quinta-feira, 13 de março de 2008

Gato por lebre (ou coelho)

A despeito da tradicional distribuição de ovos de chocolate e afins, há quem prefira aproveitar a Páscoa para presentear amigos e parentes com outro tipo de produto. Antes de repassar algumas dicas que eu reputo interessantes, não custa lembrar que o "bom vendedor" costuma se vangloriar de sua capacidade de vender areia no deserto ou gelo para esquimó, mas essa premissa, se bem analisada, deixa escapar um laivo de fraude, de enganação. Não se pode generalizar, evidentemente, mas é público e notório que muitos (maus) comerciantes, por incompetência ou pura malandragem, lesam o consumidor induzindo-o a erros que geralmente só são descobertos tarde demais. E no âmbito da tecnologia, devido à complexidade dos produtos e do surgimento constante de novidades, a coisa é ainda pior.
Economia se obtém comparando preços e condições de pagamento entre produtos de marcas, modelos e recursos equivalentes - afinal, recebemos aquilo pelo que pagamos, e olhe lá. Então, desconfie de ofertas mirabolantes e preços muito abaixo da média do mercado. Para atrair clientes, muitas lojas se valem de ofertas enganosas, ou seja, acenam com um "negócio da china" que, na verdade, é um "presente de grego".
PCs que custam menos do que uma boa placa-mãe, além de integrarem componentes de qualidade duvidosa, geralmente são vendidos sem monitor ou SO. A menos você pretenda mesmo adquirir um aparelho nessas condições (para aproveitar um monitor antigo ou instalar uma cópia do Windows cuja licença já possui), não tardará a perceber que levou gato por lebre. E se o vendedor se oferecer para instalar o sistema de graça e ainda lhe dar de brinde um pacote de softwares, desconfie: veja se cópia do Windows não é pirata e se os tais aplicativos não passam de um conjunto de freewares que você pode baixar da Internet sem custo algum.
Os portáteis estão com preços palatáveis, mas escolher um note requer cuidados adicionais: máquinas comercializadas por importadores independentes quase nunca são garantidas pelos fabricantes, mesmo se de marcas conhecidas e representadas aqui no Brasil (em caso de problemas, você terá de recorrer à loja, que talvez precise enviar o aparelho para ser consertado no exterior, e o molho acaba saindo mais caro que o peixe). Além disso, optar por um portátil com Linux ou Free-Dos para depois instalar o Windows não costuma ser boa política, porque esse procedimento pode exigir auxílio especializado (a custo adicional) - isso sem falar na configuração de hardware, já que um eventual upgrade em um note "fraquinho", mesmo quando tecnicamente possível, é um procedimento caro e é complicado de se fazer.
Pontas de estoque e peças de mostruário - comercializadas "no estado" por preços mais em conta que seus equivalentes "na embalagem" - normalmente apresentam danos decorrentes do tempo em que ficaram expostos e sujeitos ao manuseio nem sempre cuidadoso dos curiosos (em alguns casos, o comprador não tem direito sequer à garantia do fabricante).
E por falar em garantia, dizer que ela "cobre tudo" é uma mentira deslavada. Na verdade, ela não cobre quase nada - e quando o faz, a gratuidade no reparo se limita a defeitos de fabricação, que não raro são atribuídos ao mau uso do aparelho, danos físicos ou acidentes. A título de ilustração, quando meu celular Sony-Ericsson deixou de funcionar (depois de apenas 10 meses de uso), a assistência técnica reputou o problema a danos decorrentes de manutenção indevida - feita por técnicos não qualificados - embora o aparelho nunca tivesse apresentado problemas e, portanto, jamais houvesse sido aberto por quem quer que seja.
Outro artifício utilizado por comerciantes aéticos consiste em oferecer "descontos" à custa da redução de recursos ou da retirada de acessórios. Nunca feche negócio sem antes pesquisar os preços e condições de pagamento oferecidos pela concorrência. E se o vendedor lhe assegurar que aquele modelo é "exclusivo” da loja, fique esperto: muitos produtos "personalizados" não trazem vantagem alguma, apenas custam mais caro (como se costuma dizer, paga-se pela etiqueta) e proporcionam melhor margem de lucro ao lojista - e uma comissão mais polpuda ao balconista.
Crédito fácil, pré-aprovado e sem comprovação de renda (de preferência com a primeira parcela a perder de vista) é meio caminho andado para a consumação da venda - muitas lojas oferecem planos de pagamento em suaves prestações, dividindo o preço à vista em 5, 10 ou 12 vezes "sem acréscimos". Não caia nessa: se você tiver condições, pague à vista e exija um abatimento; do contrário, opte pelo maior número de parcelas que puder - desde que realmente não haja acréscimos - porque os encargos do financiamento já estarão embutidos no preço.
Não custa nada lembrar que a aquisição de acessórios e complementos pode fulminar a economia obtida no produto principal: uma "capinha" para celular, por exemplo, custa bem mais nas redes credenciadas pelas operadoras do que fora delas (não estou falando em barraqueiros ou marreteiros, que vendem produtos de origem e qualidade discutíveis, mas sim de lojas regularmente estabelecidas).
Se você se sentir lezado, vá até uma unidade do PROCON e registre sua reclamação - em São Paulo, capital, é mais fácil ir ao POUPATEMPO (Sé, Santo Amaro ou Itaquera). Leve seus documentos pessoais (CIC e RG) e outros que fundamente a queixa (notas fiscais, pedidos, anúncios, ou mesmo o próprio produto). No caso de serviços, informe o nome e o endereço da empresa prestadora, para que o órgão possa entrar em contato.
Boas compras.