entre teorias e experimentos, há propostas para todos os gostos, da confirmação da seta do tempo até a demonstração de que o futuro afeta o passado. Há inclusive quem sustente que o Universo não dá marcha-a-ré e que a causalidade não se aplica no reino quântico.
 
Por outro lado, algumas teorias contestam a ideia de que a seta do tempo seja uma propriedade fundamental da natureza. Considerar que o futuro surge do presente implica aceitar um presente "fixo", ao menos no momento específico chamado presente, mas a professora Joan Vaccaro, da Universidade Griffith, sustenta que suas equações demonstram que nunca há "fixidez", só fluxo que empurra o passado para o futuro, impulsionado pela "agitação" intrínseca do mundo subatômico. 
 
Ela argumenta que a assimetria do tempo pode ter origem no comportamento sutil das partículas subatômicas, e que o tempo não é apenas um fluxo unidirecional, mas um fenômeno emergente impulsionado pela "agitação" quântica. Se confirmadas, suas equações poderiam redefinir nossa compreensão sobre a dinâmica temporal e abrir novas perspectivas para o estudo das viagens no tempo. 
 
O futuro pode ser mais maleável do que imaginamos, mas as chaves para essa compreensão ainda estão escondidas nos mistérios da física quântica.
 
Continua...

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

PREVENIR ACIDENTES É DEVER DE TODOS (OU: QUEM AVISA AMIGO É)

VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT.

Há quem diga que a sorte só bate à porta uma vez e quem diga que às vezes a vida nos dá uma segunda chance, mas se a aproveitamos ou não, aí é outra conversa.


Em tempos de polarização exacerbada e com as eleições se aproximando, é comum a gente falar ou escrever algo ditado pelo fígado, sem ouvir a voz da razão. Aliás, isso me lembra um filme no qual o protagonista se arrepende de postar uma carta (os detalhes não vêm ao caso) e se vê em em apuros quando tenta recuperá-la da caixa de correio. 

 

O correio tradicional foi superado pelo email, que foi superado por apps mensageiros, como o onipresente WhatsApp, onde digitamos a mensagem, tocamos na setinha verde e...  um abraço. O o Gmail oferece uma espécie de cláusula de arrependimento, mas é preciso ser rápido no gatilho para selecionar a opção "Desfazer", que fica disponível por poucos segundos.

 

Tudo seria diferente se pudéssemos simplesmente voltar no tempo e virar à esquerda na encruzilhada da vida em que optamos por dobrar à direita. Como eu mencionei na sequência publicada sob o título A Computação Quântica e a Viagem no Tempo (se você não leu, clique aqui para acessar o capítulo de abertura), viagens no tempo, recorrentes nos livros e filmes de ficção científica, são uma possibilidade que a Teoria da Relatividade de Einstein até admite, mas com ressalvas.

 

O deus grego Cronos devorava os próprios filhos, daí usarmos o termo “cronológico” para situar os eventos em nossa linha temporal. Digo "nossa" porque não sabemos ao certo se o tempo passa para nós, se nós passamos por ele, ou mesmo se o tempo é apenas um conceito criado para colocar alguma ordem no caos. Mas "vajamos" rumo ao futuro desde o instante em que nascemos e "visitamos" o passado quando olhamos as estrelas (o que vemos no céu é a luz que elas emitiram há dezenas, centenas, milhares, milhões, ou mesmo bilhões de anos). 

 

Até não muito tempo atrás, achava-se que a "seta termodinâmica do tempo" só apontava para o futuro, já que quando dois corpos ou sistemas com temperaturas diferentes são colocados em contato (como quando se adiciona gelo a uma bebida) o mais quente esfria e o mais frio esquenta, até o equilíbrio termodinâmico ser alcançado (esse fenômeno foi batizado de "seta do tempo", ou, tecnicamente, "seta termodinâmica do tempo", pelo astrônomo britânico Arthur Eddington). 


A Segunda Lei da Termodinâmica explica porque um vaso que cai e se parte em mil pedaços não volta intacto a seu pedestal, mas experimentos combinando teorias quânticas com termodinâmica levaram à termodinâmica quântica, à luz da qual é possível inverter a seta termodinâmica do tempo usando dois sistemas quanticamente correlacionados e com temperaturas distintas (fenômeno corriqueiro no microuniverso dos átomos e suas partículas, onde núcleos atômicos desempenham os papeis de "corpo quente" e "corpo frio"). Quando os dois sistemas interagem entre si, o mais frio esfria e mais quente esquenta, contrariando a seta termodinâmica do tempo e, por conseguinte, a Segunda Lei da Termodinâmica. Em tese, isso significa que o tempo pode, sim, andar para trás — pelo menos no diminuto universo atômico e subatômico.

 

O espaço-tempo é uma espécie de pano de fundo para todos os fenômenos do Universo, onde o trânsito pelas três dimensões espaciais se dá por "vias de mão dupla". Mas na quarta dimensão — que acontece de ser justamente a do tempo — essa via é de mão única. Ou seria. Talvez a seta do tempo não precise "apontar" necessariamente para o futuro, e talvez um dia as viagens no tempo se tornem tão corriqueiras quanto os voos internacionais (que eram uma possibilidade inconcebível até o início do século passado). 


Os físicos veem o tempo como algo que permite a evolução de um fenômeno, daí ser inexata a "Marcha do Progresso" (vide figura que ilustra esta postagem). Mas o tempo é o que está por trás de um fluxo de eventos sucessivos. Se assumirmos que esse fluxo ocorre numa direção preferencial, o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje. E "esse hoje", quando deixa de existir (isto é, quando vira ontem), impõe novos limites ao novo presente (ou futuro, como queiram). Pelo fato de esse fluxo rumo ao futuro depender do presente que virou passado, o Universo evolui lentamente, sempre com o tempo impondo limites ao que pode acontecer.

 

O tempo é isso, familiar e íntimo, e sua força nos arrasta”, anotou o físico italiano Carlo Rovelli no livro A Ordem do Tempo. Rovelli tem como campo de pesquisa a Gravidade Quântica em loop, que descreve a gravidade em níveis subatômicos, o que permite descrever o tempo quanticamente e teorizar sobre sua ausência. Comprovar essas teorias talvez seja apenas uma questão de tempo, mas onde há um físico teórico sempre existe uma possibilidade — a princípio teórica, pois a palavra final cabe aos físicos experimentais. 

 

Da feita que "shit happens" e a viagem ao passado ainda não é possível, leia, releia e torne a ler os emails e as mensagens de WhatsApp antes de clicar em "Enviar". Prevenir acidentes é dever de todos, e quem avisa, amigo é.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 4ª PARTE

A TRAGÉDIA DA VIDA É QUE FICAMOS VELHOS CEDO DEMAIS E SÁBIOS TARDE DEMAIS
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Entropia significa "desordem em um sistema físico". Um vaso sobre a mesa é um exemplo de baixa entropia; se ele cai e se espatifa, a entropia cresce de maneira irreversível, pois os cacos não se juntam espontaneamente. 

Uma vez que a entropia de um sistema só aumenta, conclui-se que a seta do tempo só aponta para o futuro. Mas os princípios da termodinâmica foram estabelecidos estabelecidos no século XIX com base em máquinas a vapor, e não se aplicam ao Universo infinito, onde o que define a passagem do tempo não é o aumento da entropia, mas a expansão do cosmos em todas as direções.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A condenação de Bolsonaro já não é uma questão de "se", mas de "quando". O capetão e seus advogados recorrem ao jus sperniandi. É função dos causídicos defender seus clientes, mas daí a insultar a inteligência alheia vai uma longa distância. Diante do calhamaço de provas coletadas pela PF, alegar que o indiciamento e a denúncia se basearam unicamente na delação de Mauro Cid é pura ficção. 
O argumento segundo o qual o golpe não passou dos atos preparatórios não faz sentido. Como bem anotou Paulo Gonet, "quando um presidente reúne a cúpula das Forças Armadas para expor planejamento minuciosamente concebido para romper com a ordem constitucional, tem-se ato de insurreição em curso". Mais próximo da cadeia que da urna e sem perspectivas no Judiciário, Bolsonaro se agarra à proposta da anistia — que subiu no telhado com a denúncia — como um náufrago que abraça um jacaré imaginando tratar-se de um tronco.
A capacidade de se iludir tornou-se vital para o ex-presidente, que, mimetizando o comportamento adotado por Trump e Lula na época em que fizeram suas excursões pelos nove círculos do inferno, alega ser vítima de perseguição política. A um passo do banco dos réus, age como se estivesse prestes a repetir seu ídolo retomando o trono, mas a legislação americana permitiria que Trump governasse de dentro da cadeia, ao passo que a inelegibilidade proibiria o "mito" de pedir votos mesmo que ainda estivesse solto em 2026. Para não ser trocado por um Plano B da direita, ele tenciona repetir tudo o que condenou no arquirrival petista em 2018 — Lula só autorizou o PT a substituir seu nome pelo de Haddad quando o TSE finalmente negou o registro de sua candidatura, e o capetão, marchando rumo à prisão, diz que levará sua candidatura ao TSE em 2026. Se colocassem a cara na vitrine, as alternativas do conservadorismo inibiriam a manobra. Ficando na encolha, os devotos atribuem ao "mito" a mística de um messias, abençoando com suas orações a futura ascensão à cabeça de chapa de um vice extraído do bolso do colete ou da árvore genealógica da Famíglia Bolsonaro.
O sigilo da delação de Muro Cid foi levantado na quarta-feira, comprovando que a higidez da denúncia contra o alto-comando do golpe não se escora somente no suor de um dedo, mas também em testemunhos de ex-comandantes militares, áudios, vídeos, mensagens, documentos e o diabo a quatro. Cid pediu perdão judicial em troca da delação e a extensão dos benefícios ao pai, à mulher e à filha. O tamanho do prêmio, que será definido no final do julgamento, depende do peso que os ministros da 1ª Turma do STF atribuírem à colaboração. 
A PF já indiciou Cid nos inquéritos da falsificação de cartões de vacinas, do roubo das joias e da tentativa de golpe. Conforme o avanço das apurações, os investigadores se deram conta de que ele revelava mais do que gostaria e muito menos do que sabia. A PF chegou a pedir a revogação do acordo, mas a PGR o avalizou, e o colaborador virou fornecedor de material para a construção de questões processuais da defesa do ex-chefe. Mas já está entendido que ele se tornou um delator menos premiado do que ele próprio gostaria.

O conceito de seta do tempo surgiu da diferença de entropia entre o passado e o futuro. Ainda não se sabe exatamente como ela emerge das interações entre partículas. Na escala microscópica, onde tudo é muito "fluido", o tempo pode ser um conceito relativo, e diversos experimentos já demonstraram a reversão do fluxo temporal. Já na escala humana, nem um vaso quebrado "se desquebra", nem uma pedra jogada no lago pula de volta para a mão de quem a jogou.

A tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flui do passado para o futuro, mas as leis da física não embasam essa interpretação, as equações de Einstein não definem um sentido único para a "seta do tempo" e tampouco se sabe onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. 

Dada a possibilidade de o tempo avançar ou retroceder de forma não linear, a manipulação do fluxo temporal tem implicações diretas sobre a compreensão dos buracos de minhoca e outras estruturas cósmicas que, permitindo, em tese, as tão sonhadas viagens no tempo e fortalecendo teorias como as do multiverso e dos múltiplos mundos, onde realidades alternativas podem coexistir.

À luz da relatividade, voltar ao passado é matematicamente admissível (mesmo que em circunstâncias muito específicas), e a teoria dos universos paralelos oferece uma possível solução para os paradoxos temporaisMas a pergunta que se coloca é: será que o tempo existe realmente ou não passa de uma convenção criada para facilitar a compreensão da realidade?  

Continua...

terça-feira, 6 de agosto de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE VIII)

vivemos tempos estranhos quando os fatos se calam par não ofender as versões, e os sábios silenciam para não constranger a estupidez.

Sabe-se que a história da maçã é pura gentileza 
— o Adão comeu a Eva e a maçã de sobremesa —, mas não se sabe o que o arcebispo irlandês James Ussher teria bebido, fumado ou cheirado quando anotou em "The Annals of the World" que Deus criou o mundo às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.

Seria mais fácil desvendar esses e outros mistérios se as viagens no tempo fossem tão corriqueiras quanto os voos internacionais — que eram inconcebíveis até o início do século passado. Talvez seja apenas uma questão de tempo, pois não há nada como o tempo para passar (isso se ele existir, naturalmente).

A contagem do tempo começou quando nossos ancestrais perceberam padrões no amanhecer e no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Os ciclos diurnos e noturnos foram provavelmente as primeiras unidades de tempo usadas pelos humanos, e as fases lunares, uma das primeiras maneiras de dividir o tempo em períodos maiores, o que ensejou a criação dos calendários lunares. 


Os primeiros calendários foram desenvolvidos sumérios — que habitavam a região que hoje corresponde ao sul do Iraque —, milênios antes da era cristã. Mais ou menos na mesma época, os egípcios criaram um calendário baseado na estrela Sirius, que só era avistada nas madrugadas durante o inicio da enchente do rio Nilo, que não acontecia todos os anos e, quando acontecia, não começava sempre no mesmo dia. 


Mais adiante, os babilônios criaram um calendário lunissolar, combinando meses lunares com ajustes periódicos baseados no ciclo solar e um mês adicional em alguns anos, visando corrigir a discrepância entre o ano lunar e o solar. Já os maias tinham um calendário com múltiplos ciclos, incluindo o Tzolk'in (calendário sagrado de 260 dias) e o Haab' (calendário civil de 365 dias), além do "Calendário de Contagem Longa," que mapeava períodos muito mais longos.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Há quem fale em "estratégia" diplomática ao mencionar o histórico do Itamaraty para analisar a postura de Lula e de seu assessor Celso Amorim na questão, mas isso não faz sentido. Carlos Graieb escreveu em Lula, sócio majoritário da tragédia venezuelana, assim como Ricardo Kertzman em Celso Amorim é mais que “observador” da farsa eleitoral de Maduro o mesmo que Rodolfo Borges escreveu n'O Antagonista: "o governo Lula faz parte da tragédia venezuelana não como mediador, mas como cúmplice."
O Palácio do Planalto não reconhece a vitória de Urrutia — como fizeram Estados Unidos, Argentina e Uruguai, entre outros — não por conta de uma estratégia para a saída da crise, mas por fazer parte da crise. No momento em que admitir que Maduro fraudou a eleição, o governo brasileiro reconhecerá automaticamente o que já deveria ter reconhecido há meses: não há democracia na Venezuela, e não é de hoje.
Faz bem mais de uma década que a Venezuela não sabe o que é democracia, mas Lula recebeu Maduro com pompas de chefe de Estado em maio de 2023 e lhe deu uma dica pública de como lidar com o que ele considerava críticas injustas aos desmandos do regime: "Companheiro Maduro, é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo. É preciso que você construa sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor."
A narrativa que Maduro encontrou para explicar a fraude eleitoral é que o "Golias Elon Musk" foi responsável pelo "primeiro golpe de Estado cibernético na história da humanidade". Será que cola, Lula?
É constrangedor ver o chanceler paralelo Celso Amorim manter um discurso de confiança nas instituições venezuelanas, dominadas há décadas pelo chavismo. Qualquer benefício da alegada mediação brasileira na crise venezuelana ocorrerá por fruto de golpes de sorte. O governo Lula não está nessa condição por se comportar de forma imparcial ou fazer cálculos diplomáticos, mas por ter um lado bem claro nessa história. É por isso que o Brasil toma conta hoje das embaixadas da Argentina e do Peru, cujos representantes foram expulsos com outros que ousaram questionar de fato a "vitória" de Maduro. 
Não é uma questão de solidariedade, mas de responsabilidade pelo que está acontecendo na Venezuela neste momento.
 
Consideramos o tempo como o plano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. De acordo com o princípio da causalidade (e a sabedoria do Conselheiro Acácio), as causas sempre precedem as consequências, razão pela qual o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje e o que acontece hoje faz o mesmo em relação ao que acontecerá amanhã. 

Se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se esse fluxo de eventos rumo ao futuro depende do presente que virou passado, o tempo sempre imporá limites ao que pode acontecer. Mas será mesmo que a seta do tempo aponta sempre para o futuro?
 
Como eu mencionei nos capítulos anteriores — mas repito em atenção a quem não acompanhou esta sequência desde o começo —, todos viajamos rumo ao futuro do momento em que nascemos até o momento em que morremos (o que existe depois — se é que existe — já foi discutido em outra sequência. Isso filosoficamente falando, já que, cientificamente falando, Einstein definiu o universo como um bloco quadridimensional estático que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um “agora” especial. 
 
Para o físico Julian Barbour, o universo tem "dois lados" e o tempo "corre nos dois sentidos ao mesmo tempo". Cada direção é uma seta cuja origem é zero. À medida que a seta da direita aumenta até o infinito, a seta da esquerda aponta para o infinito negativo. 
Em outras palavras, existe um universo onde o tempo corre do que chamamos de passado para o que chamamos de futuro e outro em que ele se move do futuro para o passado. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, já que "tempo é mudança". 

Mas se o que vemos acontecer não for o tempo, e sim a mudança, o tempo não existe. E ainda que ele exista, o universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido o tempo se mover numa única direção. Isso parece coisa de ficção científica, mas é uma teoria séria. 

Escorado no princípio da entropia e nas leis da termodinâmica, Barbour sustenta que a própria natureza do Big Bang fez o tempo fluir em direções opostas. Isso faz sentido, já que a física associa o tempo ao aumento da entropia num sistema fechado, que sempre evolui para um estado mais caótico. A questão é que as leis da termodinâmica foram criadas em 1824, com base em cilindros e máquinas em que a energia e o calor passam de um lugar para outro e se dissipam parcialmente durante o processo. 

Em 1865, o físico Rudolf Clausius descobriu que o calor só pode passar de um corpo frio para um corpo quente se ocorrer alguma mudança em torno desses corpos. Assim, a entropia pode aumentar, mas não pode diminuir. Só que nem tudo que se aplica a um espaço delimitado também se aplica a um universo infinito. 

O que diferencia os objetos quentes dos frios é agitação de suas moléculas. Uma bola pode rolar montanha abaixo ou ser chutada de volta para o pico, mas o calor não pode fluir do frio para o quente. Quando uma molécula de água colide com outra, a flecha do tempo desaparece, já que a entropia é um conceito equivalente ao caos, e o caos é irreversível. 

ObservaçãoQuanto mais o tempo passa, mais a entropia do Universo aumenta. O que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, mas o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço. Segundo Rovelli, a entropia é a única lei básica da física que distingue o passado do futuro. 

Como a entropia só pode aumentar, a conclusão é de que o tempo só pode avançar na mesma direção em que a entropia aumenta, mas Barbour esclarece que esses conceitos foram observados em um contexto "normal" e, portanto, se aplicam ao planeta, à matéria, às moléculas e a tudo mais. Ao colapsarem, as partículas que compõem os objetos viajam em diferentes direções e se unem a outras partículas, formando novas estruturas mais complexas.

Ao fazer a matéria e o tempo se moverem em duas direções opostas, o Big Bang criou um "universo espelho" onde tudo acontece ao contrário de como acontece no nosso, e tudo que lá existe é o progresso retrocedendo em direção ao ano zero. 

Conclui no próximo capítulo.

sábado, 5 de abril de 2025

SOBRE O "SENTIDO HORÁRIO" DOS PONTEIROS DOS RELÓGIO

NÃO EXISTE TEMPO ABSOLUTO ÚNICO; CADA INDIVÍDUO TEM SUA PRÓPRIA MEDIDA DE TEMPO, QUE DEPENDE DE ONDE ELE SE ENCONTRA E DE COMO ELE ESTÁ SE MOVENDO.

Quando pensamos em tempo, costumamos imaginar uma linha que se estende do passado para o futuro. No entanto, como eu mencionei várias vezes na sequência sobre viagens no tempo, a "flecha do tempo" (ou "seta termodinâmica do tempo") aponta do passado para o futuro porque a tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flua nesse sentido. Mas nem as equações de Einstein definem um sentido único para ela, nem as leis da física embasam tal interpretação.


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A avaliação geral é de que a denúncia da PGR contra Bolsonaro é robusta, embora a divergência de Fux do voto do relator sugira que a condenação possa não ser unânime. Mas mesmo que o STF tenha o entendimento de que decisões das Turmas possam ser levados ao plenário se dois ministros defenderem absolvição, nada indica haja um clima de divergência ou que alguém mais entenda que o processo deva ir ao plenário. O próprio Fux compôs a unanimidade que transformou em ação penal a denúncia da PGR e enalteceu a qualidade do voto ácido de Moraes, que "não deixou pedra sobre pedra". Não são, salvo melhor juízo, palavras de quem pretende inocentar culpados.

Bolsonaro e seus apoiadores continuarão tentando obter apoio popular, constranger o STF, tumultuar a instrução processual, visando procrastinar a sentença condenatória. No entanto, aínda que o acordo de delação de Cid fosse anulado, o prejuízo seria do delator, já que as provas obtidas a partir da colaboração permaneceriam válidas. Além disso, salta aos olhos que, não fossem alguns militares e políticos cientes de seus deveres e tementes à lei, talvez estivéssemos sob um regime de exceção ou em plena guerra civil. 

Reduzir a participação de Débora Santos à pichação da estátua da Justiça é negar óbvio, uma vez que a moça estava ciente do objetivo golpista de seus atos contra o Estado Democrático de Direito — se isso justifica ou não uma pena de 14 anos de prisão é outra conversa. 

O próprio Bolsonaro, encalacrado até o pescoço por provas materiais e testemunhais, o "mito" insiste que tudo não passa de narrativa, de "pesca probatória" dos "ditadores" que o perseguem.

Para desmontar essa falácia, bastaria perguntar ao ex-presidente se ele foi ou não ameaçado de prisão pelo então comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, e se foi, por quê?


Num evento organizado pela revista New Scientist, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda de uma ponta a outra do palco, pendurou uma caneta no meio e disse: "É aqui que estamos; à direita fica o futuro e à esquerda, o passado. O tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida e que podemos medir com relógios". E acrescentou: "Quase tudo que eu falei está errado. É como se eu dissesse que a Terra é plana."

 

Não se sabe exatamente onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. Os princípios da termodinâmica, formulados no século XIX com base em máquinas a vapor, não se aplicam ao Universo, onde o que define a passagem do tempo é a expansão do cosmos em todas as direções. Mas o assunto deste post não tem a ver com a seta do tempo propriamente dita, e sim com os ponteiros dos relógios, que se movimentam sempre da esquerda para a direita. E a pergunta que se coloca é: por quê? 


A resposta simples é que se trata de uma convenção, e o princípio filosófico conhecido como Navalha de Occam sugere que, em havendo diversas hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências, a mais simples deve ser a correta. No entanto, o assim chamado "sentido horário" não é ditado pelas leis da física ou da matemática, nem tampouco pela nossa percepção do tempo. A explicação mais simples é que a origem desse movimento remonta aos antigos relógios de sol. 


Os instrumentos criados pelos antigos egípcios para medir a passagem do tempo eram baseados na sombra produzida pela luz solar em uma haste. Mais adiante, modelos que usavam a água — como as clepsidras — e areia — como as ampulhetas — foram largamente utilizados por diversas civilizações antigas, mas isso é outra conversa.

 

Acredita-se que o primeiro relógio mecânico foi idealizado pelo Papa Silvestre II, no século IX da nossa era, e que o primeiro "relógio-pulseira" foi encomendado pela irmã do imperador Napoleão Bonaparte ao relojoeiro Abraham-Louis Bréguet (embora alguns historiadores atribuam sua criação a Antoni Patek e Adrien Philippe, fundadores da conceituada marca Patek-Phillipe). Já o primeiro modelo masculino teria sido criado por Louis Cartier a pedido do inventor mineiro Alberto Santos Dumont (na verdade, o que o joalheiro fez foi adaptar uma correia de couro ao maior relógio de pulso feminino de sua coleção). 

 

No final dos anos 1960, o mecanismo da maioria dos relógios de pulso continha uma mola — para gerar energia —, uma espécie de massa oscilatória — para oferecer referência de tempo —, dois ou três ponteiros, um mostrador enumerado e diversas engrenagens. Tempos depois, a Bulova substituiu a roda de balanço por um transistor oscilador que, alimentado por uma bateria, mantinha um diapasão vibrando a algumas centenas de hertz, e mais adiante o cristal de quartzo — cujas propriedades já eram conhecidas e usadas para proporcionar a frequência exata em aparelhos de rádio e computadores — substituiu o diapasão, agregando maior precisão ao mecanismo. Mas isso também é outra conversa.

 

Os ponteiros dos relógios se movem da esquerda para a direita porque foram inspirados nos relógios de sol, e estes foram criados por civilizações que habitavam o hemisfério norte, onde as sombras projetadas pela luz solar se movem da esquerda para a direita ao longo do dia. Em última análise, o sentido dos ponteiros é uma questão cultural — se os relógios tivessem surgido no hemisfério sul, o sentido horário seria o que hoje chamamos de sentido anti-horário. 

 

Com exceção de Vênus e Urano, os planetas do Sistema Solar giram no sentido "anti-horário". O movimento de rotação da Terra se dá de oeste para leste, o que é essencial para a alternância entre dias e noites, além de influenciar marés, circulação dos ventos e diversos outros processos naturais. Cada rotação completa leva aproximadamente 24 horas, e cada translação — volta completa que o planeta dá em torno do Sol —, 365 dias e 6 horas (esse acréscimo gradual de tempo resulta em um dia extra a cada quatro anos, nos assim chamados "anos bissextos").


Observação: Na Roma Antiga, o dia 24 de fevereiro era chamado de "sexto die ante calendas martias" (sexto dia antes das calendas de março). Quando Júlio César reformou o calendário para resolver problemas de desalinhamento com as estações, ficou decidido que a cada quatro anos seria adicionado um dia extra após esse "sexto dia",  ou "bis sexto die" (literalmente "o sexto dia repetido" ou "duas vezes o sexto dia"), daí o termo "bissexto". 

 

A Terra dá uma volta competa em torno do próprio eixo em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, mas também se move em torno do Sol, e a posição do Sol mo céu varia conforme a estação do ano. Assim, estabeleceu-se que a duração dia solar médio em 24 horas. Todavia, as variações que a Terra sofre devido a fatores como a interação gravitacional com a Lua e o Sol e a distribuição de massas no planeta exigem que um ajuste de segundos bissextos seja feito de tempos em tempos, para manter a sincronia entre os relógios atômicos e a rotação real da Terra.